Após tentar se lançar como candidato a governador, o presidente da Câmara Legislativa recorre ao presidente do PDT para disputar uma vaga no Congresso. Uma das barreiras é a resistência de correligionários à aliança com partidos de centro-direita
Lançado pré-candidato ao Palácio do Buriti no último mês, o presidente da Câmara Legislativa, Joe Valle (PDT), tenta conquistar, hoje, a autorização do partido para disputar o Senado na chapa encabeçada pelo ex-secretário de Saúde do DF Jofran Frejat (PR). A possibilidade será discutida em uma reunião com o comandante nacional pedetista, Carlos Lupi.
Desde que oficializou a pretensão pelo Senado, Joe enfrenta a resistência partidária quanto à aproximação com as siglas da coalizão de Frejat — DEM, MDB, PP e Avante —, as quais pertencem a um campo político antagônico ao do PDT. Seria difícil explicar a aliança ao eleitorado. Além disso, os correligionários preocupam-se com a construção de um palanque para o presidenciável Ciro Gomes.
De olho nessas condições, Lupi desembarca na capital com a esperança de convencer o distrital a se manter na disputa pelo GDF. “O que Brasília estava precisando, o mais natural e legítimo, seria a candidatura de Joe a governador. Mas tenho de ouvir o que ele quer”, ponderou o presidente do PDT. Apesar disso, aliados do distrital apostam que ele receberá carta branca para integrar a nova chapa.
Caso garanta o aval, o próximo passo do parlamentar será a negociação com os integrantes da coalizão de Frejat. No grupo político, os cargos majoritários estão pré-distribuídos. As duas cadeiras que garantem o mandato de oito anos foram prometidas ao empresário Paulo Octávio (PP) e ao deputado federal Alberto Fraga (DEM), conforme acordo inicial.
A pessoas próximas, Joe afirmou ter a garantia do espaço majoritário. Duas possibilidades distintas poderiam abrir espaço. O recuo de Fraga, que disputaria a reeleição, após episódios que deterioram sua imagem, ou a desistência de Paulo Octávio, por conta do receio da impugnação da candidatura às vésperas das eleições.
“Candidaturas firmes”
Frejat garante que Joe será bem recebido. Entretanto, ressaltou a necessidade de negociações. “Tenho uma característica importante: a palavra. Vimos, em vários momentos, pessoas que queriam disputar e, depois, desistiram. Mas, se tudo se mantiver, temos de tentar outro entendimento com o Joe. O que não posso é alijar meus companheiros”, argumentou o ex-secretário de Saúde.
Oficialmente, pré-candidatos ao Senado, Fraga e Paulo Octávio garantem que a composição está fechada. “Não sei onde é que Joe está enxergando uma vaga”, disse o deputado federal. E completou: “Ele tem um eleitor mais à esquerda, ao contrário do meu, de direita e conservador. Para mim, fica muito difícil falar numa coligação. Meu segundo voto pode até ir para o Joe, mas o dele não vem para mim”, analisou.
Paulo Octávio, por sua vez, afirmou que uma vaga seria aberta, apenas no caso de “uma mudança muito radical”. “Ele é super bem-vindo nessa coligação. Trata-se de uma pessoa que respeito e admiro muito. Mas, por ora, as candidaturas estão colocadas pelo PP e DEM. Acho que isso está bem adiantado”, disse.
Influência nacional
Ainda que a aproximação com Frejat seja avalizada, há a possibilidade de os planos serem frustrados à frente, com uma união entre pedetistas e socialistas na corrida presidencial. Em caso de acerto, a aliança respingaria no Distrito Federal. “As composições nacionais terão um reflexo muito grande nas estaduais. Se o PSB, eventualmente, apoiar a candidatura de Ciro Gomes, é claro que, naqueles estados onde o PSB tem governadores candidatos à reeleição, o natural será que o PDT os apoie”, lembrou o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), em entrevista, ontem, ao programa CB.Poder, uma parceria entre o Correio e a TV Brasília.
Presidente regional da sigla, Georges Michel chegou a participar de uma reunião, a convite do chefe do Buriti, para discutir o cenário. Depois do encontro, refutou qualquer possibilidade de aliança com Rollemberg — o partido deixou a base governista em outubro último. Nas costuras políticas, porém, vence a palavra final do comando nacional.