A escassez de vagas em unidades de Terapia Intensiva (UTIs) nos hopitais públicos do Distrito Federal é preocupante. Apenas no ano passado, 169 pessoas morreram na fila de espera de leitos nestas unidades, segundo Relatório de Atividades da Secretaria de Saúde. O número representa uma média de 14 óbitos por mês. E neste ano, as expectativas não são nada animadoras. A Defensoria Pública já entrou com 326 ações juidicais na tentativa de conseguir internação para pacientes em estado grave. Ontem, o Jornal de Brasília mostrou que no ano passado foram registradas 28,6 mil reclamações na rede pública: média de três por hora.Segundo o defensor e coordenador do Núcleo de Saúde, Ramiro Nóbrega, este mês, já foram feitos mais de 30 pedidos emergenciais de transferência para UTIs. “Hoje (ontem), já fiz mais de seis atendimentos dessa natureza. Sempre temos esta demanda. Este tem sido um período de muitos pedidos”, salientou Nóbrega. E a realidade atinge até os casos que exigem mais pressa do que o normal. Como o da mãe de Elis Maria Vitória, 28 anos. Marlúcia, 47, aguarda na fila para conseguir leito no Instituto do Coração (Incor), unidade conveniada ao GDF. Antes de ir à Defensoria, a moradora do Riacho Fundo I não conseguia sequer um retorno do hospital. Contudo, ontem teve a informação de que não há vagas por lá. Portanto, até segunda ordem, sua mãe, que sofre de aneurisma sacular abdominal grave, deve esperar mais algum tempo para a transferência. Hoje, ela está no Hran.
“O aneurisma está crescendo. Estamos desesperados. Há alguns dias, estava com quatro centímetros. Agora, aumentou para sete. Se ela não fizer a cirurgia, corre risco de morte. Nos sentimos desamparados pelo Estado”, desabafou. Ao todo, o DF tem hoje 430 leitos de UTI disponíveis para pacientes da rede pública, contando vagas na rede conveniada e na rede contratada, ou seja, hospitais particulares. Porém, além da população da região, que já atingiu a marca dos mais de 2,6 milhões de habitantes, muitos casos graves de outros estados são encaminhados às unidades daqui, inclusive pessoas de Goiás e Minas Gerais. Por isso, o cenário pode ser pior do que se imagina.Irmã de um jovem de 28 anos que sofre de esquizofrenia grave, Janaína Campos, 26 anos, conta, com tristeza, a saga que tem passado para conseguir leito na UTI do Hospital de Base: “Ao longo de vários anos, ele vem sendo internado. Contudo, o caso se agravou. E, nos piores dias, ele foi mandado para a casa, porque a chefe do hospital disse que não recebe mais ele lá”. Agora, o rapaz está no Hospital de Pronto-Atendimento Psiquiátrico (Hpap). Mas precisa de sonda, o que não é oferecido na unidade. Ainda de acordo com a estudante, os médicos disseram que ele precisa ir para uma UTI.“Ele não come há dias. Está sem fome, sem sede. Tem pneumonia, anemia e está desidratado. Sabemos que vai morrer se continuar assim. Mas ninguém faz nada. Minha esperança é sair daqui com a ação nas mãos e uma resposta rápida”, apontou.
“Então faça a denúncia”
Durante a inauguração de uma ala especializada em lábios leporinos no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), questionado sobre a quantidade de mortes em decorrência da falta de UTIs, o secretário de Saúde, Rafael Barbosa, declarou ao Jornal de Brasília: “Então faça a denúncia aos órgãos competentes”, disse, de forma ríspida.Visivelmente alterado, o responsável pela pasta virou as costas e saiu andando, sem responder aos questionamentos. Mais tarde, a assessoria do órgão pediu desculpas pelo comportamento do secretário. Além disso, acrescentou que desde 2009 o número de leitos em UTIs praticamente dobrou: passando de 206 para 430. No Hospital de Base devem ser criadas mais 26 vagas até o fim do mês que vem. Na unidade de Santa Maria mais 21 devem ser abertas. Entretanto, não há previsão para a entrega.