Unidade tem vagas que estão inativas desde 2014; secretaria reconhece que há macas quebradas, e que falta equipamentos e funcionários. Problema é recorrente na rede pública.
Levantamento feito mostra que o Hospital Regional do Gama tem o maior percentual de leitos de UTI desativados do Distrito Federal. Dos 20 leitos previstos, 8 estão inativos – o que corresponde a 40% do total. Os dados são da Secretaria de Saúde.
Segundo a pasta, esses espaços desativados estão “em manutenção”, mas não há prazo para que eles voltem a receber pacientes. A Secretaria de Saúde admitiu que, entre os motivos para a desativação, estão macas quebradas, equipamentos de oxigênio sem funcionamento e mangueiras obstruídas.
Além do maior número, o HRG também abriga os leitos de UTI “travados” há mais tempo em toda a rede pública do DF. De acordo com o governo, eles estão indisponíveis desde novembro de 2014, quando o Palácio do Buriti ainda era comandado por Agnelo Queiroz (PT).
Segundo um funcionário que preferiu não se identificar, são inúmeros os problemas que médicos e pacientes enfrentam no dia a dia do hospital. Além da falta de equipamentos hospitalares, há casos em que os pacientes não têm sequer roupas para usar após os procedimentos.
“A gente faz muitas coisas no improviso. Em relação à falta de leitos, por exemplo, muitas vezes temos que internar um paciente em uma outra enfermaria [do HRG]. Muitas vezes os pacientes acham que a culpa é do médico, mas ninguém lembra da responsabilidade do governo”, afirmou.
Em todo o DF
Considerando o total de leitos nos 11 hospitais da rede pública de saúde do DF – que oferecem juntos 363 leitos de UTI – , 79 estão bloqueados. O montante representa 21% da estrutura de tratamento intensivo público da capital federal.
Os problemas também atingem hospitais da rede privada que oferecem leitos de UTI pelo SUS, baseados em convênios. O Hospital São Mateus, do Cruzeiro, lidera o ranking negativo de bloqueios. Dos 13 leitos previstos em contrato, apenas 6 estão em condições de receber pacientes. Isso significa que mais da metade da estrutura está comprometida.
O diretor-presidente do Hospital São Mateus, Paulo Henrique Mota, lamentou que a casa de saúde esteja “a ponto de fechar”. “O orçamento [feito pela SES] precisa ser revisto para ter verba para que eu possa receber os pacientes. Como eu vou atender e como vou fazer o serviço se a secretaria não tem condição de pagar?”, desabafou Paulo.
Ele disse ainda que, de 2014 a 2016, a secretaria acumulou uma dívida de R$ 24 milhões com o hospital.
“Eu tenho ido na secretaria constantemente há três meses fazer um aditivo dentro da lei pedindo o orçamento, porque se não tiver orçamento, não tem como liquidar e me pagar. Isso piora a minha dívida.”
Em nota, a Secretaria de Saúde diz reconhecer que há dívida com o São Mateus, mas nega que os valores atinjam a cifra de R$ 24 milhões. “Os pagamentos estão sendo feitos à medida que há dotação orçamentária e respeitando a ordem cronológica dos processos”, diz a pasta.
Sindicato reage
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde (SindSaúde) diz que a categoria denuncia “há muito tempo a precariedade e a falta de investimentos na recuperação e abertura de leitos de UTI na SES”.
“É preciso usar os recursos recebidos de forma racional e otimizada, investindo em equipamentos, pessoal e insumos para reabrir os leitos de terapia intensiva do HRG, um dos hospitais mais importantes da rede que atende a população do Gama, Santa Maria e adjacências. Lembrando que as vagas de UTI são reguladas e atendem toda a rede, ou seja, recebem pacientes de todas as localidades”, diz a entidade.
Em nota, o governo respondeu que “a Secretaria de Saúde do DF não tem medido esforços para ampliar a quantidade de leitos no DF” e que a pasta está convocando profissionais aprovados no concurso público para reforçar os atendimentos nos hospitais da rede.