Rede de tratamento remove 83% da carga orgânica; outros 8,2% são coletados em fossas. Os 8,6% que restam sequer são coletados, e correspondem a 4,5 mil toneladas ao ano, diz agência.
Única unidade da Federação a tratar todo o esgoto que é coletado, o Distrito Federal ainda deixa 17% da população fora desse sistema. São milhares de pessoas que moram em regiões com fossas sépticas ou com esgoto a céu aberto. Os dados constam em um relatório divulgado esta semana pela Agência Nacional de Águas (ANA).
Segundo o relatório, 145,5 toneladas de carga orgânica são geradas, todos os dias, no DF. Dessas, 120,9 são coletadas e tratadas com a infraestrutura de gestão do esgoto. Outras 12 toneladas são coletadas em fossas individuais, e as 12,5 toneladas que sobram não passam por nenhum tipo de recepção.
Considerando esse índice de carga orgânica não coletada, um cálculo simples revela que o DF atira mais de 4,5 mil toneladas de esgoto a céu aberto – ou em fossas não declaradas – por ano. Segundo o superintendente de Operação e Tratamento de Esgotos da Caesb, Carlos Eduardo Borges Pereira, o problema maior está nos dados do governo, e não nas ruas.
“A maioria [dessas toneladas] é de fossas que as pessoas não declaram nas pesquisas. A maior parte do esgoto que a gente vê na rua é quando a fossa enche e vaza.”
A carga orgânica é considerada poluidora e inclui, dentre outros compostos, fezes e urina. O índice de carga orgânica é calculado por meio da “Demanda Bioquímica de Oxigênio” – a quantidade de oxigênio necessária para dissolver a matéria orgânica existente na água.
Acima da média
O relatório da ANA aponta que os índices de tratamento do esgoto no DF são positivos, e bastante superiores à média nacional. Enquanto a capital federal trata 83% desses resíduos, a média da região Centro-Oeste é de 48%, e do país, de 39%.
Ainda de acordo com o estudo, cerca de 26,7 toneladas de “carga remanescente” chegam aos recursos hídricos todos os dias. O termo se refere ao esgoto que não é tratado, somado ao resíduo das fossas e da carga tratada.
Hidrólogo e professor da UnB, Henrique Chaves explica que isso gera uma série de impactos ambientais.
“Isso gera o crescimento de algas cianofíceas, que são tóxicas, no Lago Paranoá. O ‘boom de algas’ causa doenças, verminoses e morte de peixes.”
Os Atlas de Esgotos e Despoluição de Bacias Hidrográficas, divulgados pela ANA, analisaram 5.570 municípios brasileiros quanto ao esgotamento sanitário e à disponibilidade de recursos hídricos. Não foram consideradas as áreas rurais do país.
A ANA estima que será necessário investir R$ 149,5 bilhões para garantir saneamento básico adequado a toda a população brasileira urbana, até 2035. Só no Distrito Federal, os investimentos precisam alcançar R$ 1,7 bilhão nesse período.
Sem atendimento
Os dados da própria Caesb apontam um número menor de pessoas no DF sem atendimento pela rede de esgoto: 15%. O superintendente da área afirmou que esse número pode ser explicado, por exemplo, pela construção de residências em áreas irregulares, de preservação ambiental ou distantes das 16 estações de tratamento que existem na capital.
“Os condomínios fora de áreas regulares estão longe dos centros de atendimento. Por exemplo, o Jardim Botânico está longe das estações do Plano Piloto e nessas situações as soluções de saneamento são mais demoradas”, afirma.
“São regiões que nasceram e cresceram de maneira descontrolada e desordenada. Por exemplo, Sol Nascente, parte de Vicente Pires, Arniqueiras, Sobradinho II.”
A Caesb diz que, nessas áreas, já existem projetos de rede de esgotamento aprovados ou já em andamento. Nos setores Pôr do Sol e Sol Nascente, por exemplo, dados da Codeplan de 2016 mostram que apenas 4,33% das casas contam com esgotamento sanitário via rede geral.
Nessas áreas, 56,17% dos lares utilizam fossa séptica, e 38,83%, fossa rudimentar. Há, ainda, 42 domicílios expostos ao esgoto a céu aberto (0,17%).
Segundo Pereira, não existe lançamento de esgoto bruto nos cursos d’água diretamente no DF. Ele diz que, por mais que haja vazamentos, as fossas individuais podem ser “bem geridas” para evitar o brotamento desses rejeitos.
“As fossas individuais ainda são uma solução. Precárias, mas são”, afirma.