Música foi criada antes da inauguração da capital federal. Banda Kipekado faz releitura de composição da pianista Neusa França; veja vídeo.
Com Brasília no coração, epopeia a surgir do chão…” Se o verso fez lembrar a bandeira da capital federal, é porque você já ouviu ou cantou o Hino de Brasília. Composição da pianista Neusa França, a canção tornou-se, em 19 de julho de 1961, a partitura oficial da cidade em forma de avião.
No auge dos 57 anos, o “quadradinho de Goiás”, que passou a ostentar curvas modernistas, viu a história desse arranjo se esconder em quartéis militares ou em solenidades cívicas. Para os brasilienses que precisaram decorar a letra do hino nas escolas, recordar todas as estrofes, hoje em dia, mostrou-se um exercício para a memória.
Vocalista da banda Kipekado – vencedora do concurso musical Brasília Independente em 2012 –, Rômulo Andrade escutava a canção por causa da avó. “Ela tinha o costume de ouvir. Como eu era muito novo, guardei apenas uma vaga lembrança do hino”, contou o músico.
A pedido , integrantes do Kipekado musicaram o hino aos moldes do gênero a que estão acostumados: o pagode. Para o grupo, a ideia representou um grande desafio. Segundo eles, somente o saxofonista sabe a letra de cor, mas não conseguiu comparecer à gravação. “O Thel Praça é bombeiro e faz parte da banda da corporação. Ele toca o hino quase todos os dias”, explicou Andrade. O resultado dessa experiência está no vídeo a seguir:
A pianista Neusa França imaginou a melodia da composição durante um trajeto de ônibus no Rio de Janeiro, antes mesmo da inauguração da capital. A letra foi criada pelo poeta Geir Campos. O músico Dib Franciss fez sua dissertação de mestrado na Universidade de Brasília (UnB) a partir da autora do Hino de Brasília.
Ao chegar à nova cidade, Neusa trouxe consigo o seu capital. A cidade não tinha nada – além da falada ‘lama e poeira’. Neusa já tinha sua própria história. Ela empresta esse capital para Brasília, sem reservas. Doou para a cidade o seu símbolo maior: o Hino.”
Em um dos trechos do estudo de Franciss, ele ressalta uma declaração que a pianista concedeu durante uma entrevista. “Nos colégios, toda segunda-feira, havia o hasteamento da bandeira, a execução do Hino Nacional e do Hino de Brasília.”
A composição foi gravada em formato de CD, em 1998, depois de receber o apoio de deputados da Câmara Legislativa. De acordo com a dissertação de Franciss, o intuito da Secretaria de Cultura, naquela época, era tornar o hino conhecido pela sociedade, em especial nas escolas da rede pública. O projeto, contudo, não foi adiante.
Muitas instituições do DF não adotam mais essa tradição. Compondo o quadro das exceções, o Marista Champagnat Taguatinga executa o hino duas vezes ao ano: antes do aniversário de Brasília e na semana da comemoração da independência do Brasil (7 de setembro).
Seja por meio de tablets ou de visores de celulares, o hino – fruto da admiração da pianista pela capital da República – ainda é rememorado por uma parcela dos candangos.
Neusa França fez mais de 15 hinos, listados no catálogo de obras de compositores brasileiros, publicado pelo Ministério das Relações Exteriores em 1979. Desses, 10 levam Brasília no título – tamanho era o encantamento da pianista pela cidade.
Neusa morreu em março de 2016, mas deixou um vasto legado. Foi uma das fundadoras da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, pioneira do ensino do piano no Distrito Federal e professora responsável pela formação de boa parte dos pianistas da cidade.