Prática comum entre os deputados, o líder do governo tem aliados em pelo menos cinco administrações, no Procon e na Sejus
A velha prática de trocar apoio político por cargos dentro da estrutura pública se mantém latente no Governo do Distrito Federal. Apesar da distribuição de funções ter se tornado objeto comum de barganha, o líder do governo na Câmara Legislativa (CLDF), deputado distrital Agaciel Maia (PR), parece ser mais bem compensado pela lealdade ao Executivo. Além de conseguir emplacar um jogador de futebol, um dono de açougue, um proprietário de estacionamento e uma vendedora de produtos de beleza na Secretaria de Justiça e Cidadania, conforme mostrou, ele reúne, ainda, pelo menos 350 cargos em outros órgãos do Executivo local.
Os aliados do líder do governo na CLDF estão nas administrações de Planaltina, do Sudoeste e Octogonal e do Cruzeiro, onde Maia mantém cerca de 85 cargos de confiança. No Instituto de Defesa do Consumidor (Procon), na Sejus e na liderança da Câmara Legislativa, Agaciel conta com mais 260 pessoas. O político também conseguiu emplacar indicações em uma pequena parte dos comissionados nas administrações de Taguatinga e do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA).
Relação pouco saudável para as contas públicas e para a democracia, segundo especialistas . “Infelizmente, é uma prática em todo o país. As pessoas entram em um cargo público com zero preparação técnica ou totalmente fora da área de atuação delas. Muitos são apenas cabos eleitorais”, afirmou o professor emérito do Instituto de Ciências Políticas da Universidade de Brasília (UnB) David Fleischer.
Para ele, somente a aprovação de uma lei que restringisse as contratações exclusivamente a servidores concursados resolveria o problema. “É difícil, pois quem vai votar a lei? As mesmas pessoas que são beneficiadas com a atual política. Elas vão tentar continuar a colocar cabos eleitorais em ‘carguinhos’. Isso é um prejuízo para os cofres do governo e ainda sobrecarrega quem, de fato, trabalha”, lamentou o professor.
Articulação
O cientista político Aurélio Maduro defendeu que, apesar de ser uma prática ultrapassada, esse tipo de indicação política pode ser reconhecido como espécie de compensação dada por Rollemberg a Agaciel Maia, pelo trabalho realizado na Câmara Legislativa do Distrito Federal.
A Câmara é fragmentada, com lideranças que se perderam, e Agaciel assumiu um protagonismo político. Não significa que isso é bom, mas ele tem cumprido um papel importante ao aprovar medidas de importância para o governo“
Maduro sustenta ainda que, apesar de demonstrar força política, o resultado prático para a população é comprometido, pois os cargos comissionados não têm compromisso com as políticas públicas da gestão. “As coisas não têm continuidade quando não há estabilidade e confiança de prosseguimento. Com as constantes mudanças de gestores e servidores, naturalmente, trabalhos são deixados de lado, e tudo tende a ter um recomeço”, avalia o especialista.
Procurado, o deputado distrital não atendeu as ligações da reportagem, por estar em viagem ao interior do Rio Grande do Norte.
Qualificação
Em Reportagem publicada pelo portal Metrópoles nessa terça-feira (16/1) mostrou que o líder do governo na CLDF indicou para a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) um ex-jogador da seleção brasileira de futebol. Josimar Higino disputou a Copa do Mundo de 1986 e foi lotado na Sejus como assessor especial de gabinete. Ocupa um cargo em comissão DFA-16, cujo salário é de R$ 3.554,63. A nomeação do ex-futebolista foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal (DODF) em 8 de dezembro do ano passado.
A indicação dele pelo líder do governo é política, campo em que o ex-atleta tentou se aventurar em 2014, quando se lançou a deputado estadual por Roraima, com o nome de guerra “Josimar da Seleção”. Nas redes socais, o ex-craque demonstra intimidade com seu padrinho no Distrito Federal e exibe fotos em peladas ao lado de Agaciel Maia.
Assim como Josimar, Agaciel também se tornou um personagem conhecido pela nação. No caso do deputado, pela bola-fora no escândalo dos atos secretos. Ele foi acusado de, entre 1995 e 2009, ter mantido sob sigilo despachos administrativos do Senado Federal, a fim de favorecer servidores e atender a interesses políticos, como encobrir casos de nepotismo e nomear apadrinhados de políticos.
Além disso, o distrital convocou para a Secretaria de Justiça dono de açougue, sócio de estacionamento, vendedora de produtos de beleza e proprietária de empresa de câmeras de monitoramento – pessoas que estão entre os escalados para a equipe de formulação das políticas públicas da pasta. Eles integram a lista de 86 nomeados para diversos cargos na secretaria em 8 de dezembro de 2017.
Fonte: Manoela Alcântara/ Metropóles