Porta de entrada para a criminalidade, as drogas têm índices crescentes de apreensão no Distrito Federal: nos primeiros cinco meses, o número é 140% maior que em 2015. Não há nenhum grande narcotraficante na capital, mas criminosos articulados atuam fortemente em locais específicos e movimentam grandes quantidades de drogas e dinheiro. Esse, inclusive, é um dos principais motivos que levam à prisão.
O Jornal de Brasília fez um raio X das drogas na capital e constatou que é a maconha o entorpecente mais apreendido. Só nos cinco primeiros meses do ano, 2,97 toneladas foram tomadas pela segurança pública. O número é 158% maior que o mesmo período de 2015 e já supera o montante capturado em todo o ano, quando a balança atingiu 2,33 toneladas.
Balanço
Entre janeiro e maio, mais de 3,14 toneladas de drogas foram retiradas das ruas do DF, um crescimento de 140% em relação ao mesmo período de 2015. Desse total, a maconha representou 94,5% das apreensões. Merla, cocaína, crack e haxixe estão incluídos na conta.
Também foram tirados de circulação 95 comprimidos de ecstasy, 1.885 microsselos de LSD e 63 litros de lança-perfume.
No mesmo período, dados da Secretaria da Segurança Pública mostram que 1.122 flagrantes de tráfico de drogas foram registrados na capital, uma média de sete por dia. As ocorrências de uso e porte somaram 2.891, mais de 19 diários. Os números são altos, mas 13% menores que os 1.289 casos de tráfico e 7,1% inferiores às 3.210 ocorrências de uso e porte em 2015.
“Esse tipo de dado permite mensurar como está a efetividade das polícias Militar e Civil no enfrentamento ao crime e não indica que o comércio de drogas aumentou ou diminuiu”, ressalta a pasta.
Combate prioritário
“O tráfico é um crime prioritário pela gravidade. Em torno dele há vários outros crimes, como homicídio, roubo, furto e lavagem de dinheiro. Combatendo as drogas, enfrentamos indiretamente vários outros crimes, e a repressão tem impacto direto nos índices de segurança”, explica Rodrigo Bonach, delegado-chefe da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord).
Não há facções, mas traficantes articulados
De acordo com o delegado Rodrigo Bonach, não existe no DF nenhum traficante nos moldes do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde há grandes facções. “Há traficantes mais articulados, que conseguem trazer grandes quantidades. A maior parte da droga, sobretudo cocaína e maconha, chega da região fronteiriça do Paraguai, Bolívia, Peru e Colômbia, países que são os maiores fornecedores ao Brasil. Nosso país, além de destino, é rota de passagem, especialmente para a África e Europa”, informa o chefe da Cord.
“O combate às drogas é uma prioridade do governo”, avisa Rafael Leite de Paula, presidente do Conselho de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Justiça. De acordo com ele, o alto índice de criminalidade está intimamente ligado ao abuso das drogas, incluindo o álcool, uma das portas de entrada ao consumo.
“Entre os menores infratores, percebemos que há efeito de Rohypnol, maconha e cocaína relacionado aos crimes”, diz, estimando que 80% dos detentos adultos tenham relação com drogas.
Ceilândia em destaque
O delegado Rodrigo Bonach diz que, historicamente, Ceilândia sempre foi problemática em relação a drogas, mas Samambaia tem se tornado um polo. Gama, Santa Maria, São Sebastião e Planaltina também estão no foco de traficantes. No Guará, as quadras 38 e 40 têm problemas concentrados. Já o consumo de crack é intenso nas áreas de maior movimento, tanto em Taguatinga, como Ceilândia e Plano Piloto, já que os viciados buscam locais com grande aglomeração para sustentar o vício com pequenos delitos.
Dados mais recentes sobre a situação de menores infratores no País, divulgados ano passado pelo Mapa do Encarceramento, mostram que o tráfico de drogas é o segundo ato infracional mais recorrente entre os adolescentes, atrás apenas de roubo em números absolutos. Em relação aos detentos adultos, porém, a Secretaria de Segurança diz não ter o quantitativo oficial de envolvimento com drogas entre os 14.712 internos.
Tratamento
O atendimento a dependentes químicos na rede pública é feito nos nove centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps-AD). Em Sobradinho, Santa Maria, Guará, Ceilândia, Itapoã, as unidades funcionam como acolhimento. Os Caps-AD tipo III, em Samambaia e na Rodoviária, oferecem também atendimento noturno com oito leitos. Há, ainda, a modalidade Caps- AD I, em Taguatinga e em Brasília, que atende a menores.
Os hospitais regionais de Sobradinho, Santa Maria, Gama, Ceilândia, Guará e Paranoá, o Hospital de Base, o Materno Infantil e o São Vicente de Paulo oferecem apoio para casos de intoxicação e atendem 12 mil usuários por mês.