Ela estava de Branca de Neve; menino de 12 anos ajudou a carregar caixão. Suspeito disse que tentava acertar irmãos de quem cobrava dívida de R$ 80.
Familiares e amigos fizeram uma “vaquinha” para custear o velório e o enterro da menina de 6 anos que morreu em Brasília depois de ser atingida na cabeça por uma bala perdida. A cerimônia começou por volta das 8h desta quinta-feira (14), na capela 5 do Cemitério Campo da Esperança de Taguatinga. Alicia Gabryelle da Silva Ferreira vestia uma fantasia de Branca de Neve.
Muito emocionados, os pais da menina não quiseram falar com a imprensa. A mãe dela, Jéssica Silva, ficou o tempo todo ao lado do caixão. Ela recebia o consolo de familiares. A menina tem dois irmãos, um de 10 anos e outro de 1 ano. Durante todo o velório, houve orações e canto de músicas religiosas.
De acordo com a família, a escolha da roupa ocorreu porque Alícia gostava muito da princesa. A vizinha Natália Meschick conta que o crime, ocorrido no final da manhã de terça na quadra 116 do Recanto das Emas, chocou a todos.
“Ninguém espera a morte, então eles não tinham recurso financeiros, como qualquer um de nós lá do Recanto [das Emas]. Nós somos uma comunidade simples. A gente não tem condições de, do dia para a noite, tirar dinheiro pra fazer um sepultamento, ainda mais com uma fatalidade dessas. Então eu fiquei muito comovida porque a mãe me pediu para que a filha dela não fosse enterrada num saco, que tivesse um enterro digno”, diz.
Natália não quis falar a soma do valor arrecadado. “Então eu, a comunidade, a minha rua, a escola, os comerciantes do Recanto, todos ajudamos bastante. As redes sociais também, veio gente de todo o Distrito Federal para ajudar e nós conseguimos custear todo o enterro, sepultamento. O restante nós vamos fornecer para a família, para o tratamento tanto das crianças [os dois irmãos] quanto da família.”
Pastor da Comunidade Pentecostal Geração Eleita, Rafael puxava as orações e os hinos de louvor durante o velório. Ele disse que a mãe da menina frequentava a igreja e cantava no coral. “Elas são da nossa comunidade, sou amigo da família desde 1993, eu vi a Jéssica nascer.”
Um menino de 12 anos, vizinho e amigo da menina, ajudou a carregar o caixão segurando em uma das alças. O padrasto e outros familiares também participaram do traslado. O pai de Alícia estava muito abalado e precisou ser amparado.
Prisão do suspeito
Detido na manhã desta quarta, o adolescente de 17 anos suspeito de efetuar o disparo afirmou à polícia que tentava acertar dois irmãos de quem cobrava uma dívida de R$ 80. Ele disse que havia abordado a dupla antes, pedindo o dinheiro, mas acabou levando um tapa e um soco no rosto. Indignado, voltou ao local armado. O motivo da dívida não foi informado.
A mãe de Alícia e um pedestre a socorreram e a levaram para o quartel do Corpo de Bombeiros, que solicitou helicóptero para transporte para o Hospital de Base. Ela morreu na unidade de saúde horas depois.
Crime
O oficial de dia do 27º Batalhão de Polícia Militar, tenente Gilvan Andrade, afirmou que os tiros foram disparados por um homem encapuzado. Ele teria chegado local de bicicleta e atirado contra um grupo de rapazes, em uma praça da região.
“Aquelas quadras são conhecidas pelo tráfico de drogas. A gente faz várias operações, mas é complicado. Deve ter sido algum acerto de contas, a gente não tem registro de gangues”, afirmou o tenente.
Os “alvos” se dispersaram e não ficaram feridos. A menina estava a cerca de 150 metros do local onde foram disparados os tiros, em um parquinho na frente de casa. Outras duas crianças também brincavam no local, mas não foram atingidas.
Em entrevista à rádio CBN, a mãe da menina disse que não costumava deixar a filha sair de casa sozinha, mas permitiu que ela fosse à praça brincar nesta terça como prêmio por ter tirado boas notas na escola.
Após disparar duas ou três vezes, segundo informações de testemunhas à PM, o homem fugiu com a arma e a bicicleta. O suspeito tem antecedentes criminais por tráfico de drogas. Ele responderá por atos infracionais análogos a tentativa de homicídio, já que os alvos eram os garotos, e homicídio, por causa da morte da garota. A arma usada no crime não foi localizada.