Passar em certames públicos e em faculdades federais pela porta dos fundos custava caro para quem aceitava fazer parte do esquema. Policiais que investigam a Máfia dos Concursos no Distrito Federal localizaram diversos comprovantes de transferências bancárias. Os valores, referentes à venda de veículos e de casas, foram encontrados em contas-correntes dos líderes da organização criminosa. Em uma análise preliminar, os investigadores identificaram recibos que variavam de R$ 100 mil a R$ 160 mil.
A documentação apreendida na segunda fase da Operação Panoptes ainda passará por análise. A intenção é saber a extensão dos delitos praticados pelo grupo. Segundo agentes da Divisão Especial de Repressão ao Crime Organizado (Deco), os integrantes da quadrilha diluíam o dinheiro recebido dos aspirantes a cargos públicos em diversas movimentações bancárias, uma estratégia para não levantar suspeitas.
Há diversos casos que explicam o enriquecimento das principais lideranças do grupo. A Polícia Civil de Goiás deflagrou a Panoptes em parceria com a Deco e descobriu que uma mulher ofereceu sua casa, no valor de R$ 800 mil, em troca de duas vagas.
Ela queria ingressar de forma fraudulenta nos quadros de delegado da corporação do Estado, além de aprovar a filha no vestibular de medicina da Universidade Federal de Goiás por meio do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Chamada para explicar a negociata, a mulher se reservou ao direito de ficar em silêncio.
Para o concurso de delegado, a organização criminosa teria recebido ajuda de Ricardo Silva do Nascimento, à época servidor da Fundação Universidade de Brasília e cedido ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe). Ele foi flagrado por câmeras vasculhando o cofre de segurança da instituição em busca de cadernos de provas.
Os membros da organização criminosa não tinham o menor pudor em oferecer facilidades. “Existiam várias formas de atuação. Cola por meio de ponto eletrônico, celulares escondidos no banheiro e gabaritos trocados. O ponto eletrônico era um dos mais baratos. O pagamento era adiantado e, depois, os candidatos faziam um empréstimo consignado para quitar a dívida”, detalhou o delegado da Deco Maurílio Coelho.
Ação em Goiás e no DF
A operação em Goiás, chamada Porta Fechada, foi deflagrada no mesmo instante em que a Deco, da Polícia Civil do Distrito Federal, lançava uma nova fase da Panoptes, na segunda-feira (30/10). Ambas têm a intenção de desarticular grupos ligados à Máfia dos Concursos.
A primeira fase da Operação Panoptes na capital do país ocorreu em 21 de agosto deste ano. Na ocasião, foram cumpridos mandados de prisão preventiva contra Helio Garcia Ortiz, o filho dele, Bruno de Castro Garcia Ortiz, Johann Gutemberg dos Santos e Rafael Rodrigues da Silva Matias.
Helio é apontado como chefe da organização criminosa. Bruno agia de forma operacional; Rafael era seu braço direito; e Johann facilitava o esquema fornecendo graduação e pós a quem precisasse e pagasse bem.
Helio Ortiz já é conhecido pela polícia, pois foi preso há 11 anos por cometer crimes semelhantes. Ele foi detido em sua casa, no Guará. Os mandados foram expedidos pela Vara Criminal de Águas Claras.