Enquanto o governador Rodrigo Rollemberg fica cada vez mais isolado para a disputa da reeleição ao Palácio do Buriti, parlamentares participam das definições dos partidos para determinar candidaturas e coalizões. Tendência é de renovação na Câmara
Por Ana Viriato – Correio Braziliense
As construções pela candidatura ao Palácio do Buriti passam pela Câmara Legislativa. A Casa, que historicamente funciona como um termômetro da força do chefe do Executivo local, abriga potenciais candidatos a cargos majoritários, os quais participam das costuras políticas. A ruptura do PDT com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) é prova disso. Por não concordar com as propostas prioritárias enviadas pelo GDF ao Legislativo local e desejar um voo solo em 2018, a sigla desembarcou da base aliada. O mesmo pode acontecer com a Rede, uma das últimas grandes legendas a ficar ao lado do socialista. O partido do distrital e pré-candidato ao Senado Chico Leite discutirá, em novembro, a possibilidade de romper com o governo por meio da entrega de cargos.
Enquanto conversa sobre a chance de deixar a base aliada, a Rede discute as opções de alianças para as próximas eleições. A sigla mantém proximidade com o PDT e o PV — a afinidade é tanta que os três partidos integraram o mesmo bloco parlamentar na Câmara Legislativa. Pelas conversas preliminares, a aposta do grupo seria na candidatura de Joe Valle (PDT) ao Palácio do Buriti; nas de Reginaldo Veras (PDT) e Claudio Abrantes (sem partido) a distritais; e na de Chico Leite ao Senado. Atualmente, os quatro detém mandatos no Legislativo local.
Chico Leite defende uma postura de independência em relação ao Executivo local. “Temos de nos unir por causas e, não, por postos. Acredito que colabora muito mais quem tem espaço para criticar do que aqueles que apenas bajulam”, pontua o distrital. O ex-chefe de gabinete de Rollemberg e pré-candidato a deputado federal, Rômulo Neves, defende a ruptura total, com declaração de oposição. Em tom mais ameno, defendem a permanência no governo os correligionários Jane Vilas Boas, presidente do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), e André Lima, secretário de Meio Ambiente.
Além da Rede, é extensa a lista das legendas que podem romper com Rodrigo Rollemberg. Oficialmente, nenhuma sigla confirma aliança com o governador para 2018. Os chamados partidos nanicos da base aliada — PRB, PHS, Pros e Podemos — emplacaram quatro distritais na Câmara Legislativa em 2014: Julio Cesar, Lira, Telma Rufino e Rodrigo Delmasso, respectivamente. Agora, montaram uma frente cristã, com a participação do PSC, para consolidar as nominatas proporcionais e alcançar ainda mais representatividade na Casa (leia Na disputa).
Caso a coalizão seja expandida, o grupo não descarta o desmanche da aliança com o chefe do Palácio do Buriti. “Hoje, a nossa frente está se ampliando por conta de conversas adiantadas com o Solidariedade e o PPS. Se a possibilidade for concretizada, partiremos para a disputa de cargos majoritários”, pontuou o presidente do diretório Regional do PRB, Wanderley Tavares. Na Câmara Legislativa, o PPS é representado por Celina Leão e Raimundo Ribeiro; e o SD, por Sandra Faraj.
Presidente do diretório regional do PSB, Tiago Coelho afirma que o partido mantém como “prioridade máxima a reeleição de Rollemberg e acredita que possa reverter as perdas, além de somar alianças, com o diálogo”. “Respeitamos as decisões das siglas que deixaram o governo. Ainda assim, há tempo para a discussão”, destacou.
Fora da Câmara Legislativa, uma coalizão de centro-direita integrada por 10 partidos prepara uma chapa própria para disputar cargos majoritários com nomes de expressão, como o dos deputados federais Izalci Lucas (PSDB) e Alberto Fraga (DEM), do ex-distrital Alírio Neto (PTB) e do ex-secretário de Saúde Jofran Frejat (PR). PSDB, PTB e PR angariam, no total, quatro parlamentares no Legislativo local. A tendência é de que a tribuna da Casa seja usada como palanque.
Toda legislatura é a mesma coisa. Pipocam denúncias graves envolvendo distritais. Como tem acontecido desde a criação da Câmara Legislativa, nos últimos meses, vários deputados estão sendo acionados pelo Ministério Público para um ajuste com a Justiça. Dessa vez, há acusações de corrupção, venda de voto, lavagem de dinheiro, compra de diploma, uso indevido da verba indenizatória… E por aí vai.
Não há, no entanto, disposição de fazer uma apuração por quebra de decoro parlamentar. Representações têm sido arquivadas antes de serem esmiuçadas. A justificativa tem sido: “vamos aguardar a justiça”. Mas o Judiciário tem seus prazos, longos. Não se trata de fazer uma avaliação sumária, com base apenas na opinião pública. Mas abrir processo, analisar a situação, ouvir depoimentos e dar um veredicto do ponto de vista do decoro, o que é bem diferente da esfera penal ou da improbidade administrativa. Se for o caso, absolver, o que também pode ser louvável, se justo. Mas não deixar de avaliar.
Os distritais seguem seus caminhos em busca de novos mandatos na Câmara Legislativa ou à procura de um upgrade político, num trampolim para o Congresso Nacional ou para algum cargo majoritário. Serão julgados pelos eleitores do Distrito Federal. Depois do impeachment de Dilma Rousseff e das denúncias contra o presidente Michel Temer, entre várias operações, prisões, delações e malas de dinheiro, o eleitor parece cansado de tantas evidências de desvios de recursos. O efeito prático tem sido uma imensa rejeição da classe política, que atinge até mesmo quem nunca se envolveu em corrupção.
O desgaste não é novidade da atual legislatura. Mas essa será a primeira eleição no DF pós-Lava-Jato. Esse é um campo fértil para renovações. Mas só o tempo dirá se o eleitor será implacável ou não.