Desde que a música “Harlem shake” se tornou um meme e tomou a internet de assalto, milhões de pessoas já ouviram as frases “Do the harlem shake” e “Con los terroristas”. O que ninguém sabia é que essas frases são samples de artistas desconhecidos, que decidiram processar o DJ Baauer, responsável pelo sucesso.
A frase “Con los terroristas” foi cantada pelo músico de reggaeton aposentado Hector Delgado em seu single “Maldades”, de 2006, e “Do the Harlem Shake!” aparece na faixa “Miller Time“, do grupo Plastic Little, do Jayson Musson. Embora a música tenha sido lançada no ano passado, só agora que ela se tornou um fenômeno mundial Musson e Delgado resolveram processar seu criador.
Ambos têm visões diferentes sobre o uso dos samples. Musson diz que é algo normal, que os artistas fazem isso sempre. Já Delgado disse que é como se “alguém tivesse invadido meu terreno e construído uma casa”. A princípio, pode parecer uma prática ilegal, mas o uso de samples foi fundamental no desenvolvimento do hip hop. Quando o gênero surgiu, no final da década de 1970, trechos de diversas canções eram recortados e depois usados em complexas colagens sonoras.
Em 1991, depois que sucessos usavam trechos de músicas famosas de maneira escandalosa (como a linha de baixo de “Super freak”, de Rick James, em “U can’t touch this”, e a linha de baixo de “Under pressure”, do Queen, em “Ice ice baby”, de Vanilla Ice), uma nova legislação acabou com a alegria dos DJs. A partir de então, todos os samples deviam ser usados de maneira correta. A gravação de discos como 3 Feet High and Rising, do De La Soul, e Paul’s Boutique, dos Beastie Boys, seria absurdamente cara. Apenas gigantes do hip hop, como Kanye West e Jay-Z, podem gastar rios de dinheiros em samples (o esforço conjunto dos dois, Watch the throne, está cheio de canções de artistas como Otis Redding e James Brown).
Com a divulgação de mixtapes na internet, as regras ficaram um pouco menos rígidas e claras. Novos artistas usavam trechos de canções famosas em lançamentos distribuídos gratuitamente na rede. Se uma grande banda resolvesse processar o autor dessas mixtape não ia ganhar absolutamente nada. Até o rapper Frank Ocean se envolveu em uma polêmica ao usar samples de Coldplay, MGMT e Eagles. Mas no fim apenas o uso de “Hotel california” acabou na justiça.
De acordo com o jornal inglês The Guardian, o caso de Baauer mostra que o uso de samples de maneira ilegal é quase tolerado, desde que a música não se torne um grande sucesso e os autores originais percebam que é possível lucrar em cima dela. “O mesmo sample da voz de Delgado foi usado há três anos em uma música do duo de DJs Philadelphyinz. Eles não receberam nenhum comunicado do representante legal de Delgado, mas a música deles não virou um hit”, diz o jornal.