Foram entrevistadas 2.340 pessoas em 16 capitais. No Distrito Federal, 66% afirmaram utilizar internet para detectar sintomas e consultar medicamentos.
Brasília é a capital do país onde mais se usa a internet para automedicação e autodiagnóstico. A conclusão é de uma pesquisa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ). Os resultados – baseados em um questionário aplicado em 2016 – mostram que 66% dos entrevistados no Distrito Federal disseram usar a internet para detectar sintomas ou consultar indicações de medicamentos.
No ranking de capitais, Vitória e Salvador dividiram o segundo lugar, com 59%. Em terceiro, ficou Natal, com 55% dos entrevistados e em quarto João Pessoa, com 53%. Ao todo, foram entrevistadas 2.340 pessoas em 16 capitais.
A dor de cabeça é o sintoma mais procurador na internet, segundo o pesquisador e farmacêutico Ismael Rosa. “Se você digitar cefaleia [dor de cabeça], vai aparecer um monte de resultado. Mas a pessoa comum não tem capacidade técnica para interpretar aquela informação da melhor forma.”
“O grande perigo é achar que o problema é gigantesco quando ele é simples ou achar que é insignificante quando o sintoma é grave. Em alguns casos, há até risco de morte.”
Segundo a pesquisa, 40% das pessoas que se automedicam também buscam diagnósticos online. Entre os motivos alegados para a consulta informal está a precariedade do sistema público de saúde. Somando os resultados de todas as capitais, 41% dos entrevistados disseram que “os prontos-socorros estão superlotados”.
Entre os entrevistados, 18% não consideram a avaliação médica importante para o diagnóstico dos sintomas. O preço elevado das consultas médicas foi apontado por 17% como empecilho para avaliação por profissionais. Outros 9% disseram que as “buscas pela internet são mais eficientes” e 7% disseram que os médicos, em geral, são “inacessíveis”.
De acordo com Rosa, o questionário foi aplicado pessoalmente a 80% dos entrevistados. Os demais responderam pelo telefone. Segundo ele, as perguntas referiam-se à internet de modo genérico e não a plataformas específicas.
Riscos da automedicação
De acordo com o clínico geral Marcos Pontes, um dos maiores riscos da automedicação é a combinação simultânea de medicamentos, para a qual “as pessoas não dão muita importância”. Segundo Pontes, a ingestão de qualquer tipo de remédio – até para dor de cabeça e queimação no estômago – deve passar por recomendação médica.
“Aquela dor de cabeça pode ser o sintoma inicial de AVC ou aneurisma cerebral.”
Outro perigo apontado por ele é o risco de intoxicação, que pode sobrecarregar algum órgão ou sistema. “Tomar anti-inflamatório se você tiver uma lesão renal crônica pode ter levar a desenvolver uma insuficiência renal”.
A resistência bacteriana também é resultado de automedicação e acompanhamento médico inadequado. “Tomar antibiótico sem receita, porque aqui no Brasil consegue-se isso, pode gerar resistência bacteriana para aquele tipo de infecção que se deseja combater e, a longo prazo, impulsionar a formação de superbactérias.”
Sobre o instituto
O Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) é uma entidade de iniciativa privada, fundada em dezembro de 2008, com atuação em 16 cidades nas áreas de pesquisa e pós-graduação para profissionais do mercado farmacêutico.