Documentos mostram que empresas ligadas ao empresário Luiz Afonso Assad, testemunha da Operação Drácon, transferiram um Honda CR-V para o secretário adjunto de Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcelo Aguiar, além de ter 11 contratos com o GDF aditados
O empresário Afonso Assad, presidente da Associação Brasiliense de Construtores (Asbraco), se tornou um dos personagens centrais do escândalo de corrupção alvo da Operação Drácon. Ele é considerado pelo Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) uma das principais testemunhas contra os deputados distritais investigados. Agora, entretanto, novas informações surgem sobre ele. Assad transferiu veículos para pelo menos um integrante do governo de Rodrigo Rollemberg (PSB) e para uma pessoa ligada a um dos parlamentares alvos da investigação. E não é só isso: uma empresa de construção, em nome de irmãos dele e da qual é procurador, já teve 11 contratos aditados com o GDF nos últimos dois anos, driblando todo o rigor dos processos licitatórios.
De acordo com os grampos feitos por Liliane Roriz (PTB), Assad teria sido sondado por deputados distritais para pagar propina em troca da liberação de emendas parlamentares e recusado a suposta proposta. Documentos mostram, porém, que as relações do empresário não se restringem à Câmara Legislativa, se estendendo até o Palácio do Buriti.
No entanto, na época em que os contratos foram celebrados, Aguiar estava à frente da Secretaria de Educação do governo Agnelo Queiroz (PT). Somados, os contratos ultrapassam a cifra dos R$ 3 milhões (veja quadro abaixo). Os contratos são relacionados a benfeitorias em escolas da rede pública de ensino.
O ex-secretário de Educação afirmou que, de fato, comprou o carro do empresário. “Comprei esse veículo de forma lícita e paguei R$ 70 mil. Vendi outros dois carros que tinha para comprar esse utilitário, que era usado pela esposa do Afonso Assad. Foi uma relação comercial comum, de compra e venda. Estou muito tranquilo em relação a isso”, disse Aguiar. A reportagem ligou para dois números vinculados a Assad, mas ambos estavam fora de área ou desligados.
Mais contratos e carros
Outra empresa ligada ao empresário que denunciou o esquema de propina, a Mevato Construções, pertence a dois dos irmãos de Assad. Porém, o empresário figura como diretor-procurador do negócio, que responde por 11 contratos em vigência com o governo (veja quadro abaixo). Cinco deles têm como finalidade benfeitorias nas escolas públicas e outros seis envolvem obras de interesse da Agência de Desenvolvimento do DF (Terracap).
Curiosamente, outro veículo comprado por uma das empresas de Assad acabou transferido para uma pessoa ligada a um dos investigados na Drácon. Um Honda Civic adquirido pela LF Construções em 22 de janeiro de 2009 foi transferido para Hamilton Teixeira dos Santos em 15 de abril de 2011. Hamilton é líder comunitário em Samambaia e chegou a exercer alguns cargos na Administração de Samambaia.
Em março de 2015, Hamilton se filiou ao PRB. O evento contou com a presença de várias pessoas ligadas ao partido, entre elas o deputado distrital Julio Cesar (PRB), alvo da investigação do MPDFT.
A reportagem procurou Hamilton dos Santos, mas ele não atendeu às ligações. Já o deputado Julio Cesar foi acionado por meio de sua assessoria de imprensa, mas não retornou as ligações até a última atualização desta matéria.
Grampos
Nos áudios gravados pela deputada Liliane Roriz, o ex-secretário-geral da Câmara Legislativa Valério Neves sugere que Julio Cesar e Bispo Renato Andrade (PR) teriam cobrado de Afonso Assad um percentual para a liberação de emenda destinada a reformas em escolas públicas.
Segundo é possível supor a partir das conversas grampeadas, como o empresário não aceitou participar do esquema, os deputados teriam se mobilizado para alterar a destinação do dinheiro, desta vez para o pagamento de empresas ligadas à saúde.
Nesse contexto, surge Cristiano Araújo (PSD), que teria, de acordo com os áudios, “arrumado a parceria com as UTIs” em um esquema no qual os deputados destinariam as sobras orçamentárias da Câmara Legislativa. O valor, R$ 31 milhões, seria liberado com o compromisso que retornasse aos parlamentares envolvidos um percentual entre 5% e 10% do total, em “comissão”.