O trajeto da tocha olímpica em Brasília incluirá homenagem a um atleta pouco conhecido no país, mas com uma grande história e serviços prestados. Ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, o general de brigada Francisco Rabelo Leite Neto competiu nos jogos de Roma, na Itália, em 1960, representando o Brasil nas provas de hipismo. Também disputou dois Pan-Americanos.
O sergipano de Riachuelo completaria 85 anos em julho se um infarto não o tivesse levado aos 48. “Ele jogou uma partida de polo com os amigos e reclamou de dor nas costas. No Hospital das Forças Armadas, passou por exames na ortopedia até descobrirem que ele estava infartando”, conta o sobrinho Henrique Luduvice. Duas décadas após a sua morte, a Polícia Militar batizou o Regimento de Polícia Montada de Francisco Rabelo Leite Neto. Afinal, foi dele a ideia de fazer o policiamento a cavalo na cidade, ainda nos idos de 1979, quando o então presidente João Batista Figueiredo o nomeou comandante da PM. No entanto, a ideia só saiu do papel em 1980, com a inauguração do Núcleo do Regimento de Cavalaria.
É justamente nesse local, na Granja Modelo, no Riacho Fundo I, que atletas e ex-atletas vão parar com a chama que representa o espírito olímpico na próxima terça-feira. Fábio Rabelo, um dos quatro filhos de Rabelo — ele teve ainda três meninas — , estará em Brasília para participar da homenagem.
Em 1960, o então capitão Francisco Rabelo representou o Brasil na prova de salto. A equipe dele era chefiada pelo coronel Elói Meneses e contava com os atletas major Renyldo Ferreira, o capitão Oscar Sotero e o capitão Fernando Monzon. Na prova individual, Rabelo obteve 29 pontos e ¾ na primeira passagem, e acabou eliminado na segunda. Na prova por equipe, o grupo não conseguiu a classificação. O militar participou ainda de dois pans: o de Chicago, em 1959, quando ficou em 2º lugar por equipe, e no de São Paulo, quando conquistou a 7º posição na prova de hipismo por equipe.
Nos arquivos de família, há imagens do coronel no desfile da equipe no Jogos Olímpicos de Roma. Em outras, ele aparece saltando em provas de hipismo. E, quando o príncipe Charles, do Reino Unido, esteve no Brasil, em 1978, jogou uma partida de polo e o coronel Rabelo estava no time do represente da Corte britânica. “Sem dúvida, ele esteve entre os três cavaleiros mais importantes do Brasil”, afirma Luduvice.
Memórias da fazenda
Aos 52 anos, Fábio Rabelo, que é arquiteto e mora em Recife, guarda na memória a lembrança do “pai herói” e de um grande conhecedor de cavalos. “Eu me lembro de, muito pequeno, saindo com ele a cavalo na fazenda do meu avô, em Riachuelo. Ele pediu ao vaqueiro que selasse o cavalo mais arisco. Ai, passou a perna no animal e montou. O vaqueiro ficou sem entender por que todos na fazenda evitavam montar o animal justamente porque ele era bravo”, conta.
Mesmo pequeno, Fábio sabia exatamente porque o animal ficou quieto. “Eram perceptíveis para qualquer um a sensibilidade e habilidade dele com os animais. Isso saltava aos olhos de qualquer um. Eu costumo brincar que não queria saber nada. Só 50% do que ele conhecia sobre cavalos”.
Nas festas de família, o “tio-padrinho Chico Leite” era uma atração a mais, nas memórias do sobrinho Luduvice. “Não só pela facilidade de comunicação como também pelas muitas histórias que tinha para relatar sobre o Exército, os diversos comandos que exerceu e também sobre as competições esportivas das quais participou”, relembra.
Apesar de ter vivido muitos anos no Rio de Janeiro e em Brasília, o ex-atleta olímpico jamais se afastou da cultura e dos costumes nordestinos. A cantora Amelinha estava entre as artistas favoritas do pai — especialmente quando interpretava Frevo Mulher. No futebol, o coração batia pelo Flamengo.
Sobre a homenagem ao pai, Fábio diz que o sentimento é de felicidade: “É um reconhecimento. Ele foi capaz de conquistar o que uma minoria muito reduzida é capaz, e numa época de bastante dificuldade. Quem participou de uma olimpíada sabe a dificuldade que é”.