O grupo 5+1, integrado pelos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, China, França) e a Alemanha, concordaram com o Irã nesta quinta-feira (2) que a capacidade nuclear deste país será limitada, anunciou Federica Mogherini, chefe da diplomacia europeia.
Mogherini disse que os países reunidos em Lausanne acordaram soluções que criam bases para um acordo nuclear futuro, que será negociado até o dia 30 de junho. Ela também afirmou que o acordo acabaria com todas as sanções contra o Irã e que o programa nuclear iraniano deverá ser supervisionado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
“Um passo decisivo foi alcançado”, disse Mogherini em pronunciamento para a imprensa. O futuro acordo entre o Irã e as potências incluirá uma resolução no Conselho de Segurança da ONU, segundo disse.
Os países estavam reunidos há vários dias em Lausanne, na Suíça, para esboçar os princípios de um acordo. A comunidade internacional quer frear o programa nuclear iraniano e controlar de perto para garantir que Teerã não fabricará armas nucleares e bomba atômica. O impasse entre o Irã e o Ocidente acerca do tema já dura quase 12 anos.
Mogherini declarou ainda que o projeto de um novo reator será alterado de modo que nenhum plutônio para armas possa ser produzido.
Parâmetros
Em seguida, o secretário de Estado americano, John Kerry, anunciou alguns parâmetros específicos que devem ser negociados até o texto final do acordo:
– diminuição de dois terços do número de centrífugas de enriquecimento em até 10 anos (De 19 mil para 6 mil centrífugas ativas).
– não construção de novas plantas nucleares por 15 anos.
– fim de enriquecimento na planta de Fordow em até 15 anos.
– acesso de inspetores às plantas nucleares por 25 anos.
“Não vamos aceitar qualquer acordo, vamos aceitar o melhor acordo. E as soluções que alcançamos hoje garantem que cheguemos ao melhor acordo”, disse em pronunciamento na Suíça. Ele tambem afirmou que o acordo será implementado em fases e que as sanções contra o Irã, que serão suspensas quando ele for assinado, poderão voltar se os parâmetros não forem cumpridos.
O ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif, disse que o Irã continuará a enriquecer urânio na planta de Natanz, mas não na de Fordow. Zarif também aifrmou que chegar a um acordo com os países ocidentais não significa que o Irã vai normalizar suas relações com os Estados Unidos.
Zarif ainda afirmou que o acordo permitirá ao Irã participar do mercado internacional de combustível. “O Irã será a partir de agora um ator no mercado internacional de combustível (nuclear). Venderemos urânio enriquecido em troca de urânio natural e esperamos obter dinheiro”, disse.
Segundo fontes diplomáticas ouvidas pela agência Reuters, as potências e o Irã também teriam concordado que a maior parte dos estoques de urânio enriquecido seria diluída ou levada de barco para fora do país, indica a Reuters. No entanto, esses detalhes não foram mencionados no anúncio feito por Mogherini e pelo ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif.
‘É um bom acordo’, diz Obama
Após o anúncio feito na Suíça, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama fez pronunciamento na Casa Branca, em Washington, em que afirmou que, com o acordo, a maioria dos estoques de urânio do Irã serão neutralizados e que o programa nuclear do país será monitorado pelos próximos 10 anos. O acordo também significará que as inspeções nas instalações nucleares do Irã serão intensificadas.
“Hoje, os Estados Unidos, juntos com nossos aliados e parceiros, atingimos um entendimento histórico com o Irã, que se for completamente implementado, vai impedí-lo de obter uma arma nuclear”, disse Obama.
“É um bom acordo”, afirmou. “Ele fará o nosso país, nossos aliados e nosso mundo mais seguro”. Segundo o presidente, o acordo reduz o atalho do Irã para desenvolver bombas de urânio enriquecido. “[O acordo] é de longe a nossa melhor opção”, disse.
Obama também reforçou que, em resposta ao cumprimento do acordo, a comunidade internacional levantará progressivamente todas as sanções que foram impostas contra o Irã. Segundo o presidente, as sanções foram um fator importante para levar o Irã à mesa de negociação. No entanto, disse que o alcance de um acordo não acabará com a desconfiança dos Estados Unidos em relação ao Irã.
“Se o Irã trapacear, o mundo saberá”, disse Obama, antes de ressaltar que o acordo alcançado após intensas negociações na Suíça não se baseava na confiança, mas em “verificações sem precedentes”.
Veja a repercussão de outras autoridades:
“Isso é muito além do que muito de nós pensávamos ser possível há 18 meses e é uma boa base para o que acredito que poderia ser um acordo muito bom. Mas ainda há mais trabalho para ser feito” – Philip Hammond, secretário britânico de relações exteriores.
“Estamos mais próximos do que nunca de um acordo que torne impossível para o Irã possuir armas nucleares” – Angela Merkel, chanceler alemã.
“Uma solução integral, negociada, à questão nuclear iraniana contribuirá para a paz e a estabilidade na região e permitirá que todos os países cooperem para tratar com urgência os sérios desafios de segurança que muitos enfrentam” – Ban Ki-moon, secretário-geral da ONU.
“É um passo positivo, mas ao mesmo tempo ainda há questões e detalhes que devem ser resolvidos” – Laurent Fabius, ministro francês de relações exteriores.
“Qualquer acordo deve reduzir significadamente as capacidades nucleares do Irã e deter seu terrorismo e sua agressão” – Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense.
“Não há dúvida de que o acordo nuclear iraniano terá um impacto positivo sobre a situação geral de segurança no Oriente Médio, incluindo o fato de que o Irã será capaz de participar mais ativamente na resolução de um número de problemas e conflitos na região” – ministério russo das Relações Exteriores.