Um giro por Brasília e fomos conferir o clima de ansiedade antes, durante e depois do primeiro jogo das Olimpíadas, que teve a estreia da Seleção Brasileira de Futebol
Embora a abertura oficial das Olimpíadas esteja marcada só para hoje à noite, no Rio de Janeiro, as disputas por medalhas já começaram — pelo menos no futebol feminino e no masculino. O Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha foi palco de duas partidas da primeira rodada do torneio masculino: uma entre Dinamarca e Iraque; outra, em seguida, do Brasil contra a África do Sul.
Era a chance de ver a Seleção ganhar em terra vermelha do Cerrado. Os servidores públicos Neide Goulart, 40 anos, e Marcos Porfilo, 43, não conseguiram comprar ingressos para o último Mundial e por isso foram assistir aos Jogos Olímpicos com os filhos. “É muito bom proporcionar um momento deste para as crianças. Que os jogadores façam bonito em campo, coisa que não está sendo feita na política”, aproveitou para criticar.
E os torcedores estavam confiantes. O estacionamento do estádio foi tingido pelas cores da Bandeira. O clima de confraternização e alegria ganhou reforço de batuques, tamborins e pandeiros. Muitos arriscavam palpites altos, como 3 x 0 para a Seleção.
Também do lado de fora, três brasilienses, do grupo Brazuka’s, exibiam passos de samba. Flavinho Sambista, 39; Isabela Teles, 21, e Taís Campelo, 25, já tinham apresentado esse talento na Copa. “Passamos pelos principais pontos turísticos da capital e queremos repetir isso agora”, declarou Taís.
E não faltaram estrangeiros para reforçar a torcida verde e amarela. Com a proibida vuvuzela na mala, Guimarães Arkadyo, 46, chegou de Gana há quatro dias e está hospedado na casa de amigos. “Não estou muito interessado nos jogos. Vim mesmo ter contato com o povo brasileiro, que é tão bem falado em todo o mundo. Estou achando Brasília uma cidade espetacular. O céu é belo e os monumentos ,mais ainda”, elogia.
Nativos do próximo adversário do Brasil, o cônsul Said Alreemi, 61 e os engenheiros Rium-Beteer, 29 e Marvin-Better, 26, vieram do Iraque e há dois meses moram no Brasil. Chegaram cedo ao estádio e vão tentar assistir a todos os jogos da seleção do país de origem. “Vamos aproveitar e acompanhar o jogo da Seleção Brasileira”, disse Said.
Um grupo de 15 refugiados iraquianos, moradores de Sobradinho 2, estavam entre os primeiros a chegar. Eles saíram de casa às 10h30, todos uniformizados e carregando a bandeira da terra natal. Morando no Brasil há dois anos, deixaram Bagdá por causa da guerra. Mazin, 25 anos, é o mais animado do grupo. “O Iraque é a minha vida. Se não tivesse guerra, estaria morando lá”, lamenta.
Quem não foi para o estádio torcer marcou ponto na Torre de TV. Enquanto Iraque e Dinamarca se enfrentavam no campo, cerca de 200 pessoas começavam a festa na praça de alimentação da feira. Ivonei Zancanaro levou a família para almoçar ali e fazer um esquenta antes de o Brasil jogar. “A comida aqui é mais gostosa e barata. Vamos ficar bebendo na feira até perto do horário do jogo, aí desceremos para lá”, conta.
Apesar de a clientela parecer animada, a Associação dos Artesãos, Artistas Plásticos e Manipuladores de Alimentos da Feira da Torre de Televisão (AFTTV) acredita que as vendas serão tímidas em comparação à época do Mundial. Expectativa que se concretizou no primeiro dia dos jogos. Eliane Ferreira, gerente de um restaurante no local, conta que ficou decepcionada com o movimento. “Esperávamos bem mais gente. Enchemos o freezer e reforçamos a equipe de funcionários, mas até agora está bem médio. Na época da Copa, mal dava para caminhar por aqui, enquanto hoje nem turistas gringos nós recebemos”, conta.
Tudo em paz
Nas arquibancadas, o ritmo foi ditado pela harmonia. A Polícia Militar fez a segurança a pé, além de usar cavalos e motocicletas. A equipe organizadora dos jogos também orientava os torcedores. Objetos como bolsas, câmeras fotográficas e mochilas são proibidos, por isso, muita gente teve que deixar os pertences do lado de fora. Nos acessos, a equipe de segurança usou detectores de metal.
As longas filas antes da abertura dos portões incomodaram o torcedor ansioso. Quase cinco minutos antes início do jogo, enquanto ouviam-se gritos de euforia de quem já estava do estádio, outros ainda aceleravam o passo para não perder o início da partida.
Na delegacia do estádio, no entanto, não houve queixas. O comandante da PM, coronel Marco Antônio Nunes, acompanhou a operação pessoalmente em frente ao Estádio. “Sempre estou presencialmente em todas as ações para apoiar a tropa”, destacou. No fim do dia, a Secretaria de Estado da Segurança Pública e da Paz Social publicou um balanço em que declarou que “a Operação Olimpíada no primeiro dia de competições em Brasília transcorreu com tranquilidade”.
Quem esteve por lá Brayan Lopes, 5 anos, é fanático por futebol. Tem fotos ao lado dos ídolos Neymar e Gabigol, titulares da Seleção Brasileira. Apesar de conhecer tudo sobre o universo da bola, ontem assistiu a um jogo do Brasil pela primeira vez. “Antes de ele nascer, eu jogava bola. Hoje, nem me interesso. Mas é por ele que eu venho. Isso é um sonho para o Brayan e tudo que estiver ao meu alcance para vê-lo feliz, eu faço”, alega a mãe dele, Nilza Lopes.
José Maria Couto, 63 anos, mais conhecido como Barack Obama de Brasília, não conseguiu ingresso para o jogo de ontem. Porém, esteve presente nos arredores do estádio para sentir o clima olímpico. “Eu fui em todos os jogos da Copa, e o clima das pessoas em relação ao evento estava diferente, mais quente. Se eu conseguir dinheiro para ir a algum jogo, estarei lá dentro com certeza”, confessa o garçom.