Laudos do Instituto de Criminalística indicam evidências colhidas em materiais apreendidos pela operação, que completa um ano nesta quarta
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Há exatos 366 dias, policiais civis e promotores deflagravam a Operação Drácon, o maior escândalo do Legislativo do Distrito Federal até hoje. Acusados de desvios em emendas parlamentares destinadas à saúde, cinco deputados distritais entraram no alvo das investigações, entre eles a então presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão (PPS). Durante esse período, eles foram denunciados e se tornaram réus. Mas, passado um ano, ainda não há desdobramentos na Justiça.
Promotores que atuam no caso, no entanto, estão convictos de que haverá condenações tão logo o processo se aproxime de um desfecho judicial. Documentos anexados à ação revelam que o Instituto de Criminalística da Polícia Civil do Distrito Federal encontrou indícios das acusações sustentadas pelos integrantes do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT). Em um documento de 233 páginas. Os peritos criminais detalham os resultados de 21 perícias realizadas em materiais apreendidos na Drácon. Eles analisaram computadores, celulares, tablets, pen-drives, CDs e DVDs.
Em dois laudos, os policiais afirmam que “foram extraídos dados relacionados ao objetivo pericial”. Eles não detalham os itens encontrados, mas, de um aparelho celular danificado na tela e na carcaça, e ainda sem cartões de memória e SIM, retiraram registros de contatos e de chamadas, lista de aplicativos instalados, contas de usuários, histórico de navegação, itens pesquisados, e-mails e mensagens enviadas via SMS e Facebook.
Já no relatório do trabalho feito em dois pen-drives, os peritos extraíram dados de pastas denominadas “Faturamento.rar”, “Enfermagem.rar” e CaixaPostal.rar”. Dentro deste último havia “grande quantidade de e-mails”, segundo os integrantes da Polícia Civil. O documento também diz que “os arquivos podem estar relacionados ao objetivo pericial”, ou seja, conter provas contra os réus.
Veja trechos do relatório pericial anexado ao processo da Drácon
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Uma cópia de cada uma das mídias permanece arquivada no Instituto de Criminalística. Os documentos não indicam o local de apreensão de cada material, mas tudo o que passou por perícia foi apreendido e encaminhado à Justiça pelos promotores e policiais civis ligados à Drácon.
O MPDFT diz que espera uma atuação serena do Judiciário, “respeitando o interesse público em ver a questão resolvida da forma mais rápida possível, sempre respeitando, é claro, os direitos dos acusados”. Para os promotores envolvidos no caso, “as provas apresentadas são consistentes e capazes de levar à condenação de todos os acusados”.
Segundo os integrantes do MPDFT, a acusação de corrupção passiva feita contra os deputados se baseia em provas apresentadas com a denúncia e outras que decorrem do resultado das medidas cautelares determinadas judicialmente.
Recursos ainda sob análise
Apesar do detalhamento apresentado pelos promotores e de um ano ter se passado desde que a ação foi desencadeada, o caso teve pouco andamento no Judiciário. Os advogados de Celina e Cristiano Araújo (PSD) impetraram um recurso especial questionando as acusações e tentam anular o processo com a justificativa de “inépcia da denúncia”. Eles alegam que as provas são fracas.
Ainda há a possibilidade de o recurso ser negado no TJDFT e os advogados apelarem ao Superior Tribunal de Justiça (STJ). Apesar disso, este mês foi aberta a ação penal contra os distritais, o que possibilita a coleta de depoimentos de testemunhas. Mas não há prazo para interrogatório dos réus. Além de Cristiano e Celina, respondem criminalmente Raimundo Ribeiro (PPS), Julio Cesar (PRB) e Bispo Renato Andrade (PR).
O grupo foi gravado pela também deputada Liliane Roriz (PTB), à época vice-presidente da CLDF, supostamente negociando a aprovação de emendas parlamentares para a área de saúde em troca de propina. Os deputados teriam liberado R$ 30 milhões, que foram utilizados para pagar prestadores de serviço de UTI na rede pública.
Em março deste ano, o Conselho Especial do Tribunal de Justiça e Territórios (TJDFT) tornou os cinco parlamentares réus. Com isso, eles passaram a responder criminalmente no Judiciário. Apesar de aceitar a denúncia proposta pelo MPDFT, os desembargadores decidiram pelo não afastamento dos distritais de seus cargos no Legislativo brasiliense e eles continuam trabalhando normalmente na Câmara Legislativa.
Em maio, mesmo depois de os distritais terem se tornado réus, a Mesa Diretora da Câmara arquivou os pedidos de cassação de mandatos dos cinco investigados. E não foi a primeira vez que a Casa ignorou as acusações contra os integrantes da CLDF. Em dezembro do ano passado, um mês após os deputados terem sido denunciados pelo MPDFT, o plenário escolheu dois deles para compor a Mesa Diretora. Raimundo Ribeiro ficou com a terceira secretaria, tendo Cristiano Araújo como suplente.
A Operação
Deflagrada em 23 de agosto de 2016, a Drácon cumpriu 14 mandados de busca e apreensão e oito de condução coercitiva (quando a pessoa é obrigada a depor) na Câmara Legislativa e em residências de parlamentares, servidores e ex-servidores. Além dos deputados, que respondem no Conselho Especial do TJDFT, três ex-comissionados da CLDF respondem na primeira instância: Valério Neves, ex-secretário-geral da Mesa Diretora, Alexandre Braga Cerqueira, então secretário-executivo da terceira secretaria, e Ricardo Cardoso, ex-diretor do Fundo de Saúde do DF.