Mulheres engravidam menos e mais tarde; migração ‘compensa’ queda.Número de filhos por mulher caiu, mas planejamento ainda desafia governo.
O número de nascimentos no Distrito Federal caiu 31% entre 2000 e 2014, segundo dados divulgados nesta terça-feira pela Secretaria de Saúde. Em 14 anos, a taxa passou de 22,8 para 15,7 nascimentos a cada 1 mil habitantes.
Os dados foram retirados do Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc), banco que reúne informações de todo o país. No período analisado, a taxa de natalidade não cresceu nenhuma vez e ficou estável apenas entre 2012 e 2013. Em todos os outros períodos, houve redução.
As tabelas mostram que a taxa de natalidade se comporta de modo diferente em cada região administrativa. Nos lagos Norte e Sul, por exemplo, a taxa em 2014 ficou entre 9,2 e 9,4 nascidos vivos a cada 1 mil habitantes. No Itapoã e na Estrutural, o índice atingiu 22 por 1 mil.
O dado geral do DF é levemente superior à media registrada em todo o país, que ficou em 14,47 nascimentos por 1 mil habitantes em 2014 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A queda na série histórica do DF acompanhou a redução de nascimentos em nível nacional, que foi de 30,6%.
Fecundidade
O relatório da Secretaria de Saúde também mostra redução forte na taxa de fecundidade, número que indica a quantidade de filhos por mulher em idade fértil. A queda em 14 anos foi de 27%.
Em 2000, as moradoras do DF chegavam à menopausa com média de 2,2 filhos. Em 2014, o número tinha caído para 1,62. O índice é inferior aos 2,1 da chamada “taxa mínima de renovação”, valor necessário para que o total de habitantes permaneça estável, sem decréscimos.
A pediatra da Secretaria de Saúde e membro da Rede Cegonha Mirian Santos diz que a forte migração de outras regiões rumo ao DF ajuda a “reforçar” os números, evitando que a população local diminua. A redução das taxas de fecundidade e natalidade, segundo ela, tem a ver com um maior planejamento familiar.
“A nossa população está envelhecendo, cada vez vão nascer menos crianças. As mulheres estão deixando para ter os bebês mais tarde, depois que se formam, estudam, começam a trabalhar”, diz Mirian.
Em 2000, 19,8% das novas mães do Distrito Federal tinham menos de 20 anos, e 23,6%, mais de 30 anos. Em 2014, o índice de mães adolescentes caiu para 13,2%, enquanto as mulheres com 30 ou mais passaram a representar 41,1% das gestantes. A mudança também teve um “recorte financeiro”: quanto maior a renda e a escolaridade da mãe, maior o adiamento da gravidez.
Acompanhamento
O estudo também mostra que, em 2014, quase 70% das gestantes do DF passaram por sete ou mais consultas de pré-natal, número recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O índice aumentou, mas a informação de que 3 em cada 10 mães não têm o acompanhamento necessário ainda preocupa.
“Quando a gente vê uma população mais jovem ou com menos escolaridade, elas ainda não têm esse número. Muitas vezes, relatam que já fizeram pré-natal do filho anterior, então não precisariam. Falta essa consciência, mesmo com tanta informação e recurso disponível todos os postos de saúde”, declara.
Os dados de natalidade e fecundidade também são usados pelo DF para planejar as ações de saúde em médio e longo prazo. “No Lago Sul e no Lago Norte, por exemplo, a gente pode acabar percebendo que a estrutura de pediatria hoje já é ‘suficiente’, porque não vai aumentar tanto a demanda. Em outras regiões, pode haver previsão de aumentar os médicos de família, os pediatras.”
Mudanças
Os dados a serem consolidados de 2015 e 2016 podem guardar mudanças ainda mais bruscas no quadro de nascimentos do DF e de outras regiões do país. O surgimento do vírus da zika e a correlação com o aumento dos casos de microcefalia fizeram com que famílias adiassem os planos de gravidez e redobrassem os cuidados com o planejamento familiar.
“Por enquanto, os dados mais recentes são provisórios e é difícil cravar uma diminuição. É lógico que houve uma grande preocupação, especialmente a partir de outubro do ano passado. Se houver mudança na curva de natalidade, pode ser que ela apareça em alguns anos”, diz a pediatra.
Enquanto os dados não se confirmam, o GDF enfrenta o desafio de ampliar a conscientização sobre métodos contraceptivos, planejamento familiar e acompanhamento gestacional, sobretudo entre os mais jovens e mais pobres. Gravidezes não-planejadas costumam ser “mais caras” para o estado, com impactos na rede pública de saúde e na assistência social.
“Existe uma área técnica da secretaria voltada para a saúde do adolescente e da pessoa jovem. A questão de as pessoas não valorizarem a importância do planejamento é algo que precisa mudar, com a educação da população e a disponibilização de acesso às pessoas. Todas as unidades de saúde oferecem [informação e métodos contraceptivos], mas precisamos que as pessoas aprendam a buscar.”