No aniversário de uma década do tradicional bloco de rua Suvaco da Asa, o auê começou cedo. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) acatou pedido de moradores do Sudoeste, que foram à ouvidoria do órgão reclamar da “desordem” no bairro durante o desfile da agremiação, e, após uma reunião com as administrações regionais do Cruzeiro e do Sudoeste, chegou a um acordo sobre a necessidade de mudança de local do evento. A festa, que sempre ocorreu entre o Cruzeiro Velho e o Sudoeste Econômico, ganhou outro endereço. Este ano, se concentrará no Eixo Monumental, em frente à Funarte. A alteração, porém, dividiu os foliões.
Nas redes sociais, um grupo de insatifeitos criou um evento para o mesmo dia do bloco: O Suvaco é aqui.! Francisco Sousa, o Neném, convoca os brasilienses a protestarem, no próximo dia 23, pacificamente, contra a mudança do local. Até o fechamento desta edição, mais de 15 mil pessoas se disseram interessadas em participar. Neném é morador do Cruzeiro há 44 anos e descobriu, há poucos dias, sobre a mudança de local do desfile. “Vai mudar a característica do bloco. Não concordamos com a sugestão dos organizadores de irem para a Funarte sem consultar a população. Por isso, vamos sair no mesmo dia, em forma de protesto a essa decisão arbitrária.”
A procuradora de Justiça Maria Rosynete de Oliveira Lima, da Procuradoria Distrital dos Direitos do Cidadão, afirma que a sugestão de local não partiu do Ministério Público. “Questionamos o alvará que eles tinham para a realização do evento, que era de 20 mil pessoas. Como o número quadruplicou no ano passado, foi preciso intervir para a segurança da população e dos foliões. Em reunião com diretoria do Suvaco da Asa, eles mesmos se anteciparam e nos avisaram que o desfile será na Funarte. Não temos como intervir na escolha do local.” Para explicar os detalhes de todo o processo de negociação à população, o MPDFT realizará uma reunião aberta, às 14h da próxima segunda-feira, na sede do órgão.
Segundo Pedro Moreira, diretor e um dos organizadores do Suvaco da Asa, não há mais estrutura para o público, que chegou a 80 mil pessoas na última edição, entre o Cruzeiro e o Sudoeste. “É um momento triste. Entendemos as pessoas que insistem para que fiquemos no Cruzeiro. Mas a verdade é que, nos últimos anos, o bloco cresceu muito. Percebemos os transtornos à população. Para fazermos o desfile, também ficou complicado, não conseguíamos, por exemplo, passar com a orquestra por conta da quantidade de carro”, contou Moreira. Para a presidente do Conselho Comunitário do Sudoeste, Christiane Tabosa, 61 anos, era hora de o bloco ir para ouro lugar. “Não dá para ser em uma área residencial. As pessoas sujam muito, mesmo com os banheiros oferecidos. Sou totalmente a favor da mudança. Aqui não é um local público, e sim uma área particular.”
Manifestação
Mas nem todo mundo pensa igual. O arquiteto, doutor em sociologia urbana e professor da Universidade de Brasília Benny Schvarsberg vê os blocos de rua em Brasília com bons olhos. “O Cruzeiro tem a tradição de uma comunidade formada basicamente de moradores originários do Rio de Janeiro. Na cidade, há boas praças, que proporcionam um ambiente de convivência coletiva e familiar. Vejo com tristeza os foliões serem restritos de se manifestarem em seu próprio bairro”, justifica.
Schvarsberg relembrou também os anos em que a capital ficou sem praticamente ter carnaval. Para ele, é lastimável que, quando a cidade está retornando com a tradicional festa, que tem como base principal o aproveitamento do espaço público, tenha que se depara com problemas que poderiam ser resolvidos de outra forma. “Brasília, em toda a sua modernidade, está muito atrasada em relação às demais cidades do Brasil. É necessário se ter um código de posturas que determine o local, o horário e como seria feito todo o esquema de segurança para eventos como esse. Essas regras seriam válidas para outras manifestações culturais. É preciso que a população obedeça às regras criadas, mas que tenha uma condição básica para poder aproveitar o feriado, que é uma tradição no país.”
Exemplo no Rio
Esta não será a primeira vez que um bloco de carnaval muda de local por causa da falta de estrutura. O famoso bloco do Rio de Janeiro Sargento Pimenta se apresentou pela primeira vez em 2011 no bairro de Botafogo e, após reunir milhares de pessoas em uma rua estreita, a ponto de causar confusão, ele foi remanejado, no ano seguinte, para o Aterro do Flamengo, onde a estrutura é melhor. Os foliões, a cada carnaval, só aumentam.
Programe-se
Desfile Especial
do Suvaco da Asa
10 Anos de Suvaco
Em 23 de janeiro, sábado
A festa começa às 10h,
com a folia da criançada,
o Suvaquinho
No Eixo Monumental,
próximo à Funarte