Proposta é reduzir a velocidade de 80 km/h para 60 km/h e até implementar faixas de pedestres
Reduzir a velocidade do Eixão será uma das propostas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Distrito Federal (Iphan-DF) na revisão do Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico (PPCub). Do ponto de vista da instituição, desacelerar a pista aumentará a segurança do trânsito, poderá garantir mais fluidez do tráfego e abrirá espaço para melhoria da circulação de pedestres na região. Ao longo deste semestre, o Iphan também pretende se posicionar quanto a outras polêmicas, a exemplo da destinação da 901 Norte e orla do Lago Paranoá
Respaldado por estudos da Universidade Brasília, o superintendente regional do Iphan, Carlos Madson Reis, sugere a conversão do Eixão de rodovia para via urbana com velocidade de 60 km/h – proposta já defendida pelo Departamento de Estradas de Rodagem. Madson destacou que, na década de 1970, a pista era de 100 km/h e foi reduzida para 80 km/h.
Ontem, a cidade de São Paulo reduziu a velocidade das vias marginais Tietê e Pinheiros. Porto Alegre criou áreas com velocidade de 30 km/h e o Recife estuda a implantação de ações semelhantes.
“Brasília é moderna na sua concepção, mas, na prática, é retrógrada. Todas as cidades modernas estão humanizando o trânsito, reduzindo as velocidades das vias e rompendo com a lógica do automóvel”, relata Carlos Madson.
Faixa de pedestre
Conforme o discurso do superintendente do Iphan, uma eventual redução de velocidade do Eixão permitiria a adoção de medidas para facilitar a vida dos pedestres, como a implementação de faixas de pedestres.
“As passarelas atuais são insalubres e inseguras. Por que privilegiar o automóvel? O ser humano anda no nível do solo e não abaixo dele”, explana.
Carro perderá espaço
Na edição de ontem, o Jornal de Brasília noticiou que o GDF planeja reduzir o papel do automóvel no desenho urbano, a partir da revisão do Relatório de Impacto de Trânsito (RIT) neste semestre. E, nos próximos meses, discutirá as propostas de revisão do PPCub e da Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos). A meta do Buriti é votar os projetos até o final de 2016.
Dentro da discussão do PPCub, o superintendente do Iphan, Carlos Madson Reis, relatou que a instituição considera que os gabaritos da Quadra 901 Norte não podem ser aumentados e devem permanecer fiéis ao tombamento. No entanto, a instituição é favorável à definição de atividades para a região.
“A preservação pela preservação, só pelo papel estético, não cumpre seu papel social e se transforma em um fetiche”, defende Madson.
Orla do Lago
Em relação à orla do Lago Paranoá, ele considera que o espaço deve ser público, com exceções apenas para os lotes que já estão legalmente inscritos em cartório. Considerando as péssimas condições atuais dos passeios para pedestres, o Iphan também irá propor uma revitalização das calçadas do Plano Piloto.
Nesse sentindo, o superintendente declarou que deseja discutir campanhas para o melhor aproveitamento dos pontos turísticos de Brasília com ações integradas entre o governo e o setor produtivo.
Distorções comprometem a capital
No silêncio das redefinições do PPCub e da Luos, o DF sofre com distorções urbanas que ameaçam a qualidade vida da capital, tombada como patrimônio da humanidade. No entanto, especialistas e empresários consideram que o cerne da questão não pode ser a formulação de novos parâmetros ou simples manutenção de gabaritos. Ambos afirmam que a discussão deve ser, antes de tudo, qualificada.
O presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Agronomia do DF (Crea/DF), Flavio Correia, diz que, sem parâmetros, fica quase impossível fiscalizar as condutas dos profissionais nos projetos urbanísticos. Na lista de malefícios urbanos da falta de um PPCub bem definido, ele menciona os puxadinhos do Plano Piloto e a proliferação de pensões nas quadras 700.
Crescimento desordenado
Para além do Plano do Piloto, Correia comenta que a ausência da Luos permite que cidades como Vicente Pires continuem a crescer de forma desordenada. Após ser tomada por casas, a região agora observa edifícios ganharem as ruas.
A Associação de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-DF) teme que os assuntos não possam ser discutidos com a profundidade necessária até o final de 2016. O presidente da instituição, Paulo Muniz, destaca que as discussões devem envolver toda a sociedade. “Respeitamos o tombamento, mas não podemos engessar a cidade. Não podemos mais ficar de costas para o Lago Paranoá. Isso ocorre na Suíça. Lá definiram os espaços para o uso público e privado”, observou.