Ele substitui delegado exonerado por atribuir culpa de estupro infantil também às mães. ‘Escolha técnica’, afirma diretor-geral da instituição.
A Polícia Civil do Distrito Federal tem um novo diretor de da Divisão de Comunicação Social (Divicom). Lucio Fagner Chagas Valente deixa a Divisão de Sindicância da Corregedoria-Geral da corporação para chefiar a unidade responsável pela divulgação dos trabalhos policiais. Aos 37 anos, ele assume o cargo após a unidade ficar quase dois meses sem chefia. Interinamente estava Joseane Tavares de Oliveira.
Ele entra no lugar do delegado Miguel Lucena, exonerado em 16 de maio deste ano após dizer que “as crianças estão pagando muito caro por esse rodízio de padrastos em casa” em um grupo de WhatsApp voltado para atender jornalistas. A declaração foi considerada machista e a direção-geral optou em não mantê-lo mais à frente da divisão.
O novo chefe da Divicom foi escolhido após análise do diretor-geral Eric Seba. “Trata-se de uma escolha técnica de um profissional entusiasmado pela atividade policial e pela valorização da comunicação”, disse Seba. “É de excelente trato e de uma nova vertente”, elogiou.
Lucio diz ter recebido o convite com entusiasmo. Ele afirma que pretende melhorar a forma de comunicação dentro da instituição.
“Sempre fiz muita participação com a comunicação nessa questão de mídias sociais. Informalmente sugeri que se fizesse um projeto nesse sentido. Li em algum lugar e achei fantástico: ‘Quando uma instituição se coloca presente divulgando informações importantes para a sociedade, isso é muito importante para a democracia também’”, disse.
Lucio diz que as delegacias das regiões administrativas também fazem trabalhos relevantes e que ainda são pouco divulgados. “A ideia é mostrar que polícia tem feito tanto na área investigativa quanto na área social. Através da comunicação que se obtém educação e informações relevantes para o próprio trabalho policial”, defende.
Histórico
Lúcio entrou na instituição em 2006 e, de lá para cá, já passou por diversas unidades, entre elas, pela Delegacia de Defraudações, atual Coordenação de Repressão aos Crimes Contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf).
Passou também pela antiga Coordenação de Crimes Contra a Vida (Corvida), atual Coordenação de Repressão a Homicídios (CH), onde trabalhou com Luiz Julião Ribeiro – considerado como um dos delegados mais respeitados da instituição por conduzir várias investigações de forma técnica ao longo de sua carreira.
“A metodologia dele era fantástica. Às vezes tinha uma investigação que as vezes parecia não ter mais solução, mas ele enxergava além e perguntava: já checou isso? Batia uma vergonha porque era exatamente aquilo que faltava. Aprendi muito”, reconheceu.
Objetivos
À frente da Divicom, Lucio quer estimular os colegas a dar visibilidade ao próprio trabalho para que a comunidade esteja mais próxima da Polícia Civil. Para ele, delegacias voltadas para atendimento das minorias ainda carecem de mais atenção, como, por exemplo, a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) e a Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação racial, Religiosa ou por Orientação Sexual ou contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin).
“Pretendo fazer um planejamento estratégico para a Polícia Civil, algo que os colegas da PM e do Corpo de Bombeiros já fazem há muito tempo. O que eu quero é facilitar a comunicação”, destacou. Ressaltou ainda que a maior dificuldade é em relação a falta de pessoal. Atualmente, oito servidores cuidam da Divicom.
Lúcio foi delegado aos 25 anos. Passou no concurso público quando ainda estava no 9º semestre da faculdade de Direito. Antes de se formar era professor de inglês. Há 10 anos, ele também ministra esporadicamente aulas em cursinhos preparatórios. Atualmente, apenas tem uma página na internet onde divulga a carreira para quem quer ser delegado.
“Sou apaixonado por comunicação, por redes sociais. Nesse momento posso dar uma contribuição mais efetiva para a polícia. A Polícia Civil do DF vem passando por uma situação de busca de valorização financeira e isso acaba afetando a motivação dos policiais, mas eles precisam ser lembrados de que o trabalho é muito importante para a sociedade. O que pretendo é fazer um trabalho para dar visibilidade para um bom trabalho e reduzir essa onda de pessimismo.”