Seja pelo resultado esportivo ou pela polêmica sobre a construção do Maracanã, a Copa de 1950 ainda é uma referência que precisa ser superada até julho de 2014. Depois de o estádio ser inaugurado ainda em obras, num amistoso entre cariocas e paulistas, há quase 63 anos, desta vez, a última martelada será da Justiça para que o recomeço tenha um final diferente. Atendendo a pedido do Ministério Público, a juíza da 13ª Vara de Fazenda da Capital, Adriana Costa dos Santos, concedeu liminar que suspende a realização do amistoso de domingo, entre Brasil e Inglaterra, por falta de um laudo que ateste a segurança do torcedor.
No despacho, a juíza diz que a decisão pode ser revogada se as pendências forem sanadas até amanhã. Caso insistam em realizar o jogo mesmo sob efeito da liminar, a CBF e o Comitê Organizador Local da Copa de 2014 serão multados em R$ 1 milhão. Por meio de nota, o governo do estado prometeu apresentar todos os documentos a tempo de reverter a decisão, expedida ontem, no plantão judiciário.
“Sobre a decisão da juíza Adriana Costa dos Santos, de suspender o jogo deste domingo (2/6) entre Brasil e Inglaterra, no Maracanã, o governo do Rio de Janeiro já está recorrendo da decisão. Todos os requisitos de segurança para o amistoso Brasil e Inglaterra foram cumpridos e, por falha burocrática, o laudo da PM que comprova o cumprimento das regras de segurança no Maracanã não havia sido entregue à Suderj. O laudo será encaminhado com o recurso do estado ao plantão Judiciário”, diz a nota.
Segundo a liminar, o único laudo emitido pela Polícia Militar “demonstra que o estádio ainda está em fase de construção.” Reformado para oferecer mais conforto e segurança ao torcedor, por ora, o Maracanã, no entender da juíza, ainda seria um risco. De acordo com a liminar, a existência de material de construção e de estruturas inacabadas representam perigo, pois poderiam ser usadas em confrontos entre torcedores.
Esporte radical
Por meio da assessoria de imprensa da CBF, o diretor jurídico da entidade, Carlos Eugênio Lopes, assegurou que todos os laudos para a realização do jogo contra a Inglaterra foram emitidos e que serão enviados ao Judiciário.
No meio do Brasileiro de 2010, quando começaram as obras do Maracanã, a CBF alegou falta de segurança para suspender os jogos no estádio. Recentemente, com base no laudo de uma empresa alemã, questionado por uma associação de engenheiros brasileiros, o prefeito Eduardo Paes determinou a interdição do Engenhão, alegando que a responsabilidade do cargo o obrigava a “considerar o pior cenário”.
Um olhar sobre o entorno do Maracanã indica que, de fato, há material de obra, como vergalhões, e até buracos, no caminho dos 78.639 torcedores que esgotaram os ingressos para o amistoso marcado para domingo.
Convidados para o jogo-teste entre amigos de Ronaldo e amigos de Bebeto, no dia 25 de abril, quando o estádio recebeu 25 mil pessoas, os operários até hoje não celebraram a missão cumprida. Diariamente, um contingente de 6.500 trabalhadores ainda dá duro nas obras, que foram orçadas em R$ 705 milhões e já chegaram a R$ 1,18 bilhão, depois de alguns aditivos.
No lugar de turistas e torcedores, que são esperados para tornar o Maracanã rentável não apenas em dias de jogos, ontem, os bares do entorno do estádio estavam lotados de operários para o almoço. No cardápio, ainda é preciso comer poeira para alimentar o sonho.
Em meio a tapumes, buracos, cimento fresco, manilhas, tubulações, lonas, grades e máquinário de obra por toda parte, a caminhada matinal dos moradores do bairro parece se tornar um esporte radical. Salvo pela presença de alguns seguranças particulares e de bombeiros debaixo das estruturas provisórias montadas em torno da Estátua do Bellini, um dos símbolos do Maracanã, chamava a atenção dos visitantes, ontem, a ausência de um centro de informações.