Um dos relatos diz que alvo cobrava propina de empresas para combater piratas, mas também recebia de piratas para continuar circulando. Repasses ocorriam todas as semanas, aponta investigação.
O Ministério Público e a Polícia Civil do Distrito Federal realizaram a segunda fase da operação “Checklist” nesta quinta-feira (5) após depoimentos confirmarem a existência de um esquema cobrando pagamento de propina em troca de “vista grossa” nas inspeções de ônibus e micro-ônibus.
Os relatos indicam que os repasses ilícitos eram feitos todas as semanas, às quintas ou sextas. Ainda de acordo com as investigações, o grupo autorizava a circulação de veículos que não tinham a menor condição de trafegar.
O promotor Fábio Nascimento afirmou que o valor da propina variava bastante. Segundo ele, para não serem pegas nas possíveis blitze, as cooperativas chegavam a pagar R$ 25 a R$ 35 por carro, semanalmente. Na Rodoviária do Gama, onde funcionava o esquema, circulam cerca de 40 micro-ônibus, pertencentes a três cooperativas.
A situação configura, segundo o MP, os crimes de associação criminosa, corrupção ativa e passiva. Entenda aqui a operação desta quinta, que prendeu quatro pessoas.
Duas frentes
Pelo menos dois depoimentos mencionam a participação do fiscal da Secretaria de Mobilidade Pedro Jorge Oliveira Brasil, um dos presos nesta quinta. Ouvida na primeira fase, uma testemunha disse que Brasil agia em duas frentes.
“Ele recebe propina das cooperativas e das empresas de ônibus para combater a pirataria, assim como recebe propina dos piratas para liberá-los ao tráfego.”
A testemunha revelou ainda que aqueles que pagam propina são liberados da fiscalização, enquanto as ações de combate recaíam apenas nos que não participavam do esquema.
Outro depoimento afirma que ele é um dos responsáveis por ter começado o esquema de corrupção, atuando na rodoviária do Gama.
Interceptações
Ao pedir as prisões dos alvos à Justiça, o MP disse que foram realizadas escutas telefônicas entre 28 de agosto e 12 de setembro. Durante o período, os promotores afirmam que foi possível perceber que a propina buscava “proteger” os empresários corruptores. Também mostrou que os participantes do esquema chegavam a reclamar do valor cobrado.
“Os diálogos apontaram os sucessivos ajustes para o pagamento da propina, revelando fatos extremamente graves”, aponta o MP.