Ela morreu à espera de vaga em UTI. E morava na zona rural de Brazlândia, cidade com o maior número de registros no ano
A dengue matou pela segunda vez na capital federal neste ano. Uma mulher de 45 anos morreu com a suspeita de ter contraído a forma hemorrágica da doença. Maria Cardoso de Oliveira teria sido atendida na última sexta-feira no Hospital Regional de Brazlândia (HRB), com quadro de anemia severa. A equipe médica identificou a infecção pelo Aedes aegypti e recomendou a internação em uma unidade de terapia intensiva (UTI). Entretanto, a Secretaria de Saúde não disponibilizou o leito. Por dia, são identificados 10 novos casos em Brazlândia, a cidade do DF com o maior número de registros.
Após a realização dos exames, a paciente começou a receber tratamento para dengue, segundo informações do prontuário médico. Contudo, o nome de Maria foi inserido na lista da Central de Regulação para esperar pelo leito de UTI apenas no sábado — 24 horas depois da recomendação. Sem a internação de alta complexidade, o quadro clínico piorou. “A única médica do plantão fez de tudo para salvá-la”, escreveu, em uma rede social, uma amiga da vítima. Pela escala de plantão, deveria haver dois clínicos na unidade de saúde.
Maria era aposentada por causa da anemia falciforme, doença genética incurável. Frequentava a comunidade evangélica Fruto Fiel e tinha uma filha, de 18 anos. “Ela era presente na igreja. Todo mundo gostava dela, apesar de ser muito tímida. Só deixava de ir aos encontros quando tinha problemas de saúde. Sempre recebia todo mundo bem na casa dela. No último domingo, comentamos sobre a peça que apresentamos”, contou a vendedora Cleide Dias, 44, amiga e líder espiritual de Maria.
A Secretaria de Saúde admitiu, em nota, a indisponibilidade do leito de UTI. “O quadro da paciente evoluiu para piora, não havendo tempo de transferi-la”, detalha o texto. O Correio mostrou, em 4 de janeiro, que, dos 400 leitos de unidade de terapia intensiva, 85 (21,25%) estão desativados. O cenário não mudou de lá para cá. Segundo a pasta, exames complementares serão realizados para atestar a forma grave da doença. “A unidade de Brazlândia tem, sim, os exames de teste rápido para dengue”, garante outro trecho da nota. Até o momento, o Executivo local registrou dois casos de dengue grave, sendo uma de morador do DF e outro do Entorno. Há, ainda, uma morte por dengue hemorrágica.