Credito: Artur Dias/Divulgação. Banda brasiliense O Tarot
Geração atual de artistas da cidade, como O Tarot e Pollares, apresenta sonoridade diversificada e característica empreendedora nos trabalhos
Brasília costuma ser sempre lembrada pela efervescência do rock nacional nos anos 1980 com nomes como Legião Urbana, Plebe Rude, Capital Inicial e Paralamas do Sucesso. Nos últimos anos, a cidade voltou a viver um bom momento no cenário musical, com bandas e artistas locais despontando pelo Brasil.
O principal nome dessa nova fase é a banda Scalene, que abriu portas para que a cena brasiliense voltasse a ter relevância. Mesmo com projeção nacional, o grupo permanece morando em Brasília e é um dos fortes apoiadores do movimento candango.
“A Scalene, banda da cidade conhecida nacionalmente, dá força à cena: participando de reuniões com todo mundo, convidando bandas daqui para abrir seus shows e botando para a frente ideias como o festival CoMA”, analisa Francisco Vasconcelos, guitarrista da banda Toro. “A cena de Brasília vem dando grandes passos para alcançar mais espaço no cenário nacional e internacional. Todo ano tem bandas daqui saindo para tocar no exterior e o ano inteiro está rolando intercâmbio com bandas”, completa.
Pedro Senna, baterista do grupo Pollares, concorda e diz que o momento atual se inspira bastante na Scalene no sentido de unir a cena. “Bandas como Scalene, Supercombo e Far From Alaska sempre se juntam para fomentar a cena do rock, que não é mais como antigamente. Aqui em Brasília temos visto que as bandas todas estão nessa vibe de movimentar a cena da cidade unindo força em festivais e lançamentos de álbuns”, comenta. “O rock estava perdendo espaço. Faltava interesse do público por coisas novas. Estamos tentando fomentar e criar uma cena para a galera curtir música na cidade”, acrescenta.
Empreendedorismo
Ao unificar o cenário musical de Brasília, independentemente de estilo musical, a nova geração de artistas locais apresenta uma nova característica: a de empreendedores, criando e promovendo os próprios eventos e festivais. “Há muitas bandas hoje trabalhando de forma autêntica, trazendo inovação e pensando comercialmente. A cena é muito rica e os artistas estão muito unidos. Essa energia e movimentação criadora são uma grande vantagem e fazem florescer a cena”, afirma Caio Chaim, vocalista da banda O Tarot.
Inclusive, esse pensamento fez surgir na cidade um novo projeto intitulado Ouva, que reúne 14 artistas, buscando uma nova perspectiva de trabalho. A primeira iniciativa foi lançar uma playlist no Spotify e, em breve, o grupo deve divulgar outras propostas. O Ouva é formado por O Tarot, Tijú, Kelton, Mdnght Mdnght, Lista de Lily, Zéfro, Adriah, Ellefante, Bolha Azul, Aloizio e a Rede, Stouca, Profissão de Urubu, Augusta e Raquel Reis.
Conheça algumas das bandas do cenário atual
O Tarot
Formada por Caio Chaim (voz, teclado e percussões), Lucas Gemelli (acordeon, guitarra e bandolim), Vinicius Pires (guitarra), Victor Neves (baixo) e Tavares (bateria), a banda O Tarot foi criada em 2014. No entanto, lançou-se oficialmente apenas em 2016, com a divulgação do EP Zero, composto por cinco músicas autorais. “Tomamos a difícil decisão de montar o projeto, nesses dois anos antes de lançar, para criar o conceito de música nômade”, explica Chaim.
Conceito esse que se tornou o estilo musical da banda. “É um estilo diversificado e camaleônico, que representa várias áreas de composição”, define. O grupo já está em processo de gravação de um novo álbum, que terá 12 faixas inéditas e deve ser lançado em 2018. Enquanto isso, O Tarot promove as canções de Zero, com lançamento do clipe de Meridiana em 5 de setembro. “Esse primeiro clipe começa a contar uma história de um universo que estará nos próximos vídeos”, adianta o vocalista.
Pollares
A ideia de concepção da Pollares surgiu em 2010 dos amigos Pedro Senna (bateria) e Ugo Fonseca (guitarra) quando ainda estavam na escola. Em 2012, gravaram o primeiro EP com quatro músicas e contaram com a inserção de Walter Moura, atual vocalista. Já nesse momento, a banda chegou à sonoridade que é uma mistura de rock com música eletrônica, com bastante sintetizadores, apelidada de space rock. “Além dessa sonoridade, também gostamos de falar de assuntos cósmicos nas letras. Essa ideia cósmica de pensar no próximo, em como as ações boas e ruins refletem na vida, falar do bem”, explica Pedro Senna.
Há dois anos, a banda lançou o primeiro disco, Indestrutível, que possui 14 faixas. Neste ano, divulgaram o mais novo trabalho, Juno, composto por 10 músicas. “Quando fizemos esse disco, estávamos com esse conceito de space rock na cabeça e também pensando nessa fase esquisita que o mundo está vivendo de guerra, intolerância, violência. Queríamos trazer a ideia de amor, da empatia pelo outro”, completa. Assim criaram uma personagem que chega do espaço na Terra trazendo uma mensagem. “Passamos a visão dela sobre o mundo das músicas. Esse é um conceito bastante comum no rock, ter uma história como tema central”, afirma Senna. Em outubro, o grupo fará o show de lançamento do álbum em Brasília em formato de minifestival. Antes, neste mês, um dos clipes da Pollares poderá ser visto na tevê por assinatura.
Toro
Com trajetória em outras bandas, Francisco Vasconcelos (guitarra) e Arnoldo Ravizzini (bateria) decidiram criar o próprio grupo e, em 2015, surgiu a banda Toro. Atualmente, o projeto conta ainda com Thuyan Santiago (voz e guitarra) e Alvinho Rodriguez (baixo), que fazem parte da formação que gravou o primeiro EP, que leva o nome da banda. O material tem canções como Apneia, Miragem e Luz vermelha.
“Não nos preocupamos com nenhum rótulo quando estamos fazendo o som da banda. A ideia inicial era fazer um som stoner rock em português. Na verdade, nossas músicas vêm de uma mistura grande de influências musicais”, define Francisco Vasconcelos, que conta que o conceito da banda é o rock de fuzz. No ano que vem, o grupo deve lançar um álbum, com até 10 músicas. “Já temos várias dessas músicas em fase de pré-produção e, inclusive, algumas delas já tocamos em shows. A ideia inicial era fazer outro EP, mas decidimos lançar single por single e depois um CD”, adianta.
Para ficar de olho
Lupa
Há três anos no cenário, o grupo Lupa se define como uma banda de rock alternativo, com letras em que tratam de amor e sexo. O projeto é formado por Múcio Botelho (vocal e guitarra), André Pires (teclados, percussão e voz), João Pires (bateria), Victor Fonteneles (guitarra) e Lucas Moya (baixo). O primeiro trabalho foi lançado com financiamento coletivo e reúne 12 faixas, o disco Lupercália. O nome do álbum também é o título do festival promovido pela banda e realizado neste ano no Setor Comercial Sul.
Tiju
Formado em 2016 pelos irmãos Vitor e Pedro Barbosa, o grupo se inspira na vibe carioca do bairro da Tijuca — daí o nome da banda — mesclada com influências brasilienses. A principal característica do duo é se apresentar, principalmente, em eventos de rua. Na sonoridade, o grupo mescla influências do samba, da MPB e da música indie. O grupo possui um EP intitulado Casa, com cinco faixas.
Augusta
O quarteto é composto por Lucas Maranhão (voz e guitarra), Taís Cardoso (voz e violão), Gabriel Peres (bateria) e Davi Figueiredo (baixo) e define o trabalho como música intimista, flertando com folk e rock. Atualmente possui três faixas disponíveis no Spotify: Ônibus (peso da semana), Olhos verdes e Tudo em ordem.
Allmind
Na atividade desde 2012, a banda Allmind é composta por Danilo Cavalcante (vocal e guitarra), Guilherme Bill Costa (guitarra e vocal), Marcus Estrela (bateria e vocal) e Bruno Mota (baixo) e tem como característica fazer um som de heavy rock com influências pós-grunge. Neste ano, os brasilienses lançaram o primeiro álbum autoral, The Edge of Eden, em que debatem a condição humana e jogos de poder.