A ideia de um relógio da Apple pode parecer estranha num primeiro momento. No entanto, a empresa aposta no dispositivo da mesma forma como já apostou no iPod, no iPhone e no iPad, e a história de seu desenvolvimento, assim como do posicionamento da empresa em relação a esse novo produto, é interessante.
Concepção
Uma matéria da Wired conta que o conceito do Apple Watch veio de Jony Ive, vice-presidente sênio de design da empresa. Ive começou a pensar no aparelho pouco após o falecimento de Steve Jobs em outubro de 2011, e logo compartilhou a ideia com Alan Dye, chefe do grupo de interface humana da empresa. “Havia uma sensação de que a tecnologia deveria migrar para o corpo”, conta Dye. “E nós sentimos que o local natural, que tinha relevância histórica, era o punho”, completa.
Ive passou então a pesquisar sobre Horologia, a ciência e a história dos instrumentos de medição do tempo. Desse estudo surgiu uma noção melhor sobre o que o produto deveria oferecer. A ideia, segundo a equipe, era oferecer o mesmo nível de conectividade e engajamento que os telefones da Apple, mas de uma maneira menos invasiva e que não consumisse tanto o tempo e a atenção dos usuários. De certa forma, era como se a Apple estivesse tentando corrigir o problema de “caras sempre enfiadas nos celulares” que criou com o iPhone.
Desenvolvimento
Segundo Kevin Lynch, vice presidente de tecnologia da empresa, o primeiro protótipo do Apple Watch foi basicamente um iPhone preso a uma pulsera de velcro. A partir desse início estranho, os designers começaram a pensar em como trazer as funções dos smartphones para o dispositivo usado no punho.
O processo de enviar mensagens, por exemplo, deixou de ser semelhante ao dos smartphones: fazer isso em um relógio se revelou não apenas inconveniente como também doloroso, dada a necessidade de se manter o braço levantado pelo tempo necessário.
Em vez disso, a equipe desenvolveu o Quickbot, um software que lê suas mensagens e oferece algumas opções rápidas de resposta, criadas de acordo com o conteúdo das mensagens. A equipe incorporou ao produto também um microfone, para permitir interações de voz com a Siri.
A velocidade se revelou crucial para o sucesso do relógio. Os desenvolvedores se esforçaram para criar um sistema operacional que funcionasse com a agilidade necessária, e a criação das funcionalidades para o produto girou também em torno de proporcionar interações curtas mas significativas.
Design
Em termos de hardware, foi necessário desenvolver dispositivos novos para oferecer ao usuário o mesmo nível de atenção aos detalhes de outros produtos da empresa. A “Taptic Engine”, responsável pelas notificações táteis do dispositivo, foi desenhada para dar a sensação de “um dedo no seu punho”.
Quando ele ficou pronto, os designers começaram a pensar de forma “sinestésica” para traduzir a sensação de notificações diferentes. Por exemplo: qual deve ser a sensação de receber uma ligação? Uma mensagem? Um tweet?
Na parte visual, a equipe desenvolveu uma fonte nova, chamada San Francisco, que é mais legível em dispositivos de pequenas dimensões, como o Apple Watch, do que a tradicional Helvetica usada pela empresa. Ela é mais quadrada, mas com cantos arredondados que imitam os do próprio relógio.
A noção de personalização dos fabricantes suíços de relógios também influenciou a empresa. Sobre a necessidade de oferecer diversas opções de produto, Alan Dye comenta: “se você vai colocar algo em seu corpo e usá-lo e mantê-lo em seu punho, nos não podemos não prestar atenção a isso”.
Por conta disso, a Apple desviou de sua postura tradicional de oferecer apenas um dispositivo e oferecerá três produtos diferentes: o Apple Watch Sport (com preços de US$ 349 para a versão de 38mm e US$ 399 para a versão de 42mm), o Apple Watch (de US$ 549 a US$ 1049 para o de 38mm e de US$ 599 a US$ 1099 para o de 42mm) e o Apple Watch Edition (cujos preços ficarão entre US$ 10.000 e US$ 17.000).
Mercado
Se o produto tiver sucesso, o Apple Watch pode marcar a entrada da empresa californiana no mercado de bens de luxo, e pode se configurar como uma porta de entrada para outros mercados, como carros. Segundo ben Bajarin, analista de mercado da empresa Creative Strategies, os consumidores da Apple já estão entre os mais dispostos a gastar grandes quantias em produtos em cuja qualidade confiam, de forma que um relógio de dezessete mil dólares não é uma aposta tão arriscada.