Projetado para revitalizar uma área central da cidade que estava abandonada, o museu é um novo marco do roteiro cultural carioca
A estrutura de concreto na cobertura do MAR, o Museu de Arte do Rio, com 15 centímetros de espessura, lembra as ondas na superfície do oceano. A aparência é tão suave que ela nem parece ser feita com 800 toneladas de concreto. Inaugurado no aniversário do Rio de Janeiro, no dia 1o de março, depois de dois anos em construção, o novo museu é uma obra importante da revitalização do Porto, chamado Porto Maravilha, um dos principais legados prometidos à cidade pelos investimentos para a Olimpíada de 2016. O museu é importante não só do ponto de vista urbano, mas para o circuito nacional de arte.
Fruto de uma parceria entre a prefeitura do Rio e a Fundação Roberto Marinho, o MAR tem como uma de suas metas a formação de um acervo próprio. Já conta com 3 mil obras, entre doações e aquisições. Entre os destaques estão uma escultura de Aleijadinho, o São José de botas, e aquarelas do artista plástico e arquiteto espanhol Santiago Calatrava. Cinquenta doadores contribuíram com pelo menos 20 obras cada um. Dos R$ 12 milhões repassados pela prefeitura do Rio de Janeiro para a gestão do Museu em 2013, R$ 600 mil são destinados à ampliação do acervo.
O MAR abriu as portas com quatro exposições . No 1o andar, está uma parte da coleção do advogado carioca Sergio Fadel, uma das mais famosas do país. Nela, há obras com tendências construtivistas e trabalhos do artista plástico Helio Oiticica (1937-1980), além de Amílcar de Castro (1920-2002) e Iberê Camargo (1914-1994). Noutras exposições, podem ser vistos moedas antigas, documentos históricos, pinturas e esculturas de artistas consagrados, como Di Cavalcanti, Lygia Clark e Modigliani.
O prédio do MAR é, em si, uma obra de arte. Foi desenhado pelo escritório carioca Bernardes+Jacobsen. “É a primeira pulsação da revitalização desta área. O MAR traz e acolhe gente. E revela a volta de um desejo arquitetônico”, diz Hugo Barreto, secretário-geral da Fundação Roberto Marinho. A onda de concreto de sua cobertura une dois edifícios diferentes: o Palacete Dom João VI, construído em 1916 para abrigar a Superintendência dos Portos, e o hospital da Polícia Civil, de 1940, que passou por uma reforma radical.
A arquitetura ajuda a restaurar uma área abandonada. Mas não há revitalização sem a participação do público. E ele está chegando. Na última terça-feira, 3 mil pessoas visitaram o MAR, e 250 moradores da região se inscreveram para ter uma carteirinha que dá direito à entrada gratuita. Dos 3 mil primeiros visitantes, quatro em especial chamaram a atenção de Paulo Herkenhoff, diretor cultural do novo museu. Um casal e dois filhos, vindos de Campo Grande, Zona Oeste da cidade. Eles enfrentaram uma viagem de quatro horas para conhecer o museu. Quando chegaram, o prédio já estava fechado. Paulo os acompanhou numa visita às exposições – não só por gentileza, mas para descobrir o que trazia gente de tão longe. Aprendeu que o transporte precisa melhorar para facilitar o acesso dos visitantes. “O MAR será uma comunidade de quem quer aprender”, diz Herkenhoff.
Para se aproximar ainda mais do público, o MAR apostará em educação. Um dos prédios abrigará a Escola do Olhar, com cursos e oficinas para alunos e professores de artes de escolas municipais. Em parceria com universidades, Herkenhoff também promoverá seminários e simpósios para debater arte.
Situado num ponto central da cidade e cercado por locais de interesse histórico, como o Mosteiro de São Bento, do século XVI, e o Morro da Conceição, um dos berços do samba, o MAR simboliza a transformação em curso na cidade. Do 6o andar do prédio que abrigava o antigo hospital, avistam-se as obras do Museu do Amanhã, outro grande projeto da revitalização do Rio de Janeiro. A inauguração do MAR é um marco – mas é apenas o começo.