O grupo de quatro sequestradores que fez uma gerente de banco, o marido e o filho dela reféns por 19 horas no Distrito Federal pretendiam roubar R$ 8 milhões da agência onde a bancária trabalha, em Santo Antônio do Descoberto (GO), disse o irmão da vítima, que não quis se identificar. A mulher chegou a se fingir de morta para escapar do grupo.
“Eles queriam na realidade o dinheiro que supunham [haver], né? Eles tinham uma indicação de que tinha mais ou menos na média de R$ 8 milhões dentro da agência”, disse.
A gerente do banco foi rendida por volta das 19h de quinta-feira, quando chegava em casa, no Recanto das Emas. Ao perceber a aproximação dos suspeitos, ela jogou o celular para o banco de trás do veículo sem que os ladrões percebessem e foi obrigada pelo grupo a entrar na residência.
O filho de 17 anos que estava no imóvel também acabou rendido, junto com o padrasto, um motorista de 39 anos que chegou logo em seguida.
“Teve um que bateu com a arma na janela, pedindo para abrir a porta. Meu sobrinho até se assustou. Ele abriu e disse ‘calma, calma, ‘tô’ abrindo’. Ele [o sequestrador] já entrou e ficou de trás da porta. Uns 10 minutinhos depois, uns 15 minutos, o meu cunhado chegou”, relatou o irmão da bancária.
Os ladrões pediram para que as vítimas pegassem um cobertor e entrassem no carro da família. No banco traseiro, a gerente conseguiu enviar pelo celular que havia jogado antes de ser rendia uma mensagem para uma amiga dizendo “polícia, polícia”.
Com o alerta, familiares dela acionaram as polícias Civil e Militar. Até as 5h deste sábado, as vítimas ficaram no carro da família em um matagal próximo a uma estrada vicinal de acesso a Santo Antônio do Descoberto.
Após esse horário, três dos sequestradores começaram a circular com a bancária pela região. De acordo com o irmão dela, a gerente teve um pano preto colocado na cabeça e não viu por onde passou. Enquanto isso, o outro integrante da quadrilha ficou com marido e o filho da vítima no matagal.
“Passamos por uma mata dentro de um caminho fechado e chegamos num ponto estratégico que eles tinham feito. Ficamos até umas 11h, acredito. Não tenho certeza porque não tinha relógio, é apenas uma noção de tempo”, disse o marido da bancária, que teve os pulsos amarrados junto com o enteado.
O marido disse que ele e o enteado foram levados a outro local na mata pelo sequestrador. “Ele [o sequestrador] disse que viria um outro integrante para dar as orientações, mas ele não chegou.”
O marido da bancária disse que foi então que ele e o adolescente decidiram fugir. “Quebramos o lacre no dente, conseguimos caminhar até a cidade e foram buscar a gente”, relatou. Até conseguirem ajuda, o adolescente e o padrasto caminharam quatro horas por trilhas no mato.
O homem disse que ele e o enteado passaram por momentos de tensão até que o assaltante fosse embora e eles conseguissem escapar.
“Nenhuma vez apanhamos e nem colocaram arma na nossa cabeça, mas a pressão psicológica era grande. Diziam que se não conseguissem o que queriam, a ‘chapa ia esquentar’. Se qualquer coisa desse errado, nós seríamos as primeiras vítimas. Era para a minha esposa fazer tudo o que eles pediam”, disse o marido da gerente.
Durante esse período, a gerente estava em poder dos outros três sequestradores. No percurso até o banco, a gerente disse aos homens que não tinha acesso às movimentações financeiras e que a agência não tinha os R$ 8 milhões que imaginavam os sequestradores.
Apesar disso, o trio insistia no roubo. Na estrada, porém, perceberam a movimentação de policiais na entrada da cidade e desistiram da ação. “Olha, cara, esse negócio vai sujar. Isso vai sujar. É melhor a gente sair fora daqui”, teria dito um dos sequestradores, relatou o irmão da bancária.
Os sequestradores chegaram a pedir para a gerente ligar na agência e dizer que chegaria atrasada devido a uma briga com o marido. Durante o trajeto, porém, o motorista perdeu o controle do veículo, que acabou capotando. Com o rosto ensanguentado devido a um corte no supercílio, a bancária se fingiu e morta para escapar do grupo.
Ao ver o acidente, um motorista que passava pelo local parou para prestar socorro e acabou rendido pelos criminosos. “Só mandaram eu descer do carro e apontaram a arma para mim. Eram três e todos armados. Um deles estava com um revólver 38”, disse.
Um motociclista que passava pela estrada de terra também foi rendido. O carro e a moto foram encontrados no mesmo dia, abandonado três quilômetros do local do acidente. O carro passou por perícia.
O marido da bancária disse à reportagem que o sequestrador que dirigia o carro estava em alta velocidade. “Quando pegaram a gente, o motorista chegou a colocar uns 160 km/h.”
Passado o susto, a família está aliviada por ter conseguido escapar. “É uma sensação de alívio muito grande, apesar do medo. Deus colocou a mão na frente. Sensação de impotência é muito grande”, desabafou.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Repressão a Sequestros (DRS), da Polícia Civil do DF. Os investigadores mantêm sigilo sobre a investigação e só devem se pronunciar após a conclusão do caso.