De acordo com a secretaria, há um deficit de 7% nos medicamentos da rede e não um desabastecimento total, como alega a categoria. A pasta ainda acusa o presidente da entidade, Gutemberg Fialho, de tentar “viabilizar objetivos pessoais” . Fialho é do mesmo partido do governador
O embate entre o Sindicato dos Médicos e a Secretaria de Saúde do Distrito Federal teve mais um capítulo. Depois de uma greve que durou 35 dias, denúncias de falta de remédio, de equipamentos e de condições de trabalho para os profissionais da rede pública de saúde, mensagens supostamente emitidas pela entidade representativa fez o governo se pronunciar formalmente. A secretaria acusa o presidente do SindMédicos, Gutemberg Fialho, de não “contribuir em nada para melhorar a assistência a quem realmente precisa. Pelo contrário, de se utilizar do sindicato para tentar viabilizar seus objetivos pessoais”.
As mensagens encaminhadas aos médicos pedem que os profissionais denunciem irregularidades nas unidades hospitalares. Elas chegam por meio de WhatsApp e são trocadas entre os médicos. Entre as recomendações, o sindicato afirma que os profissionais não devem se expor para que não sejam acusados por situações que fogem à responsabilidade deles.
O governo teme que os médicos façam uma “greve branca”, na qual os profissionais permanecem no local de trabalho, mas deixam de prestar atendimento. A secretaria diz que tem trabalhado para mudar a situação da Saúde no DF. Afirmou ter encontrado uma dívida de R$ 600 milhões com fornecedores, além de salários atrasados, inclusive horas extras e 13º salário. “Em janeiro, dos 750 medicamentos que deveriam estar disponíveis na rede pública, 485 estavam em falta. Hoje, esse número caiu para 65, todos eles com processo de compra em andamento”, diz a nota da secretaria.
Um dos remédios em falta é a Dobutamina, usado em pacientes críticos com quadro de insuficiência cardíaca. “É uma situação nacional. É um medicamento que pode ser substituído em algumas ocasiões. Mantemos hoje 93% de abastecimento dos remédios e trabalhamos para chegar aos 100%”, alega o secretário de Saúde, Fábio Gondim. Segundo ele, o abastecimento de Dobutamina será regularizado no início de janeiro.
O SindMédicos optou por não comentar a nota da Secretaria. A presidente do SindSaúde, Marli Rodrigues, afirmou que a entidade não faz campanha para travar a máquina pública. “Nos doamos para salvar vidas. Fazer greve, reivindicar nossos direitos é uma coisa, travar a máquina é outra. Não trabalhamos com automóveis, trabalhamos com vidas”, afirmou Marli, que representa 104 categorias na área de saúde.
Desafeto
Amigos durante a campanha de 2014, Gutemberg Fialho e Rodrigo Rollemberg, correligionários do PSB, chegaram a levantar bandeiras, caminharam juntos pelas ruas. Mas, depois de frustrações políticas e das greves, a relação estremeceu.
O ponto alto da briga foi a publicação de um vídeo no qual Fialho afirmava que os servidores poderiam boicotar o serviço público, caso não recebessem o reajuste salarial pleiteado durante a paralisação da categoria, que durou 35 dias. “Os servidores podem voltar sem nada. Mas serão quatro anos travando a máquina pública e boicotando o governo”, disse em novembro. O GDF abriu uma sindicância para investigar o caso.