Discurso a favor do impeachment de Dilma Rousseff tem potencial para alavancar votos em 2018
O discurso a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff pode ter potencial para alavancar os votos da oposição no Distrito Federal, nas eleições de 2018. O tema voltou para a pauta nacional quando os partidos oposicionistas formularam um manifesto pelo afastamento, buscando sincronizar forças com os movimentos civis nas ruas.
Em Brasília, parte da população defende a interrupção do governo de Dilma. Prova disso foi vista e ouvida na última partida entre Flamengo e Fluminense, no Estádio Nacional Mané Garrincha. Uma manifestante invadiu o gramado com um cartaz pedindo o impeachment e encontrou gritos de apoio das duas torcidas.
Munição
Diante deste cenário, a presidente da Câmara Legislativa, deputada distrital Celina Leão (PPS), avalia que a defesa do afastamento do governo do PT é uma munição diferenciada da oposição na disputa urnas. A parlamentar defende abertamente o impeachment e recentemente deixou o PDT, que está alinhado com o Planalto, pelo PPS, partido em franco embate com Dilma. “A população espera que os políticos sejam seus representantes. E ela tem a tendência de respeitar quem se posiciona. No meu caso, não faço isso por estratégia, mas por coerência política. Sempre critiquei o governo do PT, mesmo quando era do PDT”, argumentou.
Proporcionalmente, a bancada federal do DF na Câmara dos Deputados é a que mais é favorável ao afastamento. Dos oito parlamentares, cinco são à favor do impeachment, dois não revelam o voto de jeito algum e só um se declara ostensivamente contra o afastamento de Dilma.
O deputado federal Laerte Bessa (PR) defende o afastamento de Dilma. “O impeachment é uma necessidade. O bem para o país é o PT fora da política”, opinou. “Quem está do lado do governo é bandido da mesma laia”, disparou.
Na análise do oposicionista, o movimento pró-impeachment ainda está muito desorganizado. O discurso precisaria de mais veemência para gerar resultados reais.
Discurso afinado
1 Deixando a questão eleitoral em segundo plano, o deputado federal Alberto Fraga (DEM) contou que a oposição criará comitês pró-impeachment em todos os estados em parceria com os movimentos civis.
2 Segundo o democrata, a proposta é alcançar a mesma sintonia que o PT possui com as centrais sindicais e os movimentos sociais, mantendo o tema vivo no pensamento popular e organizando ações mais efetivas.
3 “Precisamos unificar os esforços, afinar o discurso. Os movimentos da CUT estão sempre alinhados com o PT. Eles vão para rua sabendo exatamente o que fazer e quando fazer. Nas nossas manifestações cada um vai para um lado diferente”, ponderou Fraga.
4 O presidente regional do PSDB, deputado federal Izalci Lucas, avalia que a prisão do marqueteiro João Santana poderá trazer novos desdobramentos contra o PT e o Palácio do Planalto. Segundo Izalci, existem diversos caminhos para sustentar o impedimento, como o processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por exemplo.
5 “O impeachment deveria ser imediato. Quanto mais rápido for, mais rápido poderemos recuperar o país”, disse Izalci.
Termômetro será a eleição de 2016
Se as eleições fossem hoje a defesa do impeachment teria um efeito bombástico na votação, do ponto de vista do diretor do Instituto Exata de Opinião Pública (Exata OP), Marcus Caldas. Só que o pesquisador lembrou que os cenários políticos podem mudar rapidamente e Dilma e o PT poderão encontrar situações favoráveis em 2018. Mas, a curto prazo, ambos estão com a corda no pescoço sob os ataques da oposição e críticas da população.
“Nas eleições municipais deste ano, a tendência é vermos o PT se desmontar nas prefeituras. A rejeição é muito alta”, comentou o especialista. No entanto, isso não significa que o partido desaparecerá do mapa. Caldas explicou que a sigla ainda mantém núcleos de eleitores bem definidos pelo Brasil.
No caso do DF, aproximadamente 10% do eleitorado vota exclusivamente no partido, afirmou Caldas. “Isso significa a eleição de deputados federais e distritais, dependendo do segmento”, completou. No entanto, a rejeição é um entrave em articulações para composição de chapas, principalmente para os cargos majoritários do Buriti e no Senado. “Mas repito: as coisas podem mudar. O PT ainda tem o ex-presidente Lula. Se ele conseguir chegar forte em 2018 vai influenciar as eleições como um todo”, ressaltou Caldas.
Segundo o pesquisador, a captação de votos não depende apenas da repetição do mantra do afastamento. Para Caldas, o eleitor hoje não busca o candidato que apenas critica, mas sim aquele candidato que aponta caminhos e soluções concretas para os problemas.