Mulher se apresentava como funcionária da Câmara e oferecia oportunidades até no governo federal. Investigação aponta que ela lucrou R$ 100 mil em dez meses; carta achada na casa dela indica intenção de fugir, diz polícia.
A Polícia Civil prendeu uma golpista que fez mais de cem vítimas em Brasília “vendendo” vagas de emprego, inclusive no governo federal. Os interessados deveriam fazer um depósito que variava entre R$ 200 e R$ 1,5 mil antes da “contratação”. As investigações apontam que a suspeita, de 49 anos, lucrou R$ 100 mil em dez meses e que pretendia fugir.
A mulher se apresentava às vítimas como funcionária da Câmara dos Deputados e oferecia vagas em vários órgãos federais, sempre em cargos que tivessem a ver com o perfil da vítima. Tudo era combinado por meio de conversas de áudio no WhatsApp.
“Vocês vão começar a trabalhar sem ser essa segunda na outra. O que que ia acontecer hoje? Ia passar os tíquetes e o vale-transporte pra quando todo mundo começar não precisar pegar dinheiro emprestado”, diz a golpista a uma vítima.
De acordo com a polícia, há pelo menos 60 boletins de ocorrência – em sete delegacias – denunciando a suspeita. Cumprindo mandados de prisão e de busca e apreensão na casa dela, equipes encontraram um computador, dezenas de comprovantes de depósitos, agendas com os nomes das vítimas e recibos, além de um passaporte e uma carta escrita à mão, destinada à mãe dela, com pedidos de desculpas e em tom de despedida.
“Os nossos policiais começaram a verificar se havia ocorrências semelhantes registradas em outras delegacias aqui do DF, ocasião em que nós encontramos uma grande soma de ocorrências como de vítimas”, disse o delegado Fernando Fernandes.
“Nós acreditamos que ela estava fazendo desse golpe, dessa modalidade criminosa, o seu meio de vida. Tanto é que ela é uma pessoa que não estava atualmente trabalhando, que mantinha uma vida até com certa ostentação – inclusive em redes sociais. Viajava e mantinha um padrão de vida razoavelmente alto.”
A história foi descoberta depois que uma mulher de 30 anos formada em recursos humanos caiu no golpe. “Eu faço bico de vez em quando de segurança e de brigadista. E é porque com essa crise, né, é meio complicado. Então a gente tem que se virar como pode”, disse, desempregada há dois anos.
A estelionatária ofereceu à vítima uma vaga de recepcionista, com início imediato. O acordo era que ela depositasse R$ 200 e, depois de “contratada”, repassasse mais R$ 200.
“Eu fiz uma transferência de imediato, porque ela falou que precisava dessa transferência e de uma cópia de todos os meus documentos para entregar no malote”, explica.
A vaga de emprego, porém, ficou só na promessa. “Eu achei que era um golpe porque eu comecei a marcar encontro com ela e todo encontro que eu marcava com ela, em cima da hora, ela mandava mensagem dizendo que não podia, que a mãe dela estava doente, que os filhos dela estavam doentes. Ela nunca apareceu. Eu marquei quatro encontros com ela e em nenhum dos quatro ela compareceu.”
“Como teve esse problema da minha mãe que botaram ela em coma induzido, [não pude ir]. Eu não tenho culpa, eu não sou Deus, eu não sou responsável por isso”, justifica a estelionatária, que afirma que a oferta de emprego não é golpe.
“Não é golpe, não, e, quem quiser o dinheiro de volta, eu devolvo o dinheiro, o dinheiro e os documentos. Eu saio daqui do hospital, vou na casa de cada um e devolvo o dinheiro e os documentos, tá? Eu não sou moleca, não, eu tenho minhas responsabilidades. Eu não posso fazer nada se aconteceu isso com minha mãe, não.”
O marceneiro Francisco Jeiro também foi vítima da estelionatária. “[Ela] ofereceu uma vaga de emprego de motorista no ministério. Eu falei ‘não, eu tenho que arrumar uma coisa que seja mais certa’. Então foi isso, né? Eu pago aluguel, tenho filhos. É uma sensação de desespero. É muito triste.”
Segundo a Polícia Civil, a mulher tem também duas passagens por Lei Maria da Penha, por já ter agredido a companheira. A corporação informou que, além de por estelionato, ela pode responder por associação criminosa caso fique comprovada a participação de outras duas pessoas que também estão sendo investigadas.