O cientista inglês John Zarnecki estava no estádio de Wembley na final da Copa do Mundo de 1966 e viu a Inglaterra ser campeã do mundo. Ele também estava na Arena Amazônia, em Manaus, e na Arena Corinthians, em São Paulo, quando viu a seleção inglesa perder para Itália e Uruguai, respectivamente, e ser eliminada do Mundial no Brasil. Zanercki é cientista espacial consagrado, com especialização em foguetes. Para ele, faltou ciência para a Inglaterra nesta Copa.
Ao contrário do ‘English Team’, que depois da conquista de 1966 não ganhou mais nada, Zanercki ganhou tudo em sua vida desde aquela Copa, há quase meio século. Ele se formou em física e astronomia, fez mestrado e doutorado e se tornou cientista espacial e professor da Open University. Em janeiro deste ano, foi homenageado com a medalha de ouro da Sociedade Real de Astronomia do Reino Unido, por seu trabalho em diversos projetos de pesquisa, como os que envolveram o Cometa Halley e o Telescópio Hubble.
Nesta terça-feira (24), ele estará no Estádio do Mineirão, em Belo Horizonte, para a melancólica despedida da já eliminada Inglaterra, que enfrenta a já classificada Costa Rica na última rodada do grupo D.
“Vamos ver o próximo jogo, espero que pelo menos acabe em empate”, disse Tom, filho de John que o acompanha na viagem pelo Brasil. Os dois também têm ingressos para as oitavas de final. “Vamos também para Curitiba e Recife. Eu estava otimista, comprei ingressos para o jogo das oitavas do primeiro colocado deste grupo”, explicou Tom.
Para o pai, a maior decepção da partida contra o Uruguai foi a falta de paixão dos jogadores ingleses. “Se tivessem jogado com vontade, se tivessem perdido lutando, teria sido melhor.” A diferença entre a seleção atual e a campeã de 1966, segundo ele, não é a pouca idade dos jogadores. “Aquela tinha dois ou três jogadores excelentes, e um grupo coeso. Essa tem jogadores bons, mas não são bons o suficiente.”
Ciência no futebol
O astrônomo diz que a comissão técnica da seleção inglesa poderia usar algumas teorias científicas para melhorar a atuação do time, especialmente a pontaria dos jogadores. “Os chutes estavam terríveis. Eles precisam melhorar o conhecimento de mecânica e de balística. Existe uma equação usada para lançar foguetes que deveriam conhecer”, explicou o cientista.
Ele deu como exemplo o projeto Rosetta, da Agência Espacial Europeia, no qual está envolvido há mais de 20 anos. Há uma década, os cientistas lançaram um foguete com instrumentos de pesquisa que, em novembro deste ano, deve aterrizar na superfície de um cometa. Os cálculos usados para garantir a precisão dos movimentos da sonda durante todos esses anos, até que ela acerte o cometa, poderiam servir aos jogadores e evitar atuações como as dessa Copa, diz.
“Esse dia de novembro deverá ser mais emocionante que o jogo de hoje [quinta]”, comparou John.
Já a emoção de 30 de julho de 1966, que ele experimentou na arquibancada do estádio de Wembley, em Londres, ao ver a Inglaterra derrotar a Alemanha em plena Guerra Fria, é incomparável, em sua opinião.