Ex-presidente da Transpetro disse que repassou propina via doação legal.
Petista afirmou que acusação de Sérgio Machado é ‘mentirosa’.
Ex-líder do governo Dilma Rousseff na Câmara, o ex-deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) classificou nesta quinta-feira (16) de “mentirosa e criminosa” a informação do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado de que teria repassado propina ao petista por meio de doação eleitoral legal. O ex-parlamentar afirmou ainda que pretende processar Machado por “calúnia”.
Em seu acordo de delação na Lava Jato, o ex-dirigente da subsidiária da Petrobras disse que repassou propina a mais de 20 políticos, entre os quais Vaccarezza. O ex-deputado teria recebido R$ 500 mil doados pela Camargo Corrêa, informou Machado aos procuradores da República.
Machado relatou à Procuradoria Geral da República ter obtido R$ 1,7 milhão em doações ilegais para abastecer campanhas de políticos petistas nas eleições de 2010 e 2014. Os recursos, relatou, eram de construtoras contratadas pela estatal e eram pagos como propina.
O conteúdo da delação veio à tona na quarta-feira (15), após homologação do Supremo Tribunal Federal (STF). Em troca da colaboração, Machado pode ter a pena reduzida caso seja condenado por algum crime.
“É uma acusação mentirosa e criminosa. Vou processá-lo por danos morais e denunciação caluniosa”, afirmou Vaccarezza em uma entrevista coletiva concedida no Salão Verde da Câmara dos Deputados. Com a autorização do presidente em exercício da Casa, Waldir Maranhão (PP-MA), o ex-líder do governo usou o púlpito destinado para entrevistas apenas dos deputados.
Na sua delação, Machado relata que mantinha uma relação de proximidade política com Vaccarezza e que, em 2010, o ex-deputado foi a Transpetro e pediu apoio a ele para sua campanha à Câmara.
Machado relatou ainda que se encontrou com Vaccarezza em um hotel em Brasília e disse que poderia ajudar com R$ 500 mil por meio de doação oficial ao diretório do PT em São Paulo. Esse valor, segundo Machado, era oriundo de vantagens ilícitas pagas pela Camargo Corrêa, contratada pela Transpetro.
Vaccarezza nega, porém, ter pedido qualquer dinheiro a Machado e afirma não ter recebido nenhum repasse do diretório estadual.
“Eu era líder do governo, não tinha intimidade para falar com ele sobre dinheiro. Eu nunca falei de dinheiro com ele. Eu procurava direto as empresas [para pedir doações legais], não precisava de intermediários”, afirmou.
O ex-parlamentar acrescentou ainda que todas as suas doações foram legais e que nunca fez caixa dois.
Outros petistas citados
Na delação premiada, Sérgio Machado disse que foi procurado por mais de 20 políticos de seis diferentes partidos no período que comandou a Transpetro, entre 2003 e 2014. Segundo ele, esses políticos buscavam ajuda para campanhas e os pedidos de doação eram repassados a empreiteiras.
Além de Vaccarezza, também foram citados por Sérgio Machado outros quatro políticos do PT:
– A ex-ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais e Direitos Humanos, no governo de Dilma Rousseff). Ela teria recebido R$ 500 mil em 2010 via Camargo Corrêa;
– O deputado federal Luiz Sérgio (RJ), ex-ministro de Dilma nas Relações Institucionais. Teria recebido R$ 200 mil em 2010 e R$ 200 mil em 2014 via Queiroz Galvão;
– O ex-deputado Jorge Bittar (RJ). Teria recebido R$ 200 mil em 2010 via Queiroz Galvão;
– O ex-deputado Edson Santos (RJ), ex-ministro da Igualdade Racial no governo Lula. Teria recebido R$ 142,4 mil em 2014 via Queiroz Galvão.
Todos negaram ter recebido recursos ilícitos.
Veja abaixo o que Machado contou sobre cada um e que eles disseram para se defender.
arquivo (Foto: Fernando Brito/G1)
Ideli Salvatti
Nos depoimentos, Machado contou que Ideli Salvatti o procurou em 2010 e enviou seu chefe de gabinete para pedir doações para a campanha ao governo de Santa Catarina. Na época, ela era líder do governo no Senado e disse que estudava construir estaleiros em seu estado.
Machado disse que entrou em contato com a Camargo Corrêa, contratada pela Transpetro, e viabilizou doação oficial de R$ 500 mil para a petista.
Em nota, a ex-ministra Ideli Salvatti, do PT, diz que “não faz declarações a respeito de delações de réus confessos sem ter acesso ao texto”.
Ela acrescena que “as doações à sua campanha eleitoral ao governo de Santa Catarina em 2010 foram declaradas e aprovadas pelos órgãos competentes, e que sua conduta pública é regida pelos princípios da ética, moral e legalidade”.
de arquivo (Foto: JBatista / Agência Câmara)
Cândido Vaccarezza
Machado contou que o ex-deputado Cândido Vaccarezza o procurou diversas vezes e o chamou para uma reunião com 10 a 12 deputados em Brasília, para falar “o projeto dos navios, conjunturas políticas e questões nacionais”. Na época, eles teriam tentado apresentar empresas interessadas em contratos com a Transpetro, mas não teriam obtido sucesso.
Em 2010, Vaccarezza foi à Transpetro pedir apoio. Depois, o executivo encontrou com o deputado num hotel em Brasília e disse que poderia ajudar com R$ 500 mil, a serem doados para o diretório do PT em São Paulo. Foi feito repasse de R$ 500 mil pela Camargo Corrêa.
A defesa do ex-deputado do PT Cândido Vaccarezza classificou de “absurda” a denúncia e disse que ele nunca tratou de doações de campanha com o ex-presidente da subsidiária da Petrobras. “Quando Sérgio Machado entrou no governo federal, Vaccarezza era deputado estadual”, afirmou.
(Foto: Reprodução/TV Globo)
Jorge Bittar
Em depoimento, Machado disse que Bittar o procurou em 2010 para pedir ajuda. O executivo conseguiu R$ 200 mil da Queiroz Galvão doados para o diretório do PT no Rio de Janeiro. O valor, disse, era oriundo de vantagens indevidas pagas pela construtora.
O G1 entrou em contato às 16h18 com o ex-deputado do PT Jorge Bittar, atual presidente da Telebras, e não obteve resposta até as 18h50.
(Foto: Reprodução GloboNews)
Luiz Sérgio
O ex-presidente da Transpetro também narrou que obteve doações para Luiz Sérgio duas vezes, em 2010 e 2014. Ao falar do deputado, afirmou que ele era “defensor da indústria naval”. “Após o pedido, ele [Machado] estudava e os chamava novamente para dizer de onde viriam os recursos”, registra a delação.
Luiz Sérgio teria obtido repasses de R$ 200 mil em 2010 e outros R$ 200 mil em 2014, sempre pela Queiroz Galvão. A construtora também doou R$ 200 mil para Jandira em 2010.
O deputado Luiz Sérgio (PT-RJ) afirmou que todo o dinheiro utilizado em sua campanha foi declarado à Justiça Eleitoral.
“A regra hoje é financiamento privado de campanha, o que se recebe das empresas como doação é declarado. Eu fiz o que a legislação permite. A declaração à Justiça é uma demonstração clara de boa fé, quem pratica corrupção não declara doação”, afirmou.
(Foto: Roosewelt Pinheiro/ABr)
Edson Santos
No caso de Edson Santos, Machado disse que foi procurado em 2014 para ajudar na campanha a deputado federal. A doadora, também contratada da Transpetro, foi a Queiroz Galvão, no valor de R$ 142.400,00.
O ex-deputado e ex-ministro Edson Santos, do PT, afirmou que é “absurda” a acusação de Machado de que ele recebeu dinheiro de propina.
“Fui presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Marítima Brasileira e tive relação com a Transpetro por este motivo. Não houve nada fora do script. Não procurei Sérgio Machado para pedir propina. Minha relação pessoal com ele não chegava a esse nível de intimidade. A doação foi legal e está registrada no TSE. Estou mais pobre do que quando entrei na política. O delator está desviando o foco da investigação, quem tem milhões lá fora deve ser o foco, e não doações legais de empresas”, afirmou Santos.
O que dizem as empresas
Procurada, a Transpetro informou que analisa o conteúdo das delações de Sérgio Machado e de seus filhos, que “é vítima da prática de delitos” e que, como tal, será beneficiada pela multa a ser paga pelo delator. A empresa ressalta ainda que “atua em conjunto com a Petrobras e colabora com os Órgãos Externos de Controle, Ministério Público e Poder Judiciário”.
A Queiroz Galvão informa que não comenta investigações em andamento e diz que todas as doações eleitorais que fez “obedecem a Legislação”.
A Camargo Corrêa afirma que “colabora com a Justiça por meio de um acordo de leniência.”
A Galvão Engenharia informou que não vai comentar.