Grupo instrumental se apresenta no Clube de Choro nesta terça-feira (17/10)
O cavaquinho, instrumento da família dos cordofones originário do Minho, região norte de Portugal, chegou ao Brasil pelas mãos dos colonizadores lusitanos. Em meados do século 19 passou a ser tocado nos quintais do subúrbio do Rio de Janeiro — lado a lado com o violão e a flauta — , pelas formações originais do choro, considerado a primeira música urbana tipicamente brasileira.
Quem o popularizou nacionalmente foi Waldir Azevedo, seu maior solista, detentor do título de “rei do cavaquinho”, autor do clássico Brasileirinho, que morou em Brasília na década de 1970. Ele foi o principal responsável por difundir esse gênero musical na cidade, onde criou um conjunto regional, fez incontáveis apresentações e lançou discos.
Fundamental para qualquer grupo de choro e samba, o cavaquinho é ouvido, como instrumento base, e por vezes solo, em shows e rodas que ocorrem nos mais diversos pontos da capital —do Clube do Choro, no Eixo Monumental, ao Outro Calaf, no Setor Bancário Sul. Mas, há um lugar onde ele é o grande protagonista: a Vila Telebrasília. Ali, por iniciativa do músico e professor Dudu Oliveira, foi criada em 2010 a Orquestra de Cavaquinhos de Brasília, atração desta terça-feira (17/10) do projeto Prata da Casa, no Espaço Cultural do Choro.
A orquestra surgiu paralelamente a algo maior, o Projeto Sócio-Cultural Waldir Azevedo que, gratuitamente, oferece aulas de cavaquinho, violão, percussão, canto coral, musicalização infantil, arte circense, capoeira e reforço escolar, para pessoas com idade de 2 a 70 anos. É importante destacar que esses ensinamentos não são transmitidos em salas de aula convencionais, mas sim no quintal de Dudu Oliveira, com direto a lanche preparado e servido pela mulher dele, Thais Tosi, brasiliense a quem conheceu em Búzios.
Referência
Na criação do Waldir Azevedo, Dudu teve como referência Apanhei-te cavaquinho (nome de um choro do Ernesto Nazaré), projeto de características semelhantes, existente na Favela do Lixo, em Cabo Frio (RJ), onde o músico nasceu. “Eu me integrei àquele projeto, dirigido pelo mestre Ângelo Bodega, e voltado para crianças e adolescentes, aos 11 anos de idade. Cinco anos depois havia me tornado monitor”, lembra.
Durante os anos de 2003 a 2009, Dudu viveu entre Cabo Frio e o Rio. Já com uma boa formação musical, passou a tocar em grupos e rodas de samba em bares da Lapa, como Carioca da Gema, Semente, Rio Scenarium e na Praça XX, na região portuária. “No clube São Cristovão (Zona Norte), certa vez acompanhei, num show, o grande Bezerra da Silva”, conta.
A Brasília, Dudu e Taís chegaram em 2010. Apadrinhado pelo contrabaixista e cantor Daniel Júnior, passou a tocar no circuito noturno da cidade. Isso faz até hoje, pois sem patrocínio é responsável direto pela manutenção da orquestra e do projeto Waldir Azevedo. “Vivemos em constante sobressalto para levar o nosso sonho adiante, pois os recursos são escassos. No primeiro semestre tivemos a colaboração da Oi, já encerrada. Continuo tocando na noite e dando aulas em escolas particulares para manter os projetos. Agradecemos muito o apoio voluntário dos professores, que nada recebem como pagamento pelas aulas”.
Para ajudar a saldar as despesas, Thaís vende cachorro quente num carrinho, na Vila Telebrasília, e, aos domingos, promove feijoada com roda de samba em seu quintal, servida ao preço de R$ 20. “Temos que nos virar para que as coisas aconteçam, para que possamos atender, principalmente, às crianças e jovens daqui mesmo da Vila e vindos de algumas cidades-satélites e até do entorno da capital, em busca de conhecimento”, ressalta Dudu.
SERVIÇO
Orquestra de Cavaquinhos de Brasília
Show nesta terça (17/10), às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental, ao lado do Centro de Convenções Ulysses Guimarães). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.