Cristóvão Bastos teve iniciação precoce na carreira musical. Aos 13 anos, tocava acordeon em conjuntos de baile, no subúrbio do Rio de Janeiro. Adolescente, já como pianista, se apresentava na boate La Cumparcita, em Cascadura. Mas foi em 1972 que a MPB começou a contar com o instrumentista e arranjador, depois que Paulinho da Viola o convidou para acompanhá-lo num show na Flag, casa noturna de Copacabana,
Aos 71 anos, Cristóvão que faz show quinta (26) e sexta (27), às 22h, no Feitiço Mineiro, é visto como um mestre, em meio a tantos e bons instrumentistas da cena musical brasileira. O reconhecimento do compositor veio após ele criar, em parceria com Aldir Blanc, o clássico Resposta ao tempo, que ganhou interpretação comovente de Nana Caymmi. A canção fez parte da trilha da série Hilda Furacão e, depois, de um CD da cantora – ambos tiveram expressiva vendagem.
Outro grande momento de Cristóvão como melodista é em Todo sentimento, que recebeu letra de Chico Buarque de Holanda. O pianista conta como se tornou parceiro de Chico: “Eu ia acompanhar Miúcha num show e, no ensaio, ela me perguntou se eu tinha alguma música nova. Então, fui ao piano e toquei o tema que viria a ser Todo sentimento. Entusiasmada com a melodia, ela a mostrou para o Chico, que colocou letra, deu o nome e gravou no CD Francisco, lançado em 1987”.
Sobre Tua cantiga, a nova parceria com Chico Buarque, ouvida na abertura do repertório de Caravanas, Cristovão revela que compôs a melodia há 12 anos e guardou. “A história meio que se repetiu. Inicialmente, mostrei para Miúcha, que a fez chegar ao irmão, em 2016. A letra, segundo soube, ele fez em uma semana”. Quanto à polêmica relacionada com verso da letra, acusado machista, o músico acredita que já foi superada. “Chico, um artista genial, é patrulhado, por quem tem um posicionamento político contrário ao dele. Mas a tal polêmica já passou e canção vai permanecer, pela qualidade que tem”.
Discografia
Em 45 anos de carreira, Cristóvão tem trabalhado com os maiores nomes da música popular brasileira — de Ângela Maria a Edu Lobo. “Já toquei e gravei com meia MPB. Comecei com Paulinho da Viola e depois acompanhei, entre tantos outros, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Nana Caymmi, Miúcha. Mas é com o Edu que mais tenho me apresentado”, constata.
Da discografia do pianista constam quatro títulos: Bons encontros, com o violonista Marco Pereira, de 1992; Antônio Carlos Jobim — Letra e Música — Leny Andrade e Cristóvão Bastos (1995), Avenida Brasil (1996) e Domingo na geral (2002). “O Avenida Brasil é meu único dico solo, com repertório quase todo autoral. Já criei também trilhas para cinema, teatro e televisão e arranjos para incontáveis produções fonográficas”, lista.
Na volta a Brasília, onde já esteve várias vezes — , inclusive para participar de projetos do Clube do Choro — , Cristovão Bastos faz o show de encerramento da programação comemorativa dos 28 anos do Feitiço Mineiro, quarta e quinta , às 22h. Ele tem a seu lado no palco Márcia Tauil, cantora mineira radicada na cidade. Há, ainda, a participação de Clara Telles e Nathália Lima.
Um total de 16 músicas foi reunido no repertório, entre as quais Carinhoso (Pixinguinha), Na Baixa do Sapateiro (Ary Barroso), Vatapá (Dorival Caymmi), Eu te amo (Tom Jobim e Chico Buarque), Nasci para bailar (João Donato e Paulo André Barata), Beatriz (Edu Lobo e Chico Buarque) Raios de Luz (Cristovão Bastos e Abel Silva); além, obviamente, das já citadas Resposta ao tempo, Todo sentimento e Tua cantiga.
Cristovão Bastos e Márcia Tauil
Show do pianista carioca e da cantora mineira quinta e sexta-feira, às 22h, com a participação de Clara Telles e Nathália Lima, no Feitiço Mineiro (306 Norte). Couvert artístico R$30. Classificação indicativa livre. Informações e reserva de mesa pelo telefone 3271-3032 e 3340-8868.