Em alguns casos, procedimentos que custariam R$ 15 mil foram cobrados até R$ 70 mil. A investigação aponta que planos de saúde e clínicas também foram lesados
Começam hoje as oitivas das novas vítimas identificadas pela Delegacia de Combate ao Crime Organizado (Deco) durante a Operação Mister Hyde. Com os depoimentos e a análise do material apreendido nas diligências que revelaram a atuação do esquema criminoso articulado por médicos e empresários do DF, a Polícia Civil e o Ministério Público pretendem identificar outros profissionais envolvidos — além dos sete médicos presos. Em alguns casos, procedimentos que custariam R$ 15 mil foram cobrados até R$ 70 mil. A investigação aponta que planos de saúde e clínicas também foram lesados.
O delegado adjunto da Deco, Adriano Valente, informou que, no fim de semana, não foram feitas diligências externas, como as realizadas no Hospital Home (613 Sul), no escritório TM Medical (Sudoeste) e nas casas dos médicos. Agora, as equipes estão debruçadas no farto material apreendido na ação desencadeada na quinta. São documentos, prontuários e produtos usados em cirurgias, tudo encontrado no cumprimento de mandados de busca e apreensão. Os depoimentos se somarão às provas.
Além disso, dos sete profissionais citados na operação, dois têm ações judiciais relativas a erro médico na Justiça do DF. Alguns processos se arrastam há mais de seis anos. Em um deles, na 16ª Vara Cível, a família pede indenização a Leandro Pretto Flores por danos causados após uma biópsia no cérebro. No processo, o juiz pede a indicação de um perito para o caso, e o médico acusado no esquema indica Johnny Wesley Gonçalves Martins, suspeito de ser o gerenciador da organização.
Outra ação corre contra o neurocirurgião Rogério Damasceno, na Vara Cível do Riacho Fundo. Ao ler sobre o caso no Correio, o militar Ederson Prado Sales, 32 anos, relacionou o nome do profissional ao procedimento malsucedido que deixou a sogra dele, Luzia Bernardes Barbosa, 43 anos, cega. Ederson conta que, em 2012, Damasceno informou à família que a paciente teria de introduzir um balão na face para corrigir um trauma. Deveria ser colocado na altura do maxilar para aliviar a pressão. “Ela entrou no centro cirúrgico com a visão perfeita, conforme documentos comprobatórios e, no mesmo dia, ela não mais enxergava.”
A família recorreu às esferas civil, criminal e administrativa. O advogado de defesa de Damasceno, Pedro Ivo Velloso, informou que perícia no processo não concluiu a ação como erro médico. “Neste caso, a acusação da vítima é frágil. A perita diz que a perda de visão pode não ter relação com o procedimento”, alegou.
Em nota, o Home negou que os médicos citados na investigação sejam do quadro clínico da unidade, fazendo só internações e procedimentos na estrutura do hospital. Informou, ainda, que contribui com as investigações.