Um dos maiores festivais de teatro do país passa por 147 cidades
Um dos maiores festivais de teatro do país, o Palco Giratório, realizado pelo Sesc, chega a sua 20ª edição e movimenta as mais diversas regiões do país com monólogos, teatro de rua, performances e apresentações na tradicional caixa cênica. No Distrito Federal, o destaque é a descentralização da produção artística, incentivando espectadores de toda a cidade a frequentarem os espaços do Plano Piloto, Gama e Taguatinga. O projeto passa, em 2017, por 147 cidades, com 20 companhias somando 685 apresentações e mais de mil horas de oficinas teatrais. A capital conta com 20 espetáculos na programação, que engloba diferentes estilos, gêneros e propostas teatrais. O Palco é reconhecido como um dos mais importantes festivais para o intercâmbio cultural e a difusão de novas propostas artísticas em território nacional.
Para Leonardo Braga, curador do Festival, um dos pontos mais importantes é a representação da cena nacional das artes cênicas, com olhares e perspectivas de todos os recantos do país. Durante a escolha dos espetáculos, a curadoria busca estabelecer relações possíveis entre as produções e seu envolvimento com as questões que permeiam a sociedade. “É um projeto que envolve um número grande de cidades em um país enorme, com características singulares em cada região. Os grupos que fazem o circuito levam na bagagem todo o aprendizado daquilo que viram e experimentaram ao redor do país”, afirma o curador. O Festival percorre, além das capitais, cidades menores, onde o teatro não costuma ter uma expressão tão forte. A ideia é envolver a troca de experiências culturais que se dá entre os grupos e as comunidades para o desenvolvimento da cena de cada região.
Para Leonardo, a atividade teatral dialoga com diferentes campos do fazer artístico e o objetivo do Palco é incentivar que essas relações aconteçam dentro e fora do fazer teatral, influenciando reflexões e transformações sociais. “A gente tenta entender o teatro como uma rede de relações dinâmicas, que transitam entre diversos segmentos. Falar de teatro é falar também de política”, declara. É a partir dessa linha de pensamento que o Festival busca dialogar com os novos públicos, entendendo quais são os contextos, os questionamentos, as dores e as delícias da sociedade em que aqueles espetáculos estão inseridos.
Gustavo Haeser é ator do grupo Tripé e se apresenta com o espetáculo Entrequartos, primeiro representante do DF a subir ao palco nessa edição. Para ele, festivais como o Palco são importantes a partir do momento em que se propõe a reflexão. “Os espetáculos, debates e seminários proporcionam diálogo, tanto com o público quanto com os artistas da cidade”, afirma. Atuando para além da caixa cênica nos convencionais teatros e se expandindo, o festival transforma o dia a dia da cidade e cria a possibilidade de discutir os sentidos de comunidade.
O ator destaca a importância social do teatro e lembra que ele dialoga com os novos públicos quando consegue conciliar de forma genuína os desejos e ímpetos do artista com os quereres da sociedade, ou partes dela. “É preciso saber, sempre, quem é o seu público, e pensar sempre nele”. Vale lembrar que as apresentações acontecem em pontos diversos da capital, na rua e em teatros fechados, com a presença de múltiplas estéticas e propostas. Para Haeser, essa diversidade propicia que o público seja agraciado com uma riqueza de possibilidades, repensando a cada dia o significado do teatro e da criação artística.
Diversidade
A Cia. Os Buriti volta com a peça Kalo – Filhos do vento. O espetáculo tem temática cigana e foi presenteado ao grupo por Maurice Durozier, um dos mais antigos atores do Theatre Du Soleil. A montagem trabalha com dança, instrumentos de diferentes partes do mundo e a linguagem das sombras, em parceria com a Cia. Lumiato. “Promover a circulação de espetáculos é fundamental. É importante que as pessoas entrem em contato com diferentes formas de fazer teatro, diferentes sotaques e abordagens”, destaca Naiara Leão, integrante da cia.
O espetáculo ressalta a crença do grupo na possibilidade de transformação proporcionada pelo teatro. A peça leva ao palco histórias populares e fatos históricos da cultura cigana, mostrando um pouco desse povo que já foi perseguido e, ainda hoje, é marginalizado. “Muitas pessoas vieram agradecer por termos contribuído para quebrar preconceitos que elas tinham com relação aos ciganos”, destaca a atriz. Enquanto isso, a universalidade da linguagem teatral ganha destaque no processo criativo de Naira Leão. Ela acredita que o teatro persiste por toda a história porque o ser humano necessita de um espaço de catarse, reflexão, dramatização, imaginação e poesia. “Isso é intrínseco ao ser humano. Neste sentido, o teatro dialoga com a nossa sociedade contemporânea”. Para a atriz, a questão numérica do público, ponto de constante discussão, reflete as prioridades políticas e educacionais de cada região ou país. Para ela, o teatro será sempre uma linguagem atual, que descobre maneiras diferentes de dialogar com o público.
O grupo percorreu, recentemente, 16 cidades e seis países com uma de suas produções, aproveitando para frequentar peças e shows musicais de diferentes lugares. “Quanto mais o país investe na educação e na cultura, mais pessoas frequentam as atividades culturais. É impressionante o número de teatros, salas de espetáculos e concertos e a quantidade de pessoas que vão assistir diariamente a essas atrações”, afirma a atriz.
Palco Giratório
Data: de 5 a 30 de julho, local: Teatro Sesc Garagem, Teatro Sesc Paulo Gracindo (Gama), Teatro Sesc Newton Rossi (Ceilândia) e Teatro Sesc Paulo Autran (Taguatinga Norte), além de espetáculos na rua. Programação: conferir no site www.sescdf.com.br