No sábado, três bandidos armados fizeram uma mulher de refém e levaram o carro e diversos objetos de casa no local
O assalto a uma residência no Lago Sul chamou atenção dos moradores da região, que reclamam da falta de planejamento do governo com as ações da desocupação da Orla do Lago Paranoá. No sábado, três bandidos armados fizeram uma mulher de refém e levaram o carro e diversos objetos da casa. Os criminosos entraram no local pelos fundos — mesma área que há oito dias foi alvo da operação de desobstrução da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis). Os residentes dizem que a derrubada de cercas faz com que a segurança diminua.
A casa fica localizada bem ao lado do Parque Asa Delta. Foi por lá que o governo retomou o processo de desobstrução das margens do espelho do Lago Paranoá, depois de mais de 160 dias de travamento na Justiça. Uma decisão do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região havia interrompido o trabalho do Executivo nesse período por considerar que as ações causavam danos ambientais, porém o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) liberou o processo novamente. A única casa atingida nos quatro primeiros dias de retomada é de propriedade do empresário do ramo das telecomunicações Amilcare Dallevo Júnior, dono da emissora Rede TV.! A residência acabou sendo alvo dos bandidos, que aproveitaram a cerca frágil colocada pelos proprietários para invadir o local.
O crime ocorreu por volta das 16h do sábado. Armados, os três criminosos fizeram uma funcionária de refém e vasculharam a residência por cerca de uma hora, antes de fugirem com um veículo BMW 320i GT. Além do carro, eles levaram o cofre da casa, bebidas, roupas, computador, equipamentos eletrônicos e outros objetos. Com ajuda do rastreador do automóvel, a Polícia Militar localizou o carro abandonado na QN 421 de Samambaia. Menos de quatro horas após o roubo, a corporação também conseguiu prender os bandidos em uma casa da região. Eles estavam consumindo parte das bebidas levadas da casa do empresário. No local, a PM também localizou duas armas de fogo, incluindo uma pistola calibre .45, de uso do Exército.
Moradores do Lago Sul ficaram amedrontados com a ação dos bandidos, principalmente pelo fato de ter ocorrido em uma área desocupada recentemente pelo governo. Eles afirmam que houve uma falta de planejamento em questão de segurança. “Já que está sendo feita a desobstrução, as autoridades deveriam se preocupar também com a violência. Não é somente tirar cercas e deixar o espaço abandonado. Deve haver um planejamento maior”, reclamou um morador de uma casa com acesso à orla, que não quis se identificar.
A reclamação é a mesma em áreas que já foram desocupadas no ano passado. No conjunto 0 da QL 12, o aposentado Orlando Alves Arantes, 66 anos, relatou que, após a operação, percebeu aumento no movimento de pessoas nos fundos de sua casa. “Algumas passam observando a casa. Esse assalto no QL 14 só mostra que falta segurança na região. As ações não deveriam ser assim. Deviam vir com um planejamento. Ou seja, com acesso a todos e também policiamento”, ressaltou.
A Associação dos Amigos do Lago Paranoá (Alapa), que é contra a desocupação imediata da orla, defende que a operação sem a organização prévia e a participação da sociedade não tem condições de ser realizada. Segundo o presidente da instituição, Marconi de Souza, boa parte das áreas estão abandonadas. “Estão destratadas, com mato alto e lixo para todo os lados. O governo age sem nenhum planejamento. Eles deveriam por exemplo, abrir a quadra, porém garantir junto o policiamento. Os bandidos entraram pela orla, estavam armados e até poderiam ter matado alguém. Esse caso é grave”, destacou.
Ações discutidas
De acordo com a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, as ações de segurança no Lago Sul são amplamente discutidas com a comunidade. De janeiro a maio de 2016, foram registrados seis roubos a residência em toda região. Em maio, nenhum. Em todo ano de 2015, foram nove ocorrências. A pasta informou ainda que, no caso específico do roubo na QL 14, ocorreu uma ação isolada em que foi dada uma pronta resposta das forças de segurança. “Ressaltamos que o ocorrido, assim como outros crimes da mesma natureza naquela região, não possui relação com a desocupação da orla. O caso está ainda sob investigação, pois há suspeita de envolvimento de ex-empregados”, ressaltou a secretaria, em nota. Ainda de acordo com a pasta, está em andamento um projeto de ações integradas para a revitalização da orla do Lago Paranoá, e que a Polícia Militar reforçou as rondas nos locais já desocupados.