Que caminhos seguir em uma sociedade sem regras fascina os espectadores
Há seis anos quando The walking dead estreou nos Estados Unidos, os criadores da série, Frank Darabont e Robert Kirkman (responsável pela versão em quadrinhos, lançada em 2003), estavam confiantes de que a trama poderia se tornar um sucesso, com base na vendagem das HQs e também na sedutora temática juvenil. Mas talvez eles não imaginassem que a produção fosse virar uma das mais populares no mundo, conquistando milhões de espectadores.
Na estreia do piloto (como é chamado o primeiro episódio de uma série), a produção foi assistida por 5,3 milhões de pessoas nos Estados Unidos. Há quase 10 dias, The walking dead estreou o primeiro capítulo da sétima temporada e quadruplicou sua audiência, com 20 milhões de espectadores — sendo 17 milhões ao vivo e mais 3 milhões, que assistiram ao episódio em até três dias da exibição da tevê. Os dados são da Nielsen, o Ibope americano. Antes, a série tinha atingido um número parecido em 2014, com a exibição do primeiro episódio da quinta temporada, que atraiu 17,2 milhões de pessoas.
Inspirada na HQ homônima, The walking dead acompanha as mudanças de um mundo pós-apocalíptico pela perspectiva do protagonista, o vice-xerife Rick Grimes, papel do ator britânico Andrew Lincoln (que atuou no filme Simplesmente amor). No piloto, o personagem acorda de um coma, se depara com a presença de zumbis e começa uma busca por sobreviventes. A história, então, acompanha um grupo de sobreviventes que procura refúgio e locais seguros dos “walkers”, como também são chamados os mortos-vivos.
Desde o início da trama, os criadores e o elenco sempre fizeram questão de enfatizar que TWD (sigla para denominar o seriado) era sobre os vivos e suas relações nesse novo mundo, em vez de ter como foco principal os zumbis. O que pode ser apontado como um dos motivos do sucesso em torno da trama pelo pesquisador e mestre em ciências sociais pela Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Unifesp (Campus Guarulhos), Jorge Henrique Fugimoto, que estudou a série em seu mestrado analisando as cinco primeiras temporadas. “Um dos principais motivos (do sucesso) está relacionado, com certeza, com as relações humanas. Os aspectos de como as pessoas se relacionam em um mundo sem regras, em que não há mais governo”, explica.
Nova perspectiva
Para o pesquisador, o público tenta entender com a série como seria uma sociedade sem regras e quais caminhos as pessoas seguiriam. “Não é que as pessoas se vejam representadas ali. Mas elas se identificam com alguns personagens e algumas histórias dentro dessa nova perspectiva de sociedade”, explica Jorge Henrique Fugimoto. O estudioso aponta uma característica interessante na produção ligada à base da sociedade. “Apesar de as pessoas estarem vivendo ali num mundo sem estrutura, elas vieram de um mundo que tinha, e elas só sabem se relacionar dessa forma. É a base social. Isso se reflete no Rick tentando fazer uma democracia e depois tentando ser mais ditador”, conceitua.
São essas mudanças nas relações sociais que podem ser apontadas como o grande trunfo da história. “É uma série que está inserida dentro de uma sociedade, de uma base social. Os zumbis são meros panos de fundo. No começo, de certa forma, eles eram vistos como os principais inimigos. Os que mais matavam e causavam perigo. Mas depois, conforme os humanos conseguiram aprender a viver nesse mundo, se adaptando, acaba que o inimigo se torna o próprio humano”, complementa.
Esse enredo inclusive faz parte da abertura da sétima temporada, em que o vilão Negan, papel de Jeffrey Dean Morgan (Supernatural e The good wife), faz questão de mostrar seu poderio sobre o grupo de sobreviventes liderados por Rick, ao matar dois dos integrantes. “Na sétima temporada, estamos vendo um lado mais violento da trama”, complementa Fugimoto.
Esse aspecto mais violento faz parte da temática pós-apocalíptica, que também é outro fator que pode ter garantido o surgimento do fenômeno The walking dead. Segundo o pesquisador, está ligado ao conceito de new horror estudado pela pesquisadora australiana Angela Ndalianis, um subgênero do terror que surgiu na virada do século. “O new horror é um tema-chave em torno de The walking dead. A vertente envolve criações pós-11 de setembro que estabelecem vínculos, de forma implícita, aos eventos que sucederam esse fato, expondo alta carga de violência, destruição do corpo e sangue”, esclarece.
O sucesso em torno da trama é tão grande, que antes mesmo da estreia da sétima temporada, TWD havia sido renovado para a oitava sequência. Os novos capítulos estreiam em 2017 e marcam ainda a chegada da série ao episódio de número 100.
The walking dead
Episódios novos da sétima temporada na madrugada de domingo para segunda, à 0h30, no Fox Action. As cinco primeiras temporadas estão disponíveis na Netflix.
Melhores números de TWD
17,3 milhões
Audiência do primeiro episódio da quinta temporada
16,110 milhões
Audiência do primeiro episódio da quarta temporada
15,780 milhões
Audiência do último episódio da quinta temporada
15,700 milhões
Audiência do último episódio da quarta temporada