No início do século 20, diversas ideias clássicas da astronomia já haviam sido superadas. Sabíamos que a Terra não era o centro do universo. Nem o era o Sol. Contudo, os cientistas dessa época mal tinham ideia do tamanho do universo. Para eles, a nossa galáxia era a única que compunha o cosmos e que esteve estava imutável no mosaico celeste.
Contudo, em outubro de 1924, um americano que passava uma noite de observações num grande domo no monte Wilson, em Los Angeles, notou que não éramos a única galáxia. Aliás, ele descobriu que o firmamento é muito maior do que imaginávamos – e que o universo está em movimento.
Hubble se formou em matemática e astronomia pela Universidade de Chicago em 1910. Seu talento lhe valeu uma bolsa de estudos na Universidade de Oxford, no Reino Unido. Contudo, ele teve que interromper o caminho que traçava pela ciência.
No seu leito de morte, o pai de Hubble – que nunca aceitou a aspiração do filho pela astronomia – teve como último desejo que o filho cursasse direito. Ele cumpriu a vontade do falecido pai e, em 1913, voltou aos Estados Unidos e trabalhou durante um ano como advogado.
Hubble, contudo, não aguentou e quebrou a promessa. Em 1914, voltou a estudar astronomia. Em 1917, quando terminava seu doutorado, ele foi convidado a se juntar ao observatório Mount Wilson, na Califórnia. Contudo, outro problema fez o americano postergar seu sonho.
Após passar a noite acordado para terminar sua tese e defender o trabalho no dia seguinte, Hubble se alistou ao Exército. Para George Ellery Hale, fundador do observatório, ele enviou um telegrama: “Infelizmente não posso aceitar seu convite. Estou indo para a guerra.”
Mas as batalhas acabara e, em 1919, ainda de uniforme e recém-chegado da França, o major Hubble se apresentou ao Mount Wilson, pronto para observar o céu.
Cientista
O astrônomo guerreiro não poderia estar em um lugar mais propício. O telescópio Hooker finalmente entrava em operação após 10 anos de construção. Com 2,5 metros, ele era o mais poderoso olho da humanidade para o céu.
Hubble passou muitas noites frias observando as estrelas pelas poderosas lentes do Hooker. Em outubro de 1924, ele viu o que a princípio achou ser uma nova na nebulosa M31, na constelação de Andrômeda. Ao examinar cuidadosamente imagens registradas por outros astrônomos da mesma região do espaço, ele notou que era uma estrela cefeída.
Essas estrelas tem um brilho com um período de luminosidade bem definido – quanto mais longo o período, mais luminosa a estrela. Ao usar a luminosidade e o brilho que chega à Terra, os astrônomos conseguem medir com precisão distância delas.
E foi quando media a distância que ele descobriu que a estrela – e, portanto, sua nebulosa – estavam a 1 milhão de anos-luz da Terra – muito mais longe do que qualquer outro objeto já observado. A nebulosa na verdade era uma galáxia completamente separada da Via Láctea, com bilhões de estrelas. Naquele dia, o universo conhecido pelo homem se expandiu como nunca antes.
“Descoberto que as nebulosas espirais são sistemas estelares; Dr. Hubbell (sic) confirma que são ‘ilhas universos’ similares ao nosso próprio”. Assim noticiava o The New York Times à época.
E essa nem é considerada a principal descoberta de Edwin Hubble. Após provar que nossa galáxia não é a única, ele começou a classificar todas as nebulosas conhecidas e medir suas velocidades ao analisar o efeito Doppler.
Em 1929, Hubble descobriu que todas as galáxias estão se afastando da Via Láctea em uma velocidade que aumenta proporcionalmente conforme sua distância até nós – o que é chamado de Lei de Hubble (apesar de hoje sabermos que essa afirmação não é tão precisa).
Para a astronomia da época, que via o universo como algo estático, saber que este está se expandindo foi uma revolução. O próprio Albert Einstein, mais de uma de uma década antes, havia modificado suas equações – que previam um universo em expansão – para manter o cosmos estático. O físico alemão foi pessoalmente ao Mount Wilson para encontrar Hubble. Ele chamou a mudança de seus cálculos de “maior erro de minha vida”.
Depois de sua grande contribuição à ciência, o americano ainda serviu na Segunda Guerra, recebeu uma medalha, fez campanha para ganhar um Nobel – que, infelizmente, não premiava astrônomos – e ajudou a planejar o telescópio Hale – que seria quatro vezes mais poderoso que o Hooker.
Em 1949, Hubble foi honrado com a primeira observação no novo telescópio. Em 1953, quando preparava diversas noites de observação, o astrônomo morreu.
Por ser um dos principais astrônomos da história, ele foi homenageado com o nome do primeiro telescópio espacial já feito pelo homem.
Curiosamente, o Hubble (o telescópio) foi usado em uma pesquisa que descobriu, em 2002, que universo não apenas está se expandindo – mas que a expansão está acelerando. A descoberta foi classificada pela Nasa (a agência espacial americana) como a mais importante do telescópio e rendeu a Adam Riess e Saul Perlmutter o Nobel de Física de 2011.
Riess e Perlmutter e outros cientistas continuam hoje o legado de Hubble, para quem os astrônomos devem ter a “esperança de achar algo que não esperavam”.