A ideia é que, com o aprendizado, elas possam incrementar o orçamento
Quase mil quilômetros separam o município piauiense de Gilbués e a capital do Brasil. Como tantos outros, desde 1960, Diana Alvez Custódio, 33 anos, veio do Nordeste na expectativa de encontrar no cerrado uma melhor condição de vida. E o caminho que ela escolheu foi o artesanato. Enrolando vagarosamente o capim-colonião, ela aprendeu durante duas semanas com um dos mestres, João da Fibra, como transformar a beleza da natureza em arte. “Essa é a primeira vez que tenho contato com o artesanato. Sempre trabalhei na roça, mas acho que isso pode me ajudar a conseguir uma renda melhor”, espera Diana, acompanhada da filha, Bárbara, de 1 ano.
João foi professor dela e de outras 10 mulheres que vivem na Chapadinha, zona rural de Brazlândia. Durante o período do curso, elas puderam entender melhor como a delicadeza do capim pode se converter em bolsas, cestos e objetos de decoração. “O capim-colonião sempre foi tratado como um alimento para gado. O que quero mostrar é que ele pode ser transformado em arte, que é uma dádiva da natureza e está aí, fácil para ser conseguido”, explica João da Fibra. Trabalhando com artesanato desde os 13 anos, ele é hoje um dos mais consagrados artesãos do país e o único que consegue lapidar tão bem essa matéria-prima.
Só que ele não quer ser o único. E é por meio das mulheres da Associação das Donas de Casa de Chapadinha e Circunvizinhanças que João espera conseguir deixar seu conhecimento. “Sempre tive medo de morrer e não deixar o meu legado. Para que isso não aconteça, é preciso ensinar as pessoas. A ideia de colocar isso para a frente existe para manter essa história. Sou um discípulo e quero deixar novos discípulos.” O curso, que tem apoio do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-DF), encerra-se hoje e outro grande desejo de João é que mais pessoas possam visitar a área rural, conhecendo de perto não só o trabalho que suas alunas deixaram no capim, mas todos os outros que, nas mãos delas, reforçam o artesanato do Centro-Oeste. Para, ao mesmo tempo, conhecer a história dessas pessoas. Afinal, como não ser cativado pelo encantamento infantil de uma senhora de 78 anos enrolando fibras de capim? Lindalra Carvalho da Silva, presidente e fundadora da associação, não esconde o quanto está empolgada em conseguir aprender uma nova forma de artesanato. “Eu me sinto como uma criança de 10 anos. Até tive dificuldades no começo, porque sou canhota, mas, depois que aprendi. agora não quero mais parar.”
Comunidade
O entusiasmo de Lindalra não se limita ao conhecimento adquirido. Lutando há mais de 30 anos para trazer melhorias para as mulheres da Chapadinha — “Tudo começou porque a gente precisava de uma creche para que elas pudessem deixar os filhos e irem trabalhar”, lembra —, a presidente da associação se anima com a possibilidade de o capim que ela via diariamente em todas as propriedades da região se tornar algo capaz de trazer dinheiro para as associadas. “Antigamente, não éramos tão respeitados. Hoje, eu me sinto feliz de ver que todas as mulheres estão conseguindo trabalhar, fazer qualquer tipo de bordado, qualquer tipo de roupa e estão querendo aprender mais técnicas para conseguir ainda mais serviços”, completa.