Ricardo Barros participou de encontro com representantes da União Europeia nesta quarta para discutir medidas de combate ao uso inadequado de antibióticos. Ações de cooperação valem para uso humano e na agropecuária.
Os resentantes da União Europeia (UE) apresentaram um projeto de combate ao uso inadequado de antibióticos em parceria com o Brasil. O anúncio foi feito na manhã desta quarta-feira (29), em Brasília. De acordo com o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, medidas valem tanto para uso humano quanto na agropecuária e para devem ser divulgadas antes da Assembleia Mundial da Saúde, em maio.
Considerado um problema de saúde pública global, o uso excessivo de antibióticos – com ou sem acompanhamento médico adequado –, pode aumentar a médio e longo prazos, a capacidade de resistência das bactérias aos remédios. Neste cenário, especialistas afirmam que doenças facilmente curáveis podem se tornar fatais.
Para Ricardo Barros, a contaminação por “superbactérias” como a Serratia “não é um assunto estatisticamente relevante no Brasil”. No entanto, o ministro afirmou que medidas serão adotadas em conjunto com a União Europeia para maior controle do uso de antibióticos em humanos e no agronegócio.
“A resistência antimicrobiana é um grande desafio mundial. Aqui, temos efeitos muito nocivos na agricultura, na produção de proteína animal, e na vida das pessoas”, disse Barros. Segundo ele, 700 mil pessoas morrem anualmente no mundo por resistência microbiana.
De acordo com o ministro, o Brasil tem um controle “muito firme” sobre a distribuição de antibióticos. “As receitas são retidas nas farmácias, então só é possível comprar o medicamento uma vez.”
O comissário da União Europeia para Saúde e Segurança Alimentar, Vytenis Andriukaitis, afirmou que as questões relativas a antibióticos no Brasil ainda serão discutidas em profundidade e que, após a análise de dados e documentos, serão deliberadas ações conjuntas. Ele estima que as medidas sejam lançadas após a Páscoa, que é dia 16 de abril.
O Ministro da Saúde afirmou ao G1 que as ações “provavelmente” serão divulgadas antes da Assembleia Mundial da Saúde, realizada pela ONU em maio.
Antibióticos na agropecuária
Sobre o uso de antibióticos na agropecuária, o Ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou que o Ministro da Agricultura Blairo Maggi “está fazendo um grande esforço para que a cooperação internacional possa avançar”.
“É preciso eliminar as dificuldades no controle de doenças, em especial a tuberculose, que apresenta resistência a quase todos os medicamentos que estão disponíveis no mercado.”
Como maior exportador de carne do mundo, o Brasil “faz a sua parte da maneira mais adequada possível”, disse Barros. “Vamos cooperar para estabelecer novos padrões e novos critérios de controle na agropecuária, mas vamos precisar de muito investimento em pesquisas para que possamos superar essas superbactérias.”
O comissário da União Europeia para Saúde e Segurança Alimentar, Vytenis Andriukaitis, confirmou a parceria com o Brasil e disse que mantém um diálogo “aberto, transparente e cooperativo” com o país.
‘Superbactérias’ no DF
Na primeira semana de março, um bebê morreu após ser infectado pela “superbactéria” Serratia no Distrito Federal. O recém-nascido estava internado na UTI neonatal do Hospital Materno e Infantil de Brasília (Hmib), onde outros dois bebês foram contaminados pela bactéria multi-resistente.
Em abril de 2013, dois bebês também morreram no Hmib por infecção da Serratia. No mesmo período, outros dois estavam internados com a bactéria, mas tinham quadro “controlado”.
A transmissão da bactéria ocorre principalmente por causa da falta de higiene nas mãos. A Serratia causa diminuição das plaquetas no sangue, que é responsável pela coagulação. Pacientes com baixa quantidade de plaquetas estão mais suscetíveis a anemias e hemorragias.
Resistência
O termo “bactéria multirresistente” – ou superbactéria, como ficou popularizado nos últimos anos – não faz referência a um organismo específico, mas a uma série de espécies que desenvolveram resistência à maior parte dos antibióticos.
Ao longo do tempo, classes de bactérias comuns – Klebsiella e Escherichia, por exemplo – “aprenderam” a produzir enzimas que inativam a ação dos medicamentos convencionais. Com isso, o tratamento se tornou mais caro e difícil, exigindo o uso de antibióticos de maior impacto.
Além das enzimas, as superbactérias podem se desenvolver a partir da transmissão de plasmídeos, que são fragmentos de material genético (DNA) passados de um micro-organismo a outro. Esse “conhecimento compartilhado” é absorvido pelas diferentes classes de bactérias, espalhando a característica de maior resistência entre diferentes grupos.