Para Justiça, eles tentam forjar documentos e ameaçam testemunhas. Auxiliar de serviços gerais sumiu há três anos após abordagem policial.
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal pediu a prisão preventiva de dois policiais militares acusados de torturar até a morte o auxiliar de serviços gerais Antônio Pereira de Araújo. O crime aconteceu em maio de 2013, e o homem ficou conhecido como Amarildo do DF – em alusão ao caso semelhar ocorrido no Rio. Segundo desembargadores, Silvano Dias de Sousa e Carlos Roberto José Pereira estariam tumultuando as investigações, forjando documentos e ameaçando testemunhas.
Para o tribunal, ficou provado que os policiais estavam orientando pessoas a darem falso testemunho e exercendo influência dentro da PM para sonegar informações e inventar provas.
A vítima desapareceu em 27 de maio de 2013 após ser abordada por policiais de Planaltina dentro da chácara de um sargento da corporação, no Arapoanga. Os restos mortais de Araújo foram encontrados quase seis meses depois, em 21 de novembro, em uma área de cerrado do Setor Residencial Leste.
Até então, o caso estava na Divisão de Repressão a Sequestros (DRS) e era tratado com “desaparecimento”. A partir daí, foi transferido para a Coordenação de Homicídios, mas sem avanços. Com a troca de equipes na unidade especializada no início de 2015, as investigações tomaram outros rumos e os dois policiais militares acabaram indiciados e denunciados pelo Ministério Público.
O inquérito foi finalizado pela Coordenação de Homicídios da Polícia Civil no final de maio e, segundo as investigações, Araújo morreu após uma hemorragia interna causada por chutes pelo corpo. O laudo do Instituto de Medicina Legal já havia indicado que a vítima teve quatro costelas quebradas e que as fraturas foram produzidas por um “agente contundente”, como “socos e chutes”, e não por queda ou acidentes.
Peritos do Instituto de Criminalística analisaram tecidos de pele da área afetada pelas pancadas e concluíram que a vítima teve hemorragia. O exame histopatológico apontou ainda que as lesões internas e os traumatismos teriam ocorrido quando o homem ainda estava vivo.
No ano passado, um dos seis policiais envolvidos na abordagem também confirmou em depoimento na delegacia especializada que Antônio foi agredido fisicamente. Na denúncia do Ministério Público, Carlos Roberto e Silvano Dias foram apontados como os autores das pancadas que mataram o auxiliar de serviços gerais.
A violência teria sido cometida após os PMs terem sido acionados pelo sargento, dono da chácara onde Araújo foi encontrado durante a madrugada. Na mesma semana, ele tinha deixado o Hospital Regional de Planaltina por problemas com alcoolismo. Mas, ao localizá-lo na propriedade – acreditando que a vítima fosse bandido –, começaram agredi-lo para que ele confessasse onde estariam os supostos comparsas.
À época, Silvano Dias era cabo da PM e foi promovido a sargento. Ele e Carlos Roberto faziam parte da primeira guarnição da PM que chegou à chácara para verificar o chamado do sargento de que tinha alguém na propriedade. O policial que dirigia a viatura não teria participado das agressões, mas confirmado que elas existiram. Outra viatura com três policiais foi acionada em seguida, e eles teriam sido os responsáveis por levar Antônio até a 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), onde foi liberado após averiguação de que ele não tinha cometido crime.
A ossada de Antônio foi encontrada a cerca de um quilômetro da delegacia, debaixo de um pé de pequi em uma área de cerrado, mas próximo de casas. A possibilidade levantada pelos agentes da Polícia Civil é que ele tenha caminhado, embora debilitado, até o local e morrido em razão das lesões e hemorragia.
Não há evidências de que as agressões tenham sido cometidas na área onde os restos mortais de Araújo foram encontrados e nem da participação de nenhum dos três policiais da segunda guarnição.