É a segunda prisão por estupro virtual do país; investigação partiu de Brasília. Segundo delegada, ele ironizou policiais ao ser detido: ‘Demoraram, hein’.
A operação de captura do suspeito batizada de “Apate”, que significa “o deus do engano”, ocorreu na última quarta-feira (6) e foi realizada pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam) do DF após dois meses e meio de investigação. O nome dele não foi divulgado pela polícia porque o caso está em segredo de Justiça.
O jovem já está na carceragem da sede da polícia do DF e também é suspeito de cometer estupro virtual. Esta é a segunda prisão por este tipo de crime no país. A primeira foi no mês passado, no Piauí. A prisão temporária tem validade de 30 dias e até lá, a polícia espera que mais vítimas o denunciem para que ele fique preso preventivamente.
‘Modus operandi’
Segundo as investigações, ele atraía as vítimas por meio de sites de relacionamento, se passando por amiga e por alguém de idade próxima. Após conseguir a confiança dela, pedia para que ela enviasse fotos íntimas sob a justificativa de acabar com o “tédio”.
De posse do material, ele então passava a extorqui-la e pedia de R$ 300 a R$ 1,5 mil para que as imagens não fossem divulgadas nas redes sociais e chegassem até parentes e amigos das vítimas.
O jovem é considerado um hacker pela polícia. Para não deixar vestígios, ele também lavava o dinheiro por meio de moedas virtuais. A polícia ainda investiga se há participação de terceiros no lucro com esse tipo de crime.
A fim de evitar ser localizado, o suspeito direcionou os domínios do computador para o exterior. Graças a um aplicativo, ele comprou um número de celular e fazia contato com as vítimas por meio desse número.
Com a apuração dos policiais da seção de crimes virtuais da Deam e até com ajuda de investigadores internacionais, foi possível descobrir que o hacker estava utilizando um computador do Brasil para mandar as mensagens com ameaças para as vítimas.
Os policiais também analisam o computador do suspeito. Por enquanto, já foi possível encontrar ameaças.
“Quanto mais cedo você pagar, mais cedo você se livra de mim”, disse ele a uma das vítimas. “Eu estou sendo uma pessoa compreensiva e paciente. Se você não valer a pena, eu irei te perseguir por algum tempo, em contrapartida.”
Para outra vítima, o mesmo tom de intimidação: “Eu tenho salvo seus amigos do face, suas fotos do insta, suas fotos do face… inclusive com seus avós. Eu quero que você seja minha P(…) particular ou eu vou vazar suas fotos na net. Eu salvei tudo que você mandou”.
‘Vocês demoraram, heim!’
Mesmo após as vítimas mandarem vídeos, fotos e dinheiro, muitas vezes ele queria mais. Ele chegou a pedir para que as vítimas introduzissem objetos e colocassem pregadores nos seios e várias outras situações.
“O alvo dele era explorar as mulheres. Ele disse que se deleitava com esse humilhação. Tinha total desrespeito a condição feminina e se orgulhava disso”, explicou a delegada-chefe da Deam, Sandra Gomes, que conduziu as investigações.
Ele atuava desde 2012, porém, no início era por diversão. De dois anos para cá é que teriam começado as extorsões. “Quando a gente chegou na casa dele, ele disse sem nenhum remorso: ‘Vocês demoraram, heim!’ Demonstrou muita vaidade com o modo dele agir”, explicou a delegada.
Estupro virtual
O suspeito vai responder por estupro virtual em razão do constrangimento e das ameaças feitas para que as vítimas tirassem a roupa na frente de uma webcam.
No mês passado, houve a primeira prisão de um homem por este tipo de crime. O homem teria feito imagens da vítima no momento em que ela dormia e depois ameaçado divulgá-las nas redes sociais.
Segundo a decisão da Vara Criminal do Guará, que determinou a prisão do estudante de psicologia, “os fatos narrados revelam a profunda gravidade dos crimes praticados, além do que as aludidas práticas criminosas evocam clamor e indignação no meio social”.
“Conforme bem consignou a ilustre delegada de polícia, os fatos demandam uma análise detidas de todos os arquivos já mencionados, assim como a identificação de quais deles pertencem às vítimas identificadas no Distrito Federal, sobretudo, aquelas menores de idade (…)”, disse a magistrada para embasar a decisão.
E destacou a importância de as vítimas denunciarem. “De igual maneira, a elucidação dos delitos citados anteriormente demandará o máximo de tempo de inquirição do autor e realização de reconhecimento das imagens por parte das vítimas já citadas, até mesmo para identificação de outras possíveis vítimas.”
Além de estupro virtual, ele vai responder ainda por extorsão e armazenagem de pornografia de menor de idade.