Alice tem hidrocefalia e precisa de dreno na cabeça, e cirurgia ocorrer nas primeiras horas de vida para evitar sequelas. Saúde diz não haver vagas disponíveis; das 85 existentes, 15 estão bloqueadas.
Mesmo com três decisões judiciais favoráveis, uma bebê de 1 mês aguarda vaga em UTI neonatal na rede pública do Distrito Federal para fazer uma cirurgia apontada por médicos como única forma de controlar os danos provocados por uma hidrocefalia. Alice Lopes da Rocha nasceu no Hospital Regional de Sobradinho em 10 de novembro e, desde então, só deixou a unidade uma vez, para ser avaliada pela equipe de neurocirurgia do Base. Por e-mail, a Secretaria de Saúde disse fazer “buscas ativas” para transferi-la o mais rapidamente possível e afirma não haver vagas disponíveis.
O quadro foi descoberto durante o pré-natal, no sexto mês de gravidez. A família da criança afirma que foi orientada a esperar o parto, porque Alice receberia o implante de uma válvula na cabeça para drenagem de líquidos assim que nascesse. A pequena é a primeira filha de um vigilante e uma desempregada que moram em Sobradinho. Eles afirmam não ter condições de buscar tratamento na rede particular.
“Como ela estava sendo acompanhada pela rede, todo mundo dizia que era uma coisa simples e que seria fácil de contornar a situação. O médico até disse que, feito em dois, três dias de nascida, ela não teria problema algum”, afirma o pai, Francisco Edilson Cabral Lopes. “Ela tem esse acúmulo de água na cabeça, só aumenta cada vez mais. Se você analisar, ela tem uma desproporção, tem uma cabecinha maior. Mas dizem que se fizer o tratamento adequado, dentro do prazo certo, vai ser uma criança normal, vai ter uma vida normal. Só que tinha de ser com dois dias, três dias de nascida.”
Apesar de o procedimento ser considerado “simples”, a cirurgia só pode ser feita no Base, onde há uma equipe especializada e UTI neonatal. Desde o nascimento da criança, os pais “moram” no hospital onde ela está internada e correm contra o tempo para evitar maiores danos. Alice já não consegue mais mamar no peito da mãe, porque apresenta dificuldades de sucção e passou a engasgar com facilidade.
Laudos entregues à Justiça também apontam que foi necessário extrair líquido da cabeça da criança. “Já tiraram 20 ml e depois 30 ml. Não era nem procedimento recomendado, não é o aconselhável, mas fizeram. Os médicos fizeram pelo desespero, porque ela sente dor, fica irritada”, completa o vigilante.
A Secretaria de Saúde diz que a menina “recebe toda a assistência necessária” para que ela se mantenha estável até que surja vaga em UTI neonatal. Ao todo, a rede conta com 85 leitos, mas 15 deles estão bloqueados por falta de profissionais para dar assistências às crianças e para manutenção. A fila de esperava contava com 13 bebês nesta quarta-feira (13).
“Queríamos muito a Alice. Ela tem sido amada e querida desde o comecinho. Veio na hora certa, no momento certo. Quando a gente descobriu, teve cabeça diabólica querendo que a gente interrompesse a gravidez. É um absurdo, é uma vida! Não existe nada disso de tirar uma vida por uma coisa dessas. Ela só veio às nossas vidas para somar, é uma bênção”, afirmou o pai.