Entre a cruz e a espada, a relação do governador Rodrigo Rollemberg (PSB) e o presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), vive de altos e baixos. Apadrinhado político do chefe do Executivo no início de sua trajetória, o parlamentar agora caminha para se tornar um dos adversários de Rollemberg na busca pela reeleição em 2018.
Atento a esse cenário, o governador tem voltado sua artilharia contra o Legislativo na intenção de atingir a imagem do ex-aliado. Enquanto isso, Joe continua discordando de projetos considerados prioritários pelo governo.
A rusga mais recente envolve a análise do texto original do Projeto de Lei Complementar n° 122/2017 – a reforma da Previdência. Publicamente, o governador responsabilizou a Câmara Legislativa por um eventual parcelamento de salários dos servidores públicos caso os distritais não aprovem mudanças no regime previdenciário do funcionalismo ligado ao GDF.Em vez de apoiar o PLC n° 122/2017, Joe Valle preferiu um substitutivo redigido por distritais, que não contemplava as principais reivindicações do Palácio do Buriti. Fontes palacianas afirmaram que a atitude foi considerada um sinal de que Joe busca se firmar, ainda que não admita publicamente, como candidato ao Palácio do Buriti.
O embate ocorre pouco tempo depois de o governador ter convidado, informalmente, o chefe do Legislativo para ser candidato a vice-governador na chapa que disputará a reeleição em 2018. Como justificativa para a recusa, o deputado disse que, se fosse concorrer ao lado do atual governador, não teria condições de trabalhar de forma independente.
O governador não recebeu bem as negativas — tanto envolvendo o PLC n° 122 quanto em relação à chapa para 2018. Em uma dupla represália, Rollemberg exonerou, da estrutura do GDF, 27 indicados do distrital Reginaldo Veras (PDT). O ato também serviu, na visão de pessoas próximas a Joe Valle e do PDT, para provocar o rompimento do governador com a legenda.
Presidência
Na relação entre Rollemberg e Joe, não foi apenas o governador que teve pedidos recusados pelo deputado. O presidente da CLDF também já ouviu, ao longo de sua carreira política, algumas negativas de Rollemberg. Na atual legislatura, nas duas vezes em que o deputado tentou se candidatar à presidência da Câmara Legislativa, o governador preferiu apoiar outros nomes.
Na primeira eleição para presidente da atual legislatura da CLDF, Joe acreditava que seria o candidato amparado pelo Palácio do Buriti. Mas Rollemberg decidiu apostar em Celina Leão (então do PDT e atualmente no PPS). Joe desistiu de tentar a vaga. Além de ter ficado chateado com Rollemberg, estendeu a mágoa ao senador Cristovam Buarque, igualmente apoiador de Celina e que, assim como a deputada, trocou o PDT pelo PPS.
A posição de Rollemberg se repetiu neste ano, quando a Casa elegeu o novo presidente. Recém- saído da supersecretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos do GDF, Joe se viu, mais uma vez, sem o apoio do governador. Rollemberg apostou em Agaciel Maia (PR). A votação foi acirrada, com empate em 12 a 12.
Joe se valeu dos votos a mais que teve em 2014 para desempatar a contenda e conquistar a vaga de chefe do Legislativo local. No cargo, tem o poder de colocar ou tirar projetos da pauta de votações — inclusive as propostas do Executivo.
Logo após ser eleito para o comando da Câmara Legislativa, Joe Valle assim definiu o governador do Distrito Federal: “Tem brilho nos olhos e capacidade de se empolgar com bons projetos, mas ele é centralizador e inseguro”.
Fonte: Suzano Almeida – Metrópoles