Lista de ‘esbanjadores’ inclui Senado, Câmara e PGR; racionamento em áreas nobres começou em fevereiro. Ministério do Meio Ambiente, STF e Caesb passaram a poupar.
assados dois meses desde o início do racionamento de água nas regiões mais nobres do Distrito Federal, prédios públicos de grande porte, localizados bem “no coração de Brasília”, ainda não aderiram à rotina de restrição. Balanço exclusivo feito pelo G1 mostra que órgãos federais ignoraram os apelos do governo local, e ampliaram o gasto de água em meio à crise de abastecimento.
A lista de maus poupadores inclui três dos prédios mais icônicos da capital: o Senado Federal, a Câmara dos Deputados e a Procuradoria-Geral da República (PGR). Apenas os dois primeiros, somados, hospedam mais de 25 mil servidores, além dos parlamentares e de visitantes diários.
Nesta quinta (27), as áreas de Brasília que são abastecidas pelo reservatório de Santa Maria completam o segundo mês sob racionamento. A lista inclui todo o Plano Piloto, Lago Sul, Lago Norte, área central, Sudoeste e Noroeste, por exemplo. Ao todo, cerca de 557 mil pessoas moram nesses locais.
Nas regiões mais afastadas do centro do DF, que são abastecidas pelo reservatório do Descoberto, o racionamento começou 40 dias antes, em 16 de janeiro, atingindo 1,8 milhão de moradores. Ao todo, 2,3 milhões de brasilienses estão sujeitos à restrição hídrica, que corta a água nas tubulações de seis em seis dias.
Em meio a todo esse cenário, o Senado conseguiu usar 8,2 milhões de litros de água em fevereiro, quando os cortes começaram. Em março, o consumo aumentou 29,32%, e atingiu 10 milhões de litros de água. O número corresponde ao consumo de 1 mil casas de médio porte, comparativamente.
Em nota, a direção do Senado diz que a diferença foi motivada pelo calendário. “Fevereiro teve apenas 28 dias, incluindo as festividades de Carnaval. Por sua vez, março foi de atividade plena, não sendo registrados feriados”, diz a Casa.
Mesmo problema, mesma resposta
Do outro lado do Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados também aumentou o gasto de água no mesmo período. O consumo total do prédio – povoado por 513 parlamentares, equipes de assessoria e um sem-fim de áreas administrativas – passou de 12,8 milhões de litros, em fevereiro, para a marca de 14 milhões de litros no mês seguinte. Um salto de 9,63%.
A Câmara diz que o aumento é causado pelos “efeitos sazonais de feriados, recesso parlamentar, etc”. A Casa informou ainda que, “na comparação entre 2015, 2016 e 2017, percebe-se uma tendência de redução de consumo”.
O prédio-sede da PGR, no Setor de Autarquias Sul, também teve aumento no consumo, de fevereiro para cá. No mês do Carnaval, os servidores e visitantes consumiram 3,1 milhões de litros. Em março, o número saltou para 3,7 milhões – uma alta de 19,03%.
A PGR também atribuiu o aumento ao mês de março, naturalmente mais longo que o de fevereiro. Disse, ainda, que toma “uma série de providências para a economia”.
“Ressaltamos que a automação do sistema predial emite alertas de desvios no consumo que permitem a adoção de medidas rápidas para a correção de alterações no padrão de consumo, como eventuais vazamentos”, informou a PGR.
O G1 pediu os mesmos dados ao Palácio do Planalto. Dos órgãos federais questionados, o prédio de despachos da presidência da República foi o único a dizer que não tinha dados sobre o consumo de água até esta terça, 25 dias após o fim de março.
Redução de consumo
Em março, o G1 fez um levantamento sobre o consumo hídrico dos principais prédios públicos hospedados no DF desde novembro, quando a crise começou a se agravar. Órgãos que figuravam na lista dos maus exemplos, como a Caesb – empresa responsável pelo abastecimento do DF – e o Supremo Tribunal Federal (STF), conseguiram reverter a tendência e economizar água com a chegada do racionamento.
O Ministério do Meio Ambiente – que entre novembro e janeiro, teve um crescimento de mais de 18% no valor das contas – manteve o gasto praticamente estável no comparativo entre fevereiro e março. A queda registrada foi de 0,3%.
O gasto hídrico do edifício sede da STF, que havia saltado em 41,26% entre dezembro e janeiro, diminuiu. Entre fevereiro e março, a Corte reduziu em 19% o uso de água. O Supremo afirma que, “além de medidas de ordem prática, realizou campanhas para a conscientização dos servidores em relação à importância de economizar água”.
A Caesb – que aumentara os gastos com água entre dezembro e janeiro em 16,56% – reduziu o consumo entre fevereiro e março em 20,74%. O órgão disse que conseguiu diminuir os gastos “graças à colaboração de todos os empregados”.
Já o Palácio do Buriti, que no último comparativo havia reduzido em 67,3% o consumo entre novembro e dezembro de 2016, diminuiu ainda mais o gasto entre os meses de fevereiro e março. A taxa de economia nos últimos dois meses chega a 20,77%.
Poupados do racionamento
Mesmo instalados na região central de Brasília – que sofre com o corte de água desde de 27 de fevereiro – ministérios, palácios, tribunais e outros órgãos públicos federais da Praça dos Três Poderes e da Esplanada dos Ministérios estão fora do racionamento. Por “segurança nacional”, os palácios do Alvorada e Jaburu, residências oficiais da Presidência e da Vice-Presidência, também ficam fora do racionamento. “Pelo menos em um primeiro momento”, diz a Caesb.
Segundo a companhia, a decisão para poupar esses endereços foi tomada porque a medida, definida pelo órgão do DF, não poderia interferir em competências federais. Prédios como os do Tribunal de Contas da União (TCU) e da PGR, por sua vez, estão sujeitos ao racionamento porque não ficam na Praça dos Três Poderes.
Economia ‘forçada’
Com o racionamento, o volume de água economizado pelos moradores do Distrito Federal daria para abastecer, por dia, uma cidade com 420 mil habitantes. O dado foi fornecido pelo presidente da Caesb, Maurício Ludovice, ao G1.
Além do corte forçado de água, os moradores do DF tiveram que pagar, até o começo de abril, uma tarifa de contingência imposta pelo governo. A taxa deixava a conta 20% mais cara, sempre que ultrapassasse o limite mínimo de consumo – para casas e comércios, esse valor é de 10 mil litros ao mês. O valor começou a ser cobrado em dezembro e é questionado na Justiça, mas segue em vigor.
fonte. G1