Os transtornos provocados devido a problemas no metrô, como o ocorrido nesta quarta-feira (28/2) em Águas Claras, têm se tornado cada vez mais frequentes. No ano passado, os 150 mil brasilienses que usam o sistema diariamente enfrentaram média de uma falha a cada cinco dias.
Em 2017, a Companhia do Metropolitano registrou 73 falhas. O número é maior do que o computado em 2016 (56) e em 2015 (48). Em 2018, contando com a desta quarta, são oito. Nesta manhã, moradores de Águas Claras ficaram assustados com o forte barulho causado por uma composição do metrô que saiu dos trilhos na chegada à Estação Arniqueiras, sentido Plano Piloto.
“O piloto retirou os passageiros na estação de Águas Claras. Porém, não conseguiu parar na zona de manobras porque os freios falharam novamente”, informou Carlos Alexandre da Cunha, diretor do Departamento de Operação e Manutenção do Metrô-DF. Por isso, “a composição teria avançado sobre o para-choque que delimita a área e os vagões saíram dos trilhos”, completou.
Diante do problema, o sistema está parado entre as estações Arniqueiras e Águas Claras. Os técnicos trabalham para remover as composições que descarrilaram. Enquanto isso, a fim de diminuir os transtornos na volta para casa, o Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF) liberou faixas exclusivas de ônibus ate as 23h59 desta quarta.
No ano em que constatou mais falhas, a Companhia do Metropolitano do DF recebeu menos recursos para manutenção de trens. Em 2017, foram destinados R$ 17 milhões para este fim. Em 2015 e 2016, esses números ficaram em R$ 28 milhões e R$ 19 milhões, respectivamente. A previsão de orçamento para 2018 é de R$ 19 milhões.
As falhas verificadas com frequência pelos usuários podem ser classificadas como internas — nos trens, vias, energia e sinalização — e externas, como invasão de via, veículo que caiu nos trilhos, falta de alimentação da Companhia Energética de Brasília (CEB) e queda de cabo de energia. Os relatórios dos problemas constatados, porém, não são repassados ao GDF. Conforme informação da estatal, por “serem extremamente técnicos”.
O Metrô esclareceu que as 73 ocorrências registradas em 2017 são os chamados incidentes notáveis, com paralisação de mais de 20 minutos no sistema e não são todas relacionadas a problemas nos trens. Este ano, porém, foram registradas oito falhas técnicas, ou metade do ano passado.
Usuários sentem na pele
A babá Luzemária Rodrigues faz uso do sistema há pelo menos cinco anos. “Antes pegava três conduções para ir trabalhar. Com o metrô, ficou bem mais prático. Mas já tive que descer algumas vezes do trem por problemas técnicos”, pontuou.
Kalline de Andrade, 20, é estudante e também justifica o uso do veículo pela agilidade, que nem sempre ocorre. “Já tive de descer três ou quatro vezes por problemas nos trens. O transtorno que isso causa é muito grande”, argumenta.
Outra reclamação recorrente é a lotação dos trens. “Estão sempre muito cheios. Geralmente só consigo entrar no segundo ou terceiro que passa pela estação”, reclama o estudante Wesley Alves, 18.
Atualmente, o Metrô-DF tem uma malha de 42.38km e opera com 24 veículos nos horários de pico. A Companhia possui um total de 32 trens na frota, mas, segundo alega em nota, é necessário deixar alguns na “reserva”, para o caso de ocorrer problemas nos que estão em circulação.
Metrô-DF se defende
Conforme informações da Companhia do Metropolitano do DF, estão em andamento a aquisição de peças e revitalização de subsistemas para os trens mais antigos, além da implantação de melhorias nos processos de gestão das atividades de manutenção.
Como a fabricante dos trens mais antigos é a mesma que produzia a frota de São Paulo, algumas peças foram adquiridas junto ao metrô paulista. Em 26 de dezembro de 2017, foram comprados 205 itens usados no valor de R$ 4,1 milhões. De acordo com o Metrô-DF, os novos teriam valor 80% maior.
As peças serão utilizadas nos 20 carros da chamada Frota 1000, incorporada ao sistema na década de 1990. A companhia prevê, ainda, que os veículos quebrados poderão voltar aos trilhos quando a manutenção contar com as peças.
Com relação às falhas técnicas, responsáveis pelo Metrô-DF informaram existir o Índice de Regularidade, cujo objetivo é fazer a relação entre viagens programadas e realizadas. Acrescentaram ainda que, desde 2015, 97% das viagens iniciadas chegam ao destino final.
Expansão
Mesmo diante de falhas constantes, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) anunciou recentemente que obras de expansão do metrô do Distrito Federal deverão ter início até o fim do ano. Ao todo, o DF deverá receber R$ 315,5 milhões do governo federal para ampliar e modernizar o sistema. Deste montante, R$ 186,5 milhões irão para a construção de mais duas estações em Samambaia e R$ 129 milhões para promover melhorias na Linha 1. O restante, R$ 17,7 milhões, será remetido à obra do viaduto próximo ao Parque da Cidade.
SindMetrô se posiciona
A diretora de Comunicação e Mobilização do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Metroviários do DF (SindMetrô-DF), Renata Campos Strafacci, diz que as falhas técnicas têm se tornado cada vez mais frequentes devido ao sucateamento da frota. “Trens são consertados e, pouco tempo depois, apresentam os mesmos problemas. É algo constante”, afirma.
No que se refere à aquisição de peças usadas junto ao metrô de São Paulo, o Sindicato questiona a prática. “É totalmente diferente uma peça nova de uma usada. Elas apresentam desgaste e em pouco tempo podem gerar novos problemas nos trens”, avalia.
Por fim, Renata Campos acredita que, antes de qualquer projeto de expansão, é preciso estudar a frota e fornecer estrutura adequada para tal. “Não é só expandir. É preciso realizar a melhoria das vias, quantitativo de funcionários para comportar a demanda, oferecer o mínimo de estrutura para que isso ocorra da melhor forma possível e o usuário tenha um serviço de qualidade”, defende a diretora.
Fonte: Metrópoles