A Rússia avisou aos Estados Unidos que as sanções ocidentais impostas após o referendo na Crimeia são ‘inaceitáveis’ e que ‘terão consequências’.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, fez o aviso em um telefonema ao Secretário de Estado americano, John Kerry.
Nesta semana, os Estados Unidos e a União Europeia impuseram sanções contra parlamentares russos e da Crimeia e pessoas próximas ao círculo interno do presidente russo, Vladimir Putin.
O aviso de Lavrov veio horas depois de líderes da Crimeia e da Rússia assinarem um tratado integrando a península à Federação Russa, após o referendo de domingo, em que quase 97% dos eleitores locais aprovaram a separação da região da Ucrânia.
Nesta quarta-feira houveram relatos de que uma base militar ucraniana em Sevastopol, no sul da Crimeia, foi invadida.
Um repórter da agência de notícias Associated Press no local disse que forças de defesa pró-Rússia entraram na sede da Marinha ucrâniana e hastearam a bandeira russa.
‘Inaceitáveis’
Um porta-voz do presidente Putin disse à BBC que o tratado assinado na terça-feira já estava em efeito e que a Crimeia agora faz parta da Rússia.
O correspondente da BBC em Moscou Richard Galpin disse que há poucas dúvidas de que o tratado será aprovado pela Corte Constitucional russa e ratificado pelo Parlamento em Moscou.
Após a assinatura do tratado entre a Crimeia e Moscou, na terça-feira, a Casa Branca disse que as sanções impostas pelos Estados Unidos e a UE seriam ampliadas.
Depois do telefonema com Kerry, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia disse, em um comunicado, que “moradores da república (Crimeia ) fizeram sua escolha democrática de acordo com o direito internacional e a Carta das Nações Unidas, ato que a Rússia aceita e respeita.”
“As sanções introduzidas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, são inaceitáveis e não ficarão sem consequências”.
Ele não especificou quais serão essas consequências.
Na terça-feira, Putin disse que as sanções do Ocidente seriam vistas como um ato de agressão e que Moscou iria retaliar.
O Exército da Ucrânia afirmou na terça-feira que um oficial ucraniano foi morto em um ataque a uma de suas bases na Crimeia. Foi a primeira morte de um militar registrada na península desde que forças pró-Rússia tomaram o controle sobre o território em fevereiro.
No entanto, há divergências quanto à morte. De acordo com o correspondente da BBC em Simferopol Mark Loen, ao menos um órgão de imprensa russo diz que o soldado morto era membro das forças de autodefesa pró-russas.
Ainda segundo a agência de notícias da Crimeia Kryminform, um membro da força de defesa pró-Rússia foi morto. Nenhum dos dois relatos pode ser confirmado de forma independente e não se sabe se os dois casos estão relacionados.
Em Kiev, o primeiro-ministro interino Arseniy Yatseniuk disse que o conflito na Crimeia passou do estágio político para o militar, e o governo autorizou militares a usarem suas armas para se defenderem.
O governo da Ucrânia disse que jamais aceitará o resultado do referendo de domingo.
O vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, em um pronunciamento na Polônia, afirmou que o envolvimento russo na Crimeia foi ‘uma incursão militar gritante’ e que a anexação do território ‘não passou de uma apropriação de terra’.
A Alemanha e a França condenaram o tratado entre a Rússia e a Crimeia assim que ele fosse divulgado. Por sua vez, a Grã-Bretanha anunciou que estava suspendendo atos de cooperação bilateral militar com a Rússia.
A União Europeia e os Estados Unidos já haviam se pronunciado contra o referendo na Crimeia, considerando-o ilegal.
A Crimeia fez parte da Rússia até 1954, quando o líder soviético Nikita Khrushchev, decidiu devolvê-la à Ucrânia.
Cerca de 58% dos habitantes da península são de etnia russa. Os demais moradores da região são, em sua maioria, ucranianos e há ainda uma minoria tártara.
A crise ucraniana começou em novembro passado após Yanukovych desistir de um acordo que previa maior integração com a União Europeia, optando por manter laços mais fortes com a Rússia.
Ele fugiu da Ucrânia em 22 de fevereiro depois que intensos protestos tomaram as ruas da capital Kiev, levando a dezenas de mortes nos conflitos entre a polícia e manifestantes.