Herdada da Copa, sinalização não segue Plano Diretor de Sinalização e precisará ser adaptada. Especialistas criticam manutenção
Pelo Plano Piloto, uma situação curiosa chama a atenção dos brasilienses: em algumas regiões da cidade, surgem placas que destoam do Plano Diretor de Sinalização do Distrito Federal. Para piorar, concorrem lado a lado com placas de endereço tradicionais e reconhecidas internacionalmente. Em alguns casos, uma placa repete a informação da outra, isso a uma distância de poucos metros.
Segundo o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER), Henrique Luduvice, foram instalados 63 pórticos e semipórticos como parte do Programa Paz no Trânsito. “Apesar de ser lembrado pelas faixas de pedestre, esse programa também teve outras funções, entre elas, a sinalização”, afirmou o diretor.
Posteriormente, por meio de nota, a assessoria de imprensa do órgão afirmou que não há pórticos instalados na área tombada de Brasília, e que os semipórticos existentes ali são fruto do reaproveitamento das placas instaladas para a Copa do Mundo de 2014. Mas é estranho para o brasiliense ver duas placas em formatos diferentes darem a mesma informação uma próxima da outra.
A duplicidade chama atenção de arquitetos, preocupados com a inadequação da sinalização com o Plano Diretor de Sinalização, instituído por decreto em 1998. O projeto define os detalhes da sinalização do Plano Piloto, desde a tipografia até as cores e os materiais utilizados. “Toda sinalização urbana de Brasília segue um projeto que foi reconhecido pela ONU, premiado mundialmente”, explica Frederico Flósculo, professor de arquitetura na UnB. “É uma coisa muito séria, que não é simplesmente invenção de algum qualquer. O governo precisa respeitar”, pontua, acrescentando que o modelo de sinalização garante visibilidade e segurança ao motorista. Para ele, a adição de novas placas, com um padrão diferente, fere o projeto de comunicação visual da cidade.
Henrique Ludovice, do DER, defende que uma nova sinalização é necessária, devido às mudanças recentes na configuração do trânsito da cidade. “Hoje, carros mais altos, como os SUVs, dificultam a visualização das placas laterais”, justifica. O diretor acrescenta que os pórticos e semipórticos permitem ao motorista conseguir tomar decisões a certa distância sem gerar congestionamentos ou acidentes. O professor Flósculo discorda. “Esse é um argumento tolo. Essas placas tradicionais sempre foram visíveis. Foram pensadas para isso. São extraordinárias. Essa quebra de continuidade é uma coisa lamentável.”
No Eixão, próximo ao Setor Comercial Sul, a duplicidade é bastante evidente. No semáforo logo em frente, conversamos com quatro motoristas e nenhum sequer tinha notado a presença do semipórtico. Guilherme Álvares, 38 anos, olhando pra trás para checar se a placa aérea realmente existia, afirmou: “É um custo desnecessário manter essa placa aí se já tem a de baixo”. Cláudio dos Reis, 50 anos, que também afirmou não ter se atentado à sinalização de cima, acrescentou: “A placa de baixo é muito mais visível. Para quem está de carro, olhar para a placa de cima é até mais complicado”.
Porém Ludovice garante: o órgão possui grande consideração e respeito pela icônica sinalização de Brasília e não vai retirá-la, mas somente fazer adaptações na disposição e no posicionamento. “Onde houver conflito com a sinalização, será priorizada a placa tombada, mas sempre se preocupando com a segurança do motorista.”
Na opinião de Antonio Danilo Morais Barbosa, arquiteto e urbanista responsável pela coordenação do Plano Diretor de Sinalização do Distrito Federal, o correto é que, nas regiões centrais de Brasília, deva permanecer, sem modificações ou adições, a sinalização original. Contudo, o especialista assume que, nas pontas dos eixos, onde há um sistema de trânsito mais complexo, talvez seja necessária a adaptação da sinalização. Ressaltou ainda que o DER o tem consultado antes de fazer adaptações na sinalização. “Não se pretende substituir. O DER vai dar continuidade ao plano de sinalização e está preocupado com a sobreposição”, ressalta o professor. E ele garante: até a semana que vem, será realizada uma avaliação em todo Distrito Federal, analisando onde é necessário fazer adaptações. Barbosa defende que, em alguns casos, os pórticos precisarão ser retirados, ou serem adaptados para o Plano Diretor.
Por meio de nota, a assessoria do DER acrescenta que “não há data final para conclusão dos serviços, tendo em vista a complexidade e a quantidade de placas e semi-pórticos espalhados pela cidade. Em fase seguinte, serão substituídas ou implantadas novas placas, totens e sinalização de pedestres em toda a área tombada”.
Balizadores
Outro elemento do trânsito que vem se tornando evidente aos brasilienses são os balizadores, chamados popularmente de “palitos”, “curralizinhos” ou “pirulitos”. Adicionados aos poucos em diferentes rodovias, a ferramenta de sinalização direciona o trânsito em acessos e retornos. Estão presentes, por exemplo, na entrada do Guará 1, via EPTG, nos retornos da EPIA (entre o ParkShopping e o CasaPark), e no acesso da EPIG via EPIA.
A ferramenta divide a opinião dos motoristas. Enquanto o brasiliense João Dias, 40 anos, alega que atrapalha o trânsito e diz que “é o cúmulo do absurdo!”, Gabriel de Melo, morador do Gama, adota um tom mais ameno e demonstra uma opinião mais branda. Segundo ele, a ferramenta diminui o risco de acidentes e agiliza o trânsito. “Evita que os ‘espertinhos’ entrem na frente de todo mundo lá no fim do retorno.”
Sobre os balizadores, o diretor-geral do DER defende que a medida só foi tomada em pontos críticos de congestionamento. “É uma ferramenta de disciplinarização do tráfego”, explica.
Placas tombadas?
Por meio de nota, a assessoria de comunicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) respondeu que a sinalização é um elemento que integra o conjunto urbanístico de Brasília, embora não tenha tombamento específico. Na visão do órgão, a sinalização merece atenção e deve ser respeitada e mantida pelo governo e sociedade local. “Sem dúvida que é um patrimônio da cidade, à semelhança da vegetação, do Lago Paranoá e outros elementos do conjunto urbano que não têm tombamento específico do Iphan.”